tag:blogger.com,1999:blog-86033594804704573322024-02-19T02:00:23.633-03:00Contos Fantásticos (Terror, Amor e Suspense) - Fernando MagaldiFERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.comBlogger20125tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-63984942093199935772016-05-01T14:26:00.000-03:002018-06-07T21:02:25.244-03:00O LIVRO DO ARREPENDIMENTO<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP1lIHIlhCuBXm9HcnJZ81aF779jY0OP-yYv5McUQje5kwTnCU0HYD7H7ZFAlpBLRJgIwEYOMqaEz_9vg3dGeKSX_vdhncC-X3wB3gZibHW1TCfF4zbOhEyFFk4eg4ycF3PGM2rrlXVL-I/s1600/a638b48331748ced0e1907e7289dae81.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP1lIHIlhCuBXm9HcnJZ81aF779jY0OP-yYv5McUQje5kwTnCU0HYD7H7ZFAlpBLRJgIwEYOMqaEz_9vg3dGeKSX_vdhncC-X3wB3gZibHW1TCfF4zbOhEyFFk4eg4ycF3PGM2rrlXVL-I/s400/a638b48331748ced0e1907e7289dae81.jpeg" width="400" /></a></span></div>
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Suavemente gotículas de água caíam sobre as delicadas pétalas daquelas rosas. Eram perfumadas e muito bem cuidadas pelas mãos carinhosas da Velha Senhora, que, neste momento, suspirava de prazer ao ver a felicidade de suas amigas vegetais, que estavam sempre prontas para receber o seu amor todos os dias em que o calor iluminado de cada manhã tocava-as com ternura. Uma amizade pura e simples incompreendida por muitos, mas sempre cultivada em seu coração.</div>
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<br /></div>
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Após alguns segundos de carinho, a Velha Senhora olha para o horizonte vindo da janela de seu quarto e suspira mais uma vez. Porém, agora seu suspiro era de saudade. Saudade de uma época pura e feliz que havia ficado no passado, mas que começava a retornar à sua memória como belas lembranças de felicidade e amor.</div>
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<br /></div>
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Apesar dos bons momentos vividos por ela, seus olhos enrugados e caídos demonstravam explicitamente as marcas causadas pelo sofrimento e pelo tempo. Mesmo assim, ela gostava de compartilhar com as pessoas que a visitava toda sua história de vida. Uma história onde o prazer carnal e todas as luxúrias que recebeu dominaram seu corpo e sua alma contra sua vontade, massacrando-a e jogando-a num poço de dores, lamentações e tristezas do qual nunca se libertou. Lembranças de um passado que ela não fazia questão de se lembrar, mas que guardava algumas sementes que germinavam de vez em quando no jardim de sua memória.</div>
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<br /></div>
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Os olhos verdes e esperançosos da Velha Senhora refletiam a luz do sol intensamente, que penetrava, sem pedir licença, através da suave cortina que decorava aquele ambiente silencioso.</div>
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<br /></div>
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Então, num piscar de olhos, tudo se apagou diante dela, demonstrando toda sua fragilidade. Sua respiração foi ficando cada vez mais ofegante, as mãos suadas, o corpo estremecido, uma sensação sufocante silenciou sua voz, até que um sussurro chegou aos seus tímpanos de forma inesperada, ao mesmo tempo em que seu corpo começou a se contorcer diante de violentas convulsões:</div>
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<br /></div>
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—Você está preparada?</div>
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<br /></div>
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Seus olhos começaram a se virar, dando espaço para o claro e branco globo ocular, ocultando sua íris e suas esperançosas pupilas verdes.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a voz continuou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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—Eu me lembro de tudo e não quero ficar sozinho vagando por aqui toda vez que você se sente feliz. Quero minha felicidade de volta.</div>
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<br /></div>
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Nesse instante os espasmos aumentam e um som horrível sai da boca da Velha Senhora. Era como se várias vozes estivessem participando ao mesmo tempo daquela conversa fúnebre.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Aaaaaaaaaaaaah! Deixe-me em paz, maldito! — gritaram as vozes vindas da boca da Velha Senhora — Você não faz parte deste mundo. Volte de onde veio.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a voz retrucou:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Seu desespero é inútil. Portanto, faça o que tem que ser feito e acabe com meu tormento.</div>
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<br /></div>
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Num último suspiro, a Velha Senhora gritou:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Não!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E tudo desapareceu no mesmo instante em que ela recuperou sua consciência.</div>
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<br /></div>
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O Sol estava ali. A janela estava ali. As rosas estavam ali. Mas a paz que esteve no coração daquela mulher por tantos anos desapareceu; e, a partir deste momento, todos os seus pesadelos voltaram a atormentá-la.</div>
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<br /></div>
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Com um olhar triste, a Velha Senhora decide sair daquela janela, daquele quarto e segue para a enorme e escura biblioteca do imenso casarão.</div>
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<br /></div>
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Uma luz fraca iluminava precariamente o cômodo sombrio enquanto um cheiro de poeira pairava pelo ar. O som do relógio-cuco ecoou alto diante de todo aquele silêncio. A respiração e os passos arrastados da Velha Senhora, amortecidos pelos chinelos de couro, demonstravam que aquela história de vida ainda não tinha chegado ao fim. Ela precisava fazer algo que a ajudasse a aliviar seu tormento. Que a fizesse esquecer. Mas, por mais que tentasse, não seria fácil, pois seu passado a condenava todos os dias. Então, sem se dar conta do que procurava naquele ambiente literário, ela tocou com suas mãos num grosso volume que se encontrava entre um vazo de flor e uma boneca de pano. Estava empoeirado, enrugado, continha algumas páginas soltas e outras que haviam sido comidas pelas traças. As teias de aranha que o envolvia decoravam o local onde estava apoiado. Isso atiçou sua curiosidade. E, como sua memória já não ajudava muito, decidiu lê-lo, pois não recordava do que se tratava.</div>
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<br /></div>
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Pegou lentamente o grosso volume em suas mãos e sentou-se no sofá, pois era mais confortável do que a cadeira de madeira que se encontrava diante da enorme mesa da biblioteca. Em seguida a Velha Senhora respirou profundamente e começou a folheá-lo. A cada página uma surpresa lhe era revelada. Encontrou assinaturas, fotos de antepassados, pensamentos de familiares, datas comemorativas e algumas passagens de sua infância que haviam lhe sido privadas. Eram histórias boas e más. Obviamente as más lhe chamaram mais a atenção devido aos detalhes tenebrosos que ela preferia não ter lido em vida.</div>
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<br /></div>
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Inesperadamente as folhas amareladas pelo tempo começaram a folhear-se violentamente. E novamente o terror tomou conta do olhar assustado da Velha Senhora. Eram movimentos violentos que, agora, começavam a balançar o sofá em que ela estava sentada. Então, seus olhos imediatamente lacrimejaram de medo.</div>
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<br /></div>
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Desesperadamente ela grita:</div>
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<br /></div>
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—Pare! Por favor! O quê você quer de mim?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E tudo silenciou.</div>
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<br /></div>
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Entre os poucos movimentos realizados naquele cômodo, foi possível perceber o instante em que uma poeira densa e escura projetou-se através da luz que entrava pelo vidro da janela, onde, novamente, apenas a respiração ofegante da Velha Senhora podia ser ouvida.</div>
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<br /></div>
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Diante de todas aquelas surpresas, uma folha do grosso volume virou-se entre seus dedos e mostrou-lhe umas anotações estranhas. Eram datas, números cruzados, ilustrações fúnebres, rabiscos e um longo texto que parecia querer puxá-la para o fundo de um abismo.</div>
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<br /></div>
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Sem resistir, a Velha Senhora “mergulhou” naquelas palavras e começou a ler atentamente.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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“27 de Agosto de 1666</div>
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<br /></div>
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Hoje é um dia especial. Cristina vai receber seu batismo e irá conhecer, finalmente, todos os prazeres que a vida irá lhe proporcionar. Vai se tornar pura e digna das forças que irá receber de Nosso Senhor. Nosso Mestre. E, depois disso, tudo será diferente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os preparativos começaram. Por isso precisamos nos apressar. O Mestre nos aguarda ansioso.”</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Assustada, a Velha Senhora pára de ler, pois Cristina era seu nome. E todas aquelas palavras estranhas, das quais ela nunca havia lido, começaram a tomar forma em sua mente como dolorosas lembranças.</div>
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<br /></div>
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Mesmo com medo, ela decidiu prosseguir com a leitura.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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“Todos os nossos parentes estarão presentes. Vai ser uma coisa linda da qual nunca esquecerei. Por isso, não vejo a hora de tudo começar.”</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Cristina, a Velha Senhora, parou de ler novamente, fechou os olhos e, baseado nas imagens, fotos, rabiscos e textos que viu naquele enorme volume, começou a imaginar, literalmente, os acontecimentos.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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—oo—</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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A cidade estava agitada naquele dia porque algo muito raro iria acontecer: a filha de um poderoso senhor da localidade estava sendo preparada minuciosamente para receber o batismo de fogo do Maligno. Algo que só acontecia de 100 em 100 anos naquela família, onde as filhas eram entregues como forma de oferenda para que o poder das gerações futuras permanecesse por mais um século.</div>
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<br /></div>
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Placas e cartazes foram espalhados nas portas das casas e no comércio local como um anúncio oficial e indispensável, tendo importância igual ou até superior aos anúncios do prefeito da cidade, demonstrando o quanto o poder e respeito por famílias como aquela eram comuns naquela época.</div>
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<br /></div>
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Diante de toda aquela euforia, um garotinho de quatro anos olha para o cartaz e reconhece a amiga. Ele freqüentava a casa dos pais dela devido o contato comercial que seu pai tinha com o de Cristina. Eram comerciantes e igualmente ambiciosos.</div>
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<br /></div>
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—Olha, mamãe! É a Cristina! — disse o garotinho empolgado.</div>
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<br /></div>
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Imediatamente a mãe puxou o braço do menino e disse firmemente:</div>
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<br /></div>
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—Não aponte o dedo, menino! Isso é falta de educação. Você não pode ficar gritando no meio da rua como um louco. É por isso que eu te educo todos os dias.</div>
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<br /></div>
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—Mas... é a Cristina! — continuou o menino, agora, mais decepcionado.</div>
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<br /></div>
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—Eu sei, filho! Mas precisamos ir embora rápido. O dia hoje não vai ser bom. Precisamos nos apressar.</div>
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<br /></div>
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Conformado, o menino diz:</div>
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<br /></div>
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—Tá bom, mãe!</div>
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<br /></div>
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Os dois se afastaram do cartaz e seguiram em direção à padaria. Estava na hora de sair mais uma fornada e a mãe precisava correr para não perder a chance de comprar pães quentinhos.</div>
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<br /></div>
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Atravessaram a rua apressadamente enquanto um vento forte elevou uma poeira vinda do chão de terra batida. Entraram pela porta da padaria e pararam diante da disputada fila.</div>
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<br /></div>
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Então, o menino disse:</div>
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<br /></div>
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—Mamãe, posso olhar os doces?</div>
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<br /></div>
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—Sim! Mas apenas olhar, porque já iremos embora.</div>
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<br /></div>
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—Tá bom, mãe!</div>
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<br /></div>
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E lá foi o garoto, mais uma vez, alimentar sua curiosidade.</div>
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<br /></div>
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Havia uma prateleira linda, toda de vidro, que acomodava deliciosos quindins. O menino aproximou-se. Estava com muita fome e maravilhado com aquelas delícias. Foi dando pequenos passos até chegar próximo ao vidro. Decidiu tocá-lo. Imediatamente um arrepio percorreu seu corpo e um olho vermelho se abriu na lateral de um dos quindins. O garoto assustou-se e pulou para trás. Coçou os olhos e abriu-os lentamente em seguida; e, para seu desespero, o olho assustador continuou ali, enraizado no quindim e encarando sua inocência.</div>
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<br /></div>
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—Gabriel, — disse a mãe ao menino — vamos embora!</div>
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<br /></div>
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O garoto virou-se para ela com olhar assustado. Não conseguia pronunciar uma palavra sequer que pudesse expressar seu terror. Suas pernas bambearam perante aquela situação inédita e sobrenatural em sua vida. Queria que tudo fosse apenas um sonho, mas a realidade não queria lhe abandonar. Em seguida, enquanto a mãe e o filho começaram a se afastar, mais olhos avermelhados e tenebrosos se abriram, vindos do interior dos outros quindins, ao mesmo tempo em que iam observando maliciosamente os passos daquela família.</div>
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<br /></div>
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(§:§)</div>
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<br /></div>
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Os minutos passaram rapidamente. Enquanto isso os pais de Cristina encontravam-se ajoelhados diante do pequeno altar situado em uma sala isolada da casa. Era um cômodo escuro e iluminado por muitas velas negras. Imagens de santos e demônios enfeitavam uma parte do altar, que possuía todos os tipos de objetos tenebrosos usados nos rituais sagrados em culto ao Maligno. Um cheiro muito forte impregnava o ambiente. O ar era pesado. As janelas nunca eram abertas e os móveis não recebiam faxina. Uma forma de manter a tradição e todas as regras necessárias para o sucesso do contato com os poderes do mal, que os beneficiaria materialmente em todas as gerações que seguissem estes ensinamentos.</div>
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<br /></div>
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Então, no momento central do culto, os pais de Cristina entraram em êxtase e seus corpos começaram a se contorcer violentamente. Vozes cavernosas dominaram o local causando um eco ensurdecedor. Em seguida os móveis se moveram de um lado para o outro, levantando os tapetes e arranhando o belo chão de madeira. O clima ficou pesado, e os pais de Cristina, completamente submissos, mantiveram seus corpos diante do altar, com uma respiração ofegante e os olhos virados para cima, os quais moveram-se violentamente de um lado para o outro como se quisessem buscar algo que os aliviasse da dor. Uma dor que não é deste mundo, mas da alma. Uma dor inexplicável para ser descrita; e, quando chegaram ao clímax, seus corpos se elevaram. Um vento negro saído do centro do altar envolveu-os enquanto os espasmos começaram a diminuir. Quando finalmente ficaram imóveis seus corpos foram lançados ao chão, estremecendo a madeira e ferindo suas cabeças de forma violenta, liberando, em seguida, um sangue quente e escuro que começou a escorrer de suas nucas. Então, minutos depois de toda aquela loucura, o altar silenciou. A densa e negra fumaça foi se dissipando até desaparecer por completo do cômodo escuro e sombrio. Quanto aos pais de Cristina, permaneceram desacordados por mais de uma hora.</div>
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<br /></div>
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Terminada toda a preparação para o ritual que aconteceria naquela noite, os dois levantaram-se lentamente e suspiraram aliviados. Em seguida, com seus corpos ainda esgotados e doloridos, aproximaram-se do altar e pegaram um cálice que se apresentou a eles de forma mágica e grotesca. Finalmente, dividiram o líquido alí contido em pausados goles, até consumir tudo. Olharam-se brevemente. Seus rostos possuíam uma expressão de terror. Olheiras profundas apareceram, manchas escuras marcaram parte da pele, seus cabelos endureceram e um cheiro fétido dominou seus corpos. Como o cheiro da morte. E eles sabiam que, naquela noite, haviam “morrido” para servir ao Mestre das Sombras. Então, quando a alegria e a tristeza dominaram suas mentes, olharam para o altar, com a esperança de nunca mais voltar, e saíram da sala, fechando a porta em seguida, deixando para trás um ritual sagrado e secreto, onde leigos nunca tinham acesso e ninguém se atrevia interromper.</div>
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<br /></div>
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Todos aqueles acontecimentos, por mais comuns que fossem naquela família, eram difíceis de ser absorvidos pelos empregados da casa, os quais eram descendentes de outras pessoas que trabalharam no velho casarão. Algo como uma conexão de fidelidade entre patrões e empregados, que mantinha muitos segredos profundos e inconfessáveis.</div>
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<br /></div>
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Mesmo com o passar dos anos a personalidade dos patrões nunca mudou. Eles gostavam de manter as luzes acesas, mas com pouca intensidade, pois acreditavam que era desnecessário “trazer o Sol” para o interior da residência. Preferiam sentir seus segredos, suas respirações, seus sentimentos, seus calafrios, suas conversas secretas, seus momentos de solidão e silêncio, e todas as outras coisas relacionadas ao dia-a-dia deles, envolvidos por uma penumbra pesada aos olhos daqueles que visitavam o casarão, mas comum aos seus moradores.</div>
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<br /></div>
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Cada detalhe da arquitetura, cada móvel, cada lustre, entre outras coisas, fazia parte de uma história que havia ficado distante, mas que continha todos os seus registros eternizados em um volumoso livro, o qual era preenchido sempre pelo patriarca da família de forma detalhada e minuciosamente dedicada. Este foi um dos ensinamentos passado verbalmente durante todas as gerações dos moradores daquele imóvel, onde eles acreditavam que ao relatar os acontecimentos iria aumentar a curiosidade dos descendentes e convence-los a praticar os “atos sagrados” em benefício deles e das gerações futuras.</div>
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<br /></div>
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Enquanto isso, o tempo foi passando cronologicamente, acompanhado pelo tic-tac do relógio cuco da sala e pela movimentação agitada dos moradores da casa.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Do lado de fora pessoas ansiosas compravam roupas e sapatos nas lojas que ainda estavam abertas, alimentando suas vaidades para preencher o vazio de seus corações e cultivando a aparência, acreditando que, assim, estariam seguras em seus mundos de mentiras e ilusões.</div>
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<br /></div>
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Poucos foram os comerciantes que decidiram fechar as portas, acreditando que nem todo esforço e dinheiro valiam a pena diante do clima pesado que encobria as pessoas daquela cidade.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Na sapataria o garoto diz ao pai:</div>
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<br /></div>
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—Papai, vamos ficar mais um pouco! Precisamos de dinheiro para comprar comida e mamãe está muito doente. O senhor não acha melhor mudar de idéia e permanecermos enquanto ainda há movimento?</div>
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<br /></div>
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—Não, meu filho! Por mais que você esteja preocupado, e eu agradeço a Deus por ter me dado você como filho, não posso aceitar esta situação.</div>
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<br /></div>
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O menino ficou decepcionado, mas não podia enfrentar uma decisão de seu pai, pois ele sabia o que era melhor para a família.</div>
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<br /></div>
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Pacientemente ele esperou pelo desfecho do pai.</div>
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<br /></div>
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—Sua mãe entenderá e Deus vai nos ajudar por outros caminhos. Afinal, ele nunca desampara quem o ama e respeita, pois sua misericórdia é eterna.</div>
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<br /></div>
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Com um brilho nos olhos diante da coragem e sabedoria do pai, o menino cede e decide aceitar sua decisão.</div>
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<br /></div>
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—Tá bom, pai! Vamos embora.</div>
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<br /></div>
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Com as mãos firmes e já desgastadas pelo tempo e o trabalho repetitivo de sua profissão, o pai fecha a porta da sapataria, confere a maçaneta, afasta-se lentamente, olha para a vitrine do estabelecimento, faz o sinal da cruz e segue para casa, acompanhado por seu filho amado e fiel.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Uma grande multidão se encontrava concentrada no enorme jardim da casa dos pais de Cristina. Alguns se esbarravam, outros se ofendiam, se desculpavam e preparavam-se para presenciar uma cena que eles não iriam ver novamente em vida. Seria uma história digna de ser repassada para seus descendentes, que eram os principais responsáveis por manter viva a história fúnebre da tradicional família de Cristina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Na lateral direita da casa, o som das gotas do chafariz, que eram iluminadas pela luz da lua, oferecia um efeito relaxante aos que estavam presentes naquele local. E ali era o melhor lugar do jardim para presenciar aquele “acontecimento social”, pois havia sido construído em uma parte alta da propriedade.</div>
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<br /></div>
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Gabriel ficou exatamente ali, pois, como era uma criança, tinha baixa estatura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curioso, ele perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Mamãe, vai demorar muito?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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—Não, filho! — disse a mãe de Gabriel — Daqui a pouco termina e nós iremos para casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—É que eu estou começando a ficar com sono.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Então encoste-se no chafariz e descanse um pouco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Tá bom, mãe!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O garoto encostou-se lentamente e suspirou. Estava cansado porque se levantava cedo para ir à escola, e decidiu passar o tempo tocando os dedos na água que caía suavemente do chafariz. Era uma água limpa, pura e gelada que atiçava a curiosidade e imaginação de Gabriel. Ali ele permaneceu concentrado silenciosamente por alguns minutos. Não queria pensar em nada, mas apenas aguardar o momento certo em que iria ver sua amiga Cristina novamente. Curiosamente ele percebeu que o rosto dela havia se formado na água, observando-o com ternura. Feliz, o menino continuou em seu silêncio imaginando os bons momentos que sempre teve com ela, onde as brincadeiras inocentes e infantis acalmavam seu coração e sua alma tão intensamente que era possível ouvir a respiração daquela que sempre o tratou com respeito e carinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No alto da torre do casarão, o sino tocou sete vezes. Serviçais acenderam tochas em volta da cerca do terreno, anunciando o grande dia. Uma forma de evitar que os “maus espíritos” se aproximassem do batismo de Cristina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Corujas e corvos pousaram nos galhos de algumas árvores, balançando suavemente suas folhagens; e, entre elas, aquelas que estavam secas começaram a cair no instante em que foram tocadas pelas asas dos pássaros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma luz se acendeu no interior do casarão, invadindo a porta de entrada. Para as pessoas que estavam perto da soleira, foi possível sentir um enorme calor vindo do local iluminado. Porém, ninguém se atrevia em perguntar o motivo daquele pequeno fenômeno. Então, do interior da casa surgiu um vulto que se aproximou lentamente dando lugar à pequena Cristina, totalmente vestida de branco, que significava a pureza da virgem, encoberta com algumas jóias raríssimas da família, que representavam a riqueza eterna, e perfumada com uma essência que era criada secretamente nos rituais feitos pelos pais das meninas ofertadas ao Maligno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando um dos pés de Cristina tocou o solo do jardim, trovões começaram a surgir no céu estrelado. Algo impossível de acontecer naturalmente. Mas, naquele momento, tudo mudou e se tornou possível, trazendo para o mundo dos vivos e dos mortos os sinais grotescos que demonstravam a presença cada vez mais forte do Maligno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel assustou-se e correu para o vestido da mãe, apertando suas pernas nervosamente e encobrindo os olhos. Porém, ela não foi tão receptiva com o filho, pois estava atenta aos acontecimentos e nervosa por ter que dar atenção ao menino. Então, empurrou-o violentamente, dizendo em alto tom:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Afaste-se de mim, garoto!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele se assustou, pois nunca havia visto sua mãe tão alterada. Mesmo assim, obedeceu. Afastou-se dela, encostando novamente no chafariz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para se acalmar de toda aquela situação tensa, ele começou a brincar com a água novamente. Não tinha outra opção. E, como num piscar de olhos, sentiu a temperatura se elevar. Segundos depois ela começou a ficar mais pesada, ao mesmo tempo em que escureceu, transformando-se em um sangue vivo e borbulhante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desesperado, o garoto afastou-se do chafariz pedindo socorro à sua mãe. Infelizmente ela não podia ouvi-lo, pois estava em transe profundo, assim como todos os adultos impuros que se encontravam presentes naquele local.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Mãe! Está me ouvindo? — perguntou Gabriel aos berros — Me ajude, por favor! Estou com medo!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não teve resposta. Sentiu que, agora, estava sozinho, desamparado e sem rumo, pois não tinha como sair dali. Os empregados do casarão tiveram todo o cuidado em manter a propriedade impenetrável, envolta com tochas e a presença de seus corpos rígidos, tornando-os verdadeiros escravos do mal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto isso, Cristina aproximou-se do centro do jardim, que estava decorado grotescamente de acordo com a ocasião. Vários objetos e oferendas estavam presentes no “altar” esperando a chegada de mais uma “Noiva do Maligno”. Muitos deles representando a virilidade e o prazer carnal. E, formando o centro do altar, havia uma mesa feita de carne humana, retirada dos corpos de mulheres infiéis e prostitutas, representando o ponto máximo ao qual a veneração carnal pode chegar: À MORTE. Um destino para todas as mulheres que haviam participado dos rituais patrocinados pela família de Cristina, que tinha o hábito de dar poderes aos seus parceiros comerciais; além disso, era comum o acontecimento de orgias horrendas entre eles, onde a participação feminina, sempre necessária e obrigatória, demonstrava o poder do Maligno sobre a Carne e fortalecia seu domínio sobre os humanos fracos e carentes de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristina, que se aproximou acompanhada por seus pais, estava linda e completamente lúcida, pois era uma das exigências do “Mestre” para que o “batismo” acontecesse de forma pura. E, por mais que quisesse chorar, não conseguia, pois seu corpo e sua alma já haviam sido preparados e prometidos ao Maligno desde o seu nascimento. Uma herança da qual ela nunca quis receber.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O altar fedia perante a decomposição acelerada das carnes. Por este motivo tudo deveria acontecer rapidamente. Então, seguindo as ordens do ritual, os pais de Cristina deitaram a menina sobre a fétida mesa, deixando-a em uma posição receptiva e aumentando a curiosidade das pessoas que estavam ao redor da propriedade naquele momento. Um forte vento soprou ao redor da casa, agitando tudo o que se encontrava à sua frente e criando um redemoinho sobre o corpo da menina. Em seguida tudo se dissipou, dando lugar a uma névoa negra que começou a se elevar por baixo da mesa e a encobrir o corpo indefeso de Cristina, deixando-a sufocada. Sua pulsação acelerou, trazendo à tona uma respiração ofegante; e a dilatação de seus poros liberou um gélido suor. Em seguida a figura grotesca do Maligno já se encontrava sobre o corpo dela. Então, violentamente ele rasgou as roupas e jogou todas as jóias que cobriam o corpo de Cristina no chão, demonstrando que tudo o que ele dava ele também tirava e destruía, deixando-a completamente nua e desprotegida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do alto do chafariz que jorrava sangue, Gabriel gritou inocentemente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Não! Solte ela. É minha amiga. Solte ela, seu monstro!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Maligno olhou para Gabriel com ódio. Não gostava de ser interrompido em suas orgias. E, naquele momento, o menino fez algo que nunca havia acontecido até então.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com um ódio mortal, o Mestre encarou Gabriel, dizendo:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Você vai morrer!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel se desesperou. Começou, então, a correr por todos os lados. Atrás dele uma legião de criaturas horrendas apareceram no ar, na terra e entre as árvores, tentando pegar o menino que se desviava com velocidade daquelas mãos tenebrosas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com o coração disparado e a respiração ofegante, ele gritou assustado:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Socorro! Alguém me ajude, pelo amor de Deus!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma voz diabólica se fez ouvir em toda a propriedade, estremecendo a terra e assustando as pessoas presentes naquele momento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Aaaahhhh! — gritou o Maligno, com mais ódio — Não repita este nome, seu verme. Sua alma será minha! Minha! — reforçou o Mestre das Sombras.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os cães infernais que rodeavam o altar conseguiam ouvir os batimentos cardíacos de Gabriel e sentir o cheiro de seu medo. Seus lábios salivaram de prazer e ódio, pois eram treinados para obedecer ao Mestre. Suas musculaturas, rígidas e fortes, se elevavam à medida que corriam pela propriedade enquanto seus olhos mantinham-se fixos no menino.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel continuou correndo, quando foi inesperadamente puxado pelo braço e acomodado em um arbusto. Ele gelou de medo e gritou mais alto, desesperadamente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Socorro! Me solte!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas seus lábios foram abafados por mãos macias. Era o filho do sapateiro que, mesmo sem obedecer ao pai, decidiu presenciar aquele momento por curiosidade, achando que poderia reverter aquela situação harmoniosamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Psiu! — ordenou ele — Fique quieto e venha comigo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Quem é você, menino?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Jesus, o filho do sapateiro. Agora vamos embora rápido. Temos muito que fazer.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E os dois meninos desapareceram da propriedade, deixando o Maligno furioso e decidido estraçalhar a vida daqueles que haviam interrompido seu ritual carnal e profano.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Furiosamente o Mestre das Sombras descarregou todo seu ódio sobre o corpo de Cristina, violentando-a tão covardemente, entre arranhões, palavras impuras, socos e penetrações dolorosas, que ela desmaiou após toda aquela loucura, selando definitivamente o pacto covarde realizado por seus pais carentes de Deus.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
(§:§)</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um frio terrível pairava pelo ar enquanto passos inocentes percorriam velozmente pelas ruas para despistar o perigo desconhecido e assustador presenciado por aquelas duas crianças, que achavam estar participando apenas de mais um movimento social promovido pelos adultos. Porém, toda aquela situação tinha ido muito além da compreensão humana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus, como bom filho, decidiu levar Gabriel até sua casa, onde estariam mais protegidos. Lá ele apresentaria seus pais ao novo amigo e relataria os fatos ocorridos naquela noite.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Onde você mora? — perguntou Gabriel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Bem ali, perto do lago, numa casa simples, mas limpinha e arrumada. — disse ele orgulhoso — Papai e mamãe sempre me ensinaram que devemos conservar o que temos porque tudo o que existe em nossa vida foi Deus que nos deu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Que conversa é essa de Deus logo agora? Não está vendo a enrascada que nos metemos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus olhou para Gabriel e silenciou. Preferiu apresentar seus pais ao menino para que ele compreendesse melhor como funcionava uma vida humilde, mas feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando viraram a esquina, o humilde sobrado de madeira se apresentou simples, porém, grandioso. Era possível sentir paz naquele lugar somente ao observar seus detalhes. O lago refletia toda a beleza da Lua, das estrelas e das bolhas liberadas pelos peixes, onde era possível sentir uma suave brisa e ouvir o som de grilos e cigarras. Ali também era o local onde Jesus, Maria, sua mãe, e José, seu pai, conseguiam alimento nas épocas em que o dinheiro faltava para pagar as contas e manter o mínimo de conforto possível a eles. Era um lago abençoado. Por este motivo, José decidiu comprar o terreno e construir ao seu lado a tão sonhada morada para sua família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em poucos minutos os dois meninos já se encontravam diante da casa. E, para uma criança, a construção, mesmo que simples, conseguia transmitir toda a magnitude de sua importância.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus bateu levemente na porta e aguardou, ansioso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma voz se ouviu vinda do interior da casa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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—Quem é?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sou eu, papai! Jesus!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A maçaneta rangeu e virou-se levemente, abrindo a porta e dando espaço para o interior da casa e seu protagonista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, José disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Por que demorou tanto, meu filho? Nós estávamos preocupados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Desculpe, pai! Não foi por querer! Eu só saí para ver o batismo de Cristina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
José olhou para Jesus e disse furioso:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Eu não lhe disse que era proibido ir até aquela casa? Quantas vezes eu e sua mãe precisamos ensinar que você precisa aprender a se proteger? — disse ele com o tom de voz alterado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Desculpe, pai!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—De que adianta pedir desculpa agora? Você nos desobedeceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diante de toda aquela agitação, uma voz suave se fez ouvir no interior da casa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—José, o que está acontecendo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Jesus chegou e nos desobedeceu. Pedimos a ele para não ir àquela casa amaldiçoada, mas ele foi assim mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—José, acalme-se e traga-o para dentro. Está frio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim, querida! Mas ele trouxe um amigo junto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Então traga os dois aqui para a lareira para que se aqueçam do frio. Depois conversaremos com mais calma, está bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
José se acalmou e respondeu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim! Me desculpe! É que eu perdi o controle diante da desobediência de Jesus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em seguida ele prosseguiu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Vamos, meninos! Entrem logo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a porta se fechou suavemente após José ter ouvido as sábias palavras de Maria, que sempre o iluminava com sua serenidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na sala simples, com piso de madeira, assim como toda a construção, podiam-se ver alguns quadros pendurados nas paredes, cadeiras de madeira, uma cristaleira feita pelas mãos de José, que era onde se guardavam os talheres e louças decorativas passadas de geração em geração como herança sentimental, e um tapete no centro em formato circular, que possuía sobre ele uma pequena mesinha. Sobre o parapeito da lareira, dois lampiões, um de cada lado, eram usados para reforçar a iluminação; e, à direita, encontrava-se uma pequena estante de madeira que continha vários livros. No meio deles um se destacava, ladeado por duas imagens santas. De um lado a Sagrada Família e, do outro, Nossa Senhora Aparecida. Era um belo exemplar da Bíblia Sagrada, revestido em couro legítimo e com um fecho de metal. As cantoneiras e o nome gravado em dourado finalizavam o acabamento daquele precioso volume.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outros livros também compunham a pequena biblioteca, que diariamente era visitada e seus volumes carinhosamente manipulados pelas mãos de Maria e José. Jesus ouvia de seus pais, pois ainda estava aperfeiçoando a escrita; e ele tinha dificuldade em compreender o significado das diferentes fontes usadas nas impressões dos volumes. As letras manuscritas eram carinhosamente ensinadas por seus pais. Mesmo assim ele já conseguia se comunicar usando poucas palavras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Maria estava sentada ao lado da lareira sobre uma das cadeiras de madeira, que havia sido construída carinhosamente por José. Então, seu sorriso aflorou diante dos três que se aproximavam dela, quando disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Boa noite, meninos! Sentem-se para que possamos conversar melhor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Boa noite, mãe! — disse Jesus — Me desculpe pelo que fiz. Não foi por mal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Eu entendo, filho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
José, após sentar-se e convidar Gabriel e Jesus para se sentarem com ele, virou seu rosto para o filho e disse calmamente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Não estou acreditando que você fez isso, meu filho. Você sabe muito bem, e sua mãe está de prova, que nós temos nos esforçado todos esses anos para colocar nesta sua cabecinha os motivos terríveis que nos obrigam a impedi-lo de se aproximar daquela casa e daquela família. Eles não merecem nossa atenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus olhou para o pai, a mãe e o amigo, pensou por alguns segundos e disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Vocês sempre me ensinaram que devemos amar e ter compaixão pelas pessoas mesmo que elas não mereçam nosso amor e atenção. O que eu fiz foi ir até lá para tentar compreender sem julgar, pois isso não cabe a mim, mas a Deus, nosso Pai.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os três olharam para Jesus e ficaram impressionados com suas sábias palavras. Inclusive Gabriel que, a partir daquele momento, começou a compreender os caminhos que levaram aquela pequena família se tornar tão iluminada. Eles tinham Deus no coração e no centro de suas vidas. Por isso conseguiam superar tantas dificuldades.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Maria e José se olharam ternamente, orgulhando-se por seu filho ter compreendido os valores de uma verdadeira família cristã. Perceberam que Jesus havia enxergado o amor, a compaixão, o respeito por seu semelhante e, agora, estava sabiamente conseguindo transmitir seus conhecimentos tão profundos. Essa foi uma vitória e um dos primeiros milagres realizados por Jesus em sua humilde vida naquela família. Uma vida que iria ser marcada pelo cultivo da esperança e do amor, deixando suas boas ações como verdadeiros exemplos de fé e coragem por onde ele passasse.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pequeno Gabriel, devido sua pouca idade, se esforçava para entender o que estava acontecendo. Afinal, era muito difícil para uma criança, que sempre viveu numa família que venera o materialismo e abomina o amor, compreender que ainda existiam pessoas dispostas a ajudar os outros sem pedir nada em troca ou esperar por gratificação e atos estritamente de valor social, pois aquele amor nunca existiu em sua casa. E, por estar admirado com tanta sabedoria, Gabriel decidiu que iria mudar sua vida e a vida de sua família usando os exemplos que foram apresentados a ele por seu amigo Jesus e pelos pais José e Maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após aquecerem-se por alguns minutos diante da calorosa lareira, o pequeno Gabriel decidiu perguntar curiosamente a José:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Senhor José, por favor, como eu entendo o que aconteceu hoje?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Como assim? — perguntou José.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—É que hoje eu vi um monte de coisas esquisitas. Vi umas pessoas com “caras” estranhas, vi bichos com olhos vermelhos, vi cadáveres correndo atrás de nós, vi a água virar sangue e vi um bicho muito feio “machucar” minha amiga Cristina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel disse aquelas palavras com uma expressão de profunda tristeza estampada em seus olhos. Ainda não conseguia acreditar no que viu e se assustava toda vez que lembrava daqueles horríveis momentos. Mas ele precisava desabafar com alguém.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, o menino concluiu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—O senhor pode me ajudar a entender isso? Estou com medo de voltar para casa e encontrar minha mãe novamente. Ela me assustou muito, hoje.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Maria sentiu-se tocada e se aproximou de Gabriel, dizendo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Venha aqui, meu filho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele estranhou e disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Eu não sou seu filho, senhora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com um sorriso nos lábios, Maria concluiu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Essa é uma forma carinhosa que nós, adultos, usamos para falar a uma pessoa quando queremos ajuda-la! Entendeu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel olhou para Maria e lembrou-se do carinho que nunca teve de sua mãe, pois ela sempre estava ocupada com o marido, seguindo-o em suas secretas reuniões materialistas disfarçadas de relações comerciais. E foi naquele momento que o menino compreendeu o verdadeiro significado da expressão “Amor de Mãe”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seu coração acelerou e um sentimento enorme de se jogar nos braços de Maria dominou sua mente. Mas como ele era um estranho, privado de intimidade com aquela família, segurou-se e conteve seu impulso. Porém, no momento em que Maria abriu os braços para a criança, esta não resistiu. Jogou-se de corpo e alma no colo de Maria e deixou-se sentir acolhido, acalentado e protegido. Uma proteção que, até aquele momento, ele achava que existia apenas com o poder do dinheiro, mas que agora se apresentava para ele como gestos simples de amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel chorou soluçantemente no colo de Maria durante toda aquela noite, esvaziando seu coração dos sentimentos negativos e preenchendo-o com uma pureza que ele nunca havia conhecido, mas que Deus lhe deu a chance de receber de forma gratuita e milagrosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, após presenciar toda aquela emoção, Jesus e José abraçaram-se calorosamente, selando definitivamente a paz naquela casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
(§:§)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O dia amanheceu lindo; e José, como fazia todos os dias, acordou antes do sol para cortar a lenha que seria usada por Maria na preparação de um delicioso café. Ele possuía um machado muito bem cuidado, o qual fazia questão de amolar quase todos os dias com um pedaço de pedra-ume que já o acompanhava há vários anos. E aquele instrumento cortante e importantíssimo para sua sobrevivência havia sido passado para ele como uma herança de família, tornando-se para José e seus parentes um verdadeiro símbolo de paz e prosperidade, pois, através das mãos de quem o usasse com sabedoria, seria possível levar humildemente o sustento para sua casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gravetos secos eram comuns naquela época do ano. Afinal, o outono se encarregava de deixar as árvores desprotegidas, sem folhas e à mercê do calor do Sol. Um calor maravilhoso que preparava as plantas para a chegada do inverno. Por isso José tinha que usar o seu tempo disponível e a força que Deus lhe deu para cortar o máximo de lenha possível, pois o frio chegaria intenso, assim como acontecia todos os anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
José carregava um saco com lenha seca nas costas. Em seu lado direito, preso à cintura, encontrava-se o afiado machado. Sua calça e camisa estavam desgastadas pelo tempo. Por isso não se importava caso alguma das duas peças se danificasse durante a coleta exaustiva da lenha. José calçava uma bota de couro feita por ele mesmo, que acomodava confortavelmente seus pés ao mesmo tempo em que os protegia do chão desnivelado do pequeno bosque localizado próximo à sua casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, por um pequeno momento, José parou para descansar. Ainda estava escuro e ele não conseguia enxergar bem a trilha. Sentou-se num tronco de árvore que estava à sua frente e aproveitou para escutar o silêncio. Este foi um dos muitos momentos em que ele se concentrou para agradecer a Deus pela sua vida e por sua família. Afinal, todas as situações, sejam elas boas ou ruins, existem por algum motivo, pois, para José, elas têm a função de nos dar a capacidade de enxergar o amor. Um amor que se apresenta puro e gritante toda vez que perdemos algo ou alguém querido, nos fazendo refletir sobre nossos erros e acertos; um amor que não pede nada em troca toda vez que ajudamos o próximo sem interesse; um amor que consegue transformar o coração mais duro em um barro moldável, tornando-o digno de entrar no Reino de Deus.</div>
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<br /></div>
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Estas eram as orações que José mantinha diariamente. Seja em casa ou na sapataria, não importava. O que importava era lutar para se purificar todos os dias.</div>
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<br /></div>
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Ao fim das orações, José manteve-se de olhos fechados. Porém, naquele momento, um calafrio inesperado percorreu todo seu corpo. Achou que era por causa da brisa da manhã. Por isso não deu importância. Então ele levantou-se, pegou o saco com a lenha, jogou-o nas costas e começou a caminhar. Suas pernas mantinham-se firmes, apesar da idade mediana. E isso o agradava, pois sabia que sua família poderia contar com seu esforço por muitos anos ainda.</div>
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<br /></div>
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O suor salgado, brotado pelos poros de seu rosto, atingiu os olhos de José, ardendo-os. Incomodado, ele enxugou com uma das mãos, olhando para o chão no mesmo instante em que jogou o líquido no solo seco. Ao olhar para frente o calafrio começou a acompanhá-lo novamente, mas desta vez não cessou. Era como se mãos gélidas estivessem tocando todas as partes de seu corpo. Isso fez com que ele sentisse um desconforto desagradável e inesperado, pois sempre teve ótima saúde. Por isso não conseguia acreditar que, justo naquele momento, deixaria sua família sem auxílio. Começou a sentir uma forte falta de ar. Mesmo assim, José não desistiu. Respirou fundo, rangeu os dentes, apertou suas mãos ao saco de lenha e começou a caminhar novamente. Aquela sensação estranha não iria desanimá-lo, pois era um homem de fé. Por isso continuou seu esforço focado no destino que o aguardava: alimentar sua família.</div>
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<br /></div>
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Quando virou seu olhar para uma das árvores centenárias que estavam à sua frente, percebeu que alguém o observava atentamente. Como José não o reconheceu, decidiu se aproximar para cumprimentar seja lá quem fosse aquele ser silencioso. Cambaleante e com respiração ofegante, ele conseguiu chegar alguns metros próximo da pessoa. Então, ao limpar os olhos novamente, percebeu que aquela estranha figura havia desaparecido da mesma forma que surgiu — em silêncio —, levando consigo toda sensação de cansaço que dominou o corpo de José minutos antes.</div>
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Naquele instante um raio de sol brotou do horizonte e tocou o rosto de José, acariciando-o como a mão de uma mãe que acolhe o filho após passar por provações inexplicáveis.</div>
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A poucos passos dali, José pôde avistar longinquamente sua casa, ao mesmo tempo em que almas e demônios furiosos — os quais ele não podia ver — queixavam-se por não ter conseguido possuir o corpo e o coração daquele homem. Debatiam-se culpando uns aos outros pelo insucesso daquela terrível tarefa que o Mestre das Sombras havia ordenado que eles cumprissem, mas que, agora, deveriam prestar contas. Uma verdadeira tortura para aqueles condenados e ausentes da Luz de Deus, os quais puderam ver o sorriso estampado no rosto de José, completamente orgulhoso por saber que com o suor de seu trabalho conseguiria mais uma vez levar alegria para seu lar.</div>
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<br /></div>
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De dentro da casa, próximo à porta de entrada, foi possível ouvir os passos firmes e alegres de José, acompanhados de uma cantoria e assovios agradáveis aos ouvidos daqueles que habitavam seu interior. Maria já estava de pé aguardando o marido com a mesa posta, o leite colhido da vaca e pães que ela havia feito no dia anterior. Tudo acompanhado de alguns biscoitos e geléias de frutas que eram produzidas por ela artesanalmente. Um trabalho prazeroso que fazia com muito gosto, pois sentia uma imensa felicidade em seu coração e em sua alma toda vez que seus gestos simples conseguiam trazer sorrisos aos lábios das pessoas que freqüentavam ou visitavam sua humilde casa.</div>
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<br /></div>
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A porta se abriu lentamente pelas mãos de José, trazendo consigo os primeiros raios de sol da manhã, alegrando e abençoando mais um dia que se iniciava naquela família.</div>
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Maria adiantou-se, dizendo:</div>
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<br /></div>
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—Bom dia, meu amor! Você demorou hoje. Já estava ficando preocupada.</div>
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<br /></div>
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—Bom dia, Maria! Isso não irá acontecer novamente. Eu juro.</div>
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<br /></div>
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—Mas o que aconteceu?</div>
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—Não sei explicar. Só sei que hoje de manhã vi um estranho no bosque me observando enquanto eu trazia a lenha. Depois disso, ao tentar me aproximar dele, comecei a sentir-me muito mal. Meu corpo ficou pesado e uma falta de ar insuportável surgiu do nada. Mas depois que enxuguei meus olhos e os abri o estranho desapareceu sem dizer uma palavra sequer. E como eu comecei a me sentir bem novamente, esqueci-o e continuei alegremente meu caminho até chegar aqui. Graças a Deus está tudo bem, agora.</div>
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<br /></div>
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Maria, silenciosamente, ajudou José a descarregar a lenha, acender o fogo e preparar o café, pois os meninos acordariam com fome e ela não queria decepcioná-los.</div>
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José estranhou seu silêncio. Queria ouvir a opinião da esposa, por isso não podia esperar mais.</div>
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Parou ao lado de Maria, diante do fogão à lenha que já exalava um delicioso aroma de café fresco, e perguntou:</div>
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—Maria, meu amor, você tem algo para me dizer?</div>
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Ela suspirou, pensou, piscou lentamente os olhos, virou-se para José após terminar de coar o café e disse:</div>
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<br /></div>
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—Deus te trouxe até mim mais uma vez. Por isso eu rezo todos os dias pela bênção de nossa família.</div>
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<br /></div>
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—Sim! Deus me traz para casa todos os dias. Só não estou compreendendo o seu olhar de preocupação, tendo em vista que me ausento todas as manhãs para ajudar em nosso sustento!</div>
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—O problema não é a sua ausência, mas o motivo que aumentou sua ausência de nós.</div>
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—Como assim? Que motivo? Não estou compreendendo aonde você quer chegar!</div>
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<br /></div>
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—A verdade, baseada no que você me disse, é que seu corpo foi atacado por forças malignas, resultando na ausência de suas energias. Porém, sua fé em Deus e sua bondade libertaram seu coração e sua alma. Por isso louvo a Deus por você ter chegado vivo e abençoado para mim e nossa família novamente, pois nunca poderemos prever o dia de amanhã, mas sim trabalhar para que ele seja melhor, próspero e puro sempre.</div>
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<br /></div>
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Neste instante José lembrou-se do calafrio, do suor, da fraqueza e da figura estranha que o observou durante todo o momento em que esteve cansado e vulnerável. Então, após uma breve e arrepiante reflexão, ele abraçou Maria fortemente, aliviando toda aquela angustiante lembrança de seu coração.</div>
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<br /></div>
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Em poucos minutos o café foi servido e uma longa e alegre conversa percorreu por toda aquela manhã entre os habitantes da humilde e abençoada casa.</div>
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(§:§)</div>
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Após a tentativa inútil do Maligno em destruir a família de Jesus, que se tornou repulsiva para ele no momento em que seu ritual centenário foi bruscamente interrompido por aqueles “Anjinhos do Céu”, um outro “Anjo” encontrava-se isolado durante toda a manhã. Era Cristina que, após toda aquela loucura, precisou se recolher por alguns dias no silêncio assustador de seu luxuoso quarto. Um local que deveria ser uma extensão do útero de sua mãe, onde a calma e a paz lhe eram entregue todos os dias. Mas, ao invés disso, presenciou a solidão, o sofrimento, a dor e a tristeza da menina. Um sentimento sufocante e destruidor que consumia seu corpo e sua alma todos os dias em que se afastava violentamente de sua inocência.</div>
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<br /></div>
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Cristina, mesmo naquele momento de muita dor, levantou-se da cama com todo seu esforço, arrastando-se sobre o lençol enrugado e empoeirado, colocando-o ao seu lado no momento em que suas mãos tocaram o colchão. Deu uma pausa, suspirou e tocou o piso gélido de seu quarto com um de seus pés. Queria libertar-se de suas angústias enquanto movia seu corpo lentamente. Calçou seus chinelos e caminhou cambaleante até a penteadeira, onde pôde, finalmente, ver seu rosto refletido no espelho. Sua expressão era apática, triste, desolada, abandonada, depressiva e sombria. Seus cabelos estavam endurecidos, fétidos e descuidados, pois, em sua clausura, absteve-se da higiene pessoal. Não como forma de revolta, mas por conseqüência de todos aqueles sentimentos negativos que começaram a consumir seu corpo e sua alma de maneira devastadora, intensa e incontrolável.</div>
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<br /></div>
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Segundo a segundo, minuto a minuto, Cristina tentava se reerguer, mas as forças malignas que foram descarregadas sobre ela transformaram seus sentimentos e suas dores em uma verdadeira sentença de morte.</div>
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<br /></div>
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Após um imenso esforço, ela consegue abrir a gaveta da penteadeira. Escolhe uma das escovas que mais gosta e, lentamente, pega-a com uma das mãos, levando-a ao encontro de seus cabelos. Suavemente começa a fazer movimentos leves de cima para baixo, soltando as pontas quebradas e ensebadas, antes tão perfumadas e sedosas. E, no fim, mantém-se diante do espelho enquanto observa sua expressão triste.</div>
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<br /></div>
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Cristina sabia que sua vida nunca mais seria a mesma, mas tinha esperança de que toda aquela loucura desaparecesse. Uma esperança que, para ela, poderia ser eterna, mas nunca inalcançável. Porém, só ela poderia enfrentar os demônios que a atormentava. Ninguém mais.</div>
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<br /></div>
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Olhou para as olheiras que haviam se formado abaixo de seus olhos. Eram pretas e volumosas. E isso a incomodava. Então, imediatamente ela molhou seu rosto com a água gelada que estava dentro de uma vasilha sobre a penteadeira e enxugou-o demoradamente com a esperança de que refletisse uma imagem melhor dela mesma no espelho. Viu que deu certo e alegrou-se. Este foi o primeiro momento que um sorriso brotou em seus lábios desde a noite do tenebroso ritual. Isso a agradou e fez com que sua tristeza a esquecesse. Um verdadeiro alívio diante de toda aquela loucura.</div>
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<br /></div>
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Então, Cristina permaneceu todo o dia cuidando de sua aparência e higiene pessoal, pois percebeu que era hora de lutar por sua felicidade; e sua vaidade, aflorada agressivamente após aqueles dias fúnebres e solitários em seu quarto, dominou seu corpo, sua alma e todos os desejos de sua existência, transformando sua personalidade e moldando-a negativamente nos anos que viriam, afastando-a aos poucos da presença de Deus. Porém, essa profecia ainda estava longe de se cumprir, garantindo um pouco da infância que ainda lhe restava.</div>
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<br /></div>
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Neste momento Cristina levantou-se, separou roupas novas e limpas e se preparou para enfrentar sua nova vida que havia começado.</div>
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—oo—</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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O cheiro de mofo contido no grosso volume do livro despertou Cristina, a Velha Senhora, de seu passado obscuro e sombrio. Seus olhos se abriram e começaram a enxergar toda a arquitetura da biblioteca que estava à sua frente, iluminada por um facho suave de luz provindo da vela apoiada sobre um velho castiçal localizado ao lado do sofá que a acomodava confortavelmente. Sua mente ainda continha as imagens e vozes do passado que estavam lentamente se apresentando a ela. Situações tenebrosas que haviam se apagado com o tempo, mas que retornavam como uma penitência ao seu lar, onde a paz reinou por tantos anos após a morte de seus pais. Porém, seu único medo era ter que reviver aquelas loucuras que a aprisionava angustiantemente em seus pensamentos. Por isso, não queria voltar a sentir dor, angústia, frio e solidão. E cada sentimento tinha um terrível significado. A DOR vinha das constantes visitas que ela recebia do Maligno nos momentos em que estava mais sensível. A ANGÚSTIA vinha de sua decepção com seus pais ao descobrir que tudo o que ela passava estava relacionada à falta de amor e respeito que nunca teve deles. O FRIO vinha das constantes crises de calafrio que ela tinha ao sentir os servos do Maligno a rodeando e vigiando, como se fosse uma jóia rara a ser defendida dos ladrões. A SOLIDÃO vinha todas as noites que entrava em seu quarto enorme e luxuoso, e percebia a tristeza que dominava seu coração ao saber que estava sozinha diante de todo aquele terror.</div>
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<br /></div>
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Felizmente as constantes visitas dos servos do Mestre das Sombras tinham cessado há anos; até que, naquele momento, tudo mudou e as turbulências do passado voltaram a freqüentar sua casa. Então começou a reviver novamente suas antigas tormentas. Sentiu seu corpo tocado por mãos invisíveis ao mesmo tempo em que um cheiro fétido e muito familiar atingiu suas narinas. Era o cheiro da Morte, que decidiu visitá-la sem convite e sem pressa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristina olhou para os lados e sentiu sua respiração ofegante. Enquanto isso, as mãos a apertavam cada vez mais forte e intensamente. Em seguida começaram a puxar seu frágil vestido. Não para rasgá-lo, mas como se quisessem lhe dizer — “Levante-se!”. — Porém, o desespero estava bloqueando seus pensamentos. Sentia-se órfã diante daquele terror e da falta de amor. Um amor que nunca teve e nunca conheceu. Ela já havia escrito sua história no “Livro da Vida”; e, agora, arrependia-se de seu passado sombrio, desolador, materialista, doloroso e amaldiçoado.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diante de todos os momentos negativos que habitavam sua alma, uma coisa era certa: nada do que aconteceu foi sua culpa. Nenhuma lembrança ou descendente tinha o direito de julgá-la, pois seu passado já a atormentava todos os dias. Mesmo assim, ela tinha consciência do caminho que escolheu; e poderia ter sido uma pessoa muito melhor, assim como seu amigo Gabriel, que conseguiu conhecer o verdadeiro amor de uma família baseada em princípios cristãos. E quando ele estendeu sua mão oferecendo ajuda para levá-la à família do amigo Jesus, ela recusou, pois estava muito confortável diante dos prazeres carnais que o Maligno havia proporcionado a ela. Sentia-se poderosa demais para se tornar submissa a Deus. Submissa ao Amor. Mas não conseguiu perceber que estava submissa ao Mestre das Sombras e às suas armadilhas que a aprisionava diante dos pecados cometidos diariamente por ela.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os minutos passavam lentamente e, mesmo dentro daquele ambiente escuro e empoeirado, as mãos invisíveis insistiam em levantá-la, mas ela resistia. Então, ouviu-se uma voz rouca e fúnebre vinda de alguma parte da biblioteca:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Levante-se!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristina assustou-se. Olhou para os lados e procurou o orador daquela palavra, mas não teve sucesso. Permanecia sozinha na biblioteca e acompanhada dos seres invisíveis que não paravam de tocá-la.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As janelas se abriram violentamente, dando entrada a uma névoa densa e fria. Cristina, assustada, decidiu fechar os olhos, temendo receber mais uma visita violenta do Maligno. Afinal, sua idade já não permitia movimentos bruscos. Então, ela permaneceu ali sentada e esperando submissamente seu destino. Porém, algo novo aconteceu. Ao abrir os olhos, ela viu sua vida passar diante dela através de imagens em movimento projetadas na densa névoa, como a tela de um cinema. Começou a ver os momentos que já havia esquecido. Bons e ruins. Mas ela não tinha como fugir, pois seu passado estava, agora, estampado à sua frente como flashbacks que insistiam em se repetir.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristina levantou-se e acomodou o livro sobre a mesa da biblioteca. Queria compreender todo aquele fenômeno sobrenatural que se desenrolava à sua frente. Pôde, então, ver o exato momento em que foi vendida ao Maligno, amaldiçoando sua alma e sua inocência. Ouviu as palavras de desprezo dos seus pais, que só balbuciavam impurezas a seu respeito e prazer ao saber que estariam ricos e poderosos por mais cem anos. Algo que ela nunca havia ouvido até então, pois acreditava no aparente afeto que eles demonstravam a ela. Um afeto falso que só pretendia preservá-la até o dia do maldito ritual que a condenou ao seu mundo de angústia e lágrimas.</div>
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<br /></div>
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Muitas imagens se apresentaram diante dela, mas uma em especial lhe chamou a atenção.</div>
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<br /></div>
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Um senhor, com idade avançada e aparentemente triste, encontrava-se sentado à mesa de uma biblioteca escrevendo nas páginas de um livro de grosso volume. Era uma cena profunda e única, como se aquele homem estivesse se despedindo deste mundo e indo ao encontro de sua sentença de morte. E, por vários minutos, Cristina observou-o atentamente para tentar identificar o senhor misterioso. Mergulhou no fundo de sua memória, mas não teve sucesso, pois aquela parecia uma cena inédita para ela, já que tudo o que havia visto até então foram momentos passados de sua vida.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando ela desviou o olhar e deparou-se com o grosso volume que estava sobre a mesa à sua frente, percebeu uma semelhança. Decidiu, então, pegá-lo em suas mãos. Aos poucos percebeu que se tratava do mesmo exemplar. Seu coração palpitou de alegria e ansiedade quando sentiu que havia uma mensagem importantíssima por trás de todas aquelas semelhanças. E, durante as projeções, ela viu uma imagem onde as páginas do livro apareceram em destaque. Pôde ver as ilustrações, fotos e parte do que estava escrito, ao mesmo tempo em que enrugadas mãos registravam suas memórias com o auxílio da caneta bico de pena e o nanquim. Decidiu, então, procurar a mesma página folheando o livro apressadamente, pois algo lhe dizia que aquilo lhe traria explicações que ela nunca teve de outro familiar; e, enquanto folheava, mantinha seus olhos atentos às imagens que estavam à sua frente. Então, após alguns minutos de busca, Cristina deparou-se com a mesma página que era escrita naquele momento singular; e, para sua surpresa, não acreditou no que viu, mas alegrou-se. Ela continha em seu cabeçalho a data e o nome do autor. Tratava-se de um parente muito distante. Era seu tataravô Atos Rei, que usava este pseudônimo para não envergonhar nem desonrar o nome de sua família, já tão manchado por sangue e trevas. Uma forma de refúgio perante a realidade vivida por ele e tão massacrada por seus próprios pecados. E foi neste momento que Cristina, após voltar seus olhos para as imagens projetadas à sua frente, viu o tataravô debruçando-se sobre o livro ao mesmo tempo em que derramou suas sinceras lágrimas. Lágrimas de desabafo e conforto que pareciam ter tirado um grande peso de suas costas, aliviando seu tormento. Então, Cristina decidiu ler atentamente o conteúdo daquelas palavras, enquanto projetava, literalmente, as imagens em sua memória.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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—oo—</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Há muitos anos viveu um senhor muito poderoso. Era um bom homem, mas com um passado sombrio. Porém, apesar de suas impurezas, amava a esposa. Ela, que se chamava Clara, iluminou sua vida por muitos anos, dando-lhe amor, carinho e suporte para todos os seus negócios. Clara amava o marido, e decidiu entregar-se de corpo e alma àquela relação que, para alguns, inclusive os empregados da casa, era considerada duvidosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, num belo dia, Clara deu à luz a uma menina. Ela era linda, e fez com que o coração do velho Atos batesse forte de alegria, fazendo com que ele, pela primeira vez, irradiasse luz perante as pessoas que conviviam diariamente com aquele poderoso homem. E foi neste momento que ele decidiu comemorar aquele acontecimento tão especial. Imediatamente marcou um piquenique no jardim de sua propriedade e levou a família com um largo sorriso nos lábios. Nesse meio-tempo, comprou uma linda boneca de pano na principal loja da cidade. Era uma peça única, com expressão suave, que Atos escolheu como uma forma de batismo em homenagem à inocente filha que Deus lhe enviou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num determinado momento do piquenique Atos pausou a conversa com sua esposa e abriu um pequeno embrulho diante dela. Era a boneca de pano que ele tão carinhosamente havia escolhido. Clara sorriu de alegria e observou aquele momento único.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Atos aproximou-se da filha e disse:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Oi, meu amor! Papai está aqui e trouxe um presente para você. É uma linda boneca de pano que vai te proteger durante toda sua vida. — Encostou a boneca macia às mãos da menina e prosseguiu — Sempre que se sentir sozinha ou com medo, abrace esta boneca e lembre-se do meu amor por você. Ele é, sempre foi e sempre será eterno.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Clara sorriu, com os olhos marejados em lágrimas, e aproximou-se do marido, orgulhosa por sua sensibilidade. Um momento único que seria lembrado eternamente no coração daquela mãe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de toda aquela felicidade, algo começou a dar errado para a família. Os negócios começaram a ruir e Clara apresentou os primeiros sintomas de uma violenta tuberculose que ceifaria sua vida dois anos mais tarde, fazendo com que Atos, num gesto de medo perante a ausência de sua esposa, cremasse seu corpo e guardasse o pó em um vaso de flor que havia sido cuidadosamente plantado por sua amada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Atos, desesperado e sem saída, procurou ajuda em todos os lugares possíveis. Tentou outras formas de remuneração que pudesse manter seu padrão de vida e um conforto para a família, mas não teve sucesso. Então, quando decidiu desabafar com seu mais fiel empregado, teve uma surpresa. O homem, conhecedor profundo da Magia Negra, ou qualquer outro nome relacionado a essa prática sombria, revelou a Atos que havia uma forma de salvar sua família da miséria. Porém, ele precisaria abrir mão do amor por sua filha e entregá-la como oferta ao Maligno. Ela ficaria viva, mas todas as próximas gerações, a cada cem anos, precisariam “renovar o contrato” com o Mestre das Sombras para que mantivessem seu status social e riqueza. E foi com muita dor e arrependimento que Atos aceitou a oferta de seu empregado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois do cumprimento de todo o ritual, Atos recolheu-se em sua biblioteca, pegou um grosso volume, que continha folhas virgens, apossou-se de sua caneta bico de pena, o nanquim e sentou-se chorosamente em uma das cadeiras que estavam ao redor da enorme mesa daquele cômodo da casa. Ali ele começou a escrever seu livro de memórias, diante de um enorme sentimento de culpa e arrependimento. Um arrependimento que o consumiu até o fim de seus dias.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
—oo—</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo absorvida por toda aquela história triste, Cristina sentiu um rápido calafrio. Em seguida uma voz sussurrou em seu ouvido:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Liberte-me, por favor! Só você pode “nos” salvar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristina assustou-se. Não conseguiu compreender o singular e o plural contido naquela triste lamentação. Sua mente estava confusa, pois, agora, parecia que outras pessoas, além de seu tataravô, precisavam desesperadamente de sua ajuda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Corajosamente ela levantou sua cabeça e percebeu que Atos a observava suplicantemente. Foi neste momento que descobriu, finalmente, quem era o orador da voz que tanto a atormentou naquele dia. Então, levantou-se e parou diante da imagem, aguardando submissamente as ordens que salvariam sua família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por um longo período a imagem de Atos concentrou-se em Cristina, admirando sua coragem e determinação. Sabia, por algum motivo, que aquela descendente consangüínea havia nascido para salvá-lo. Mas essa não seria uma simples salvação, e sim o encerramento definitivo de um tenebroso contrato feito por ele com o Mestre das Sombras e que, ao longo dos séculos, resultou no sofrimento de tantas pessoas e suas almas. Almas que, agora, clamavam por liberdade em busca da Luz Eterna; uma Luz que lhes traria conforto e paz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com calma e serenidade, Cristina dá os primeiros passos em direção à imagem de Atos. No instante em que ela se aproximava, suspirava pausadamente, esforçando-se para mover o peso de seu corpo, já cansado e maltratado pelo tempo. O ambiente escuro e empoeirado da biblioteca criou o clima necessário para aquele acontecimento tão importante e histórico, que selaria definitivamente a paz no sombrio casarão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por um longo período, enquanto Cristina ficou diante da imagem de Atos, sua memória voltou-se para seu passado de prazeres e sofrimento, fragilizando-a lentamente na medida em que observava seu orador. Seus olhos brilhavam de esperança, seus lábios expressavam um leve sorriso, suas mãos apertavam-se com confiança, sua voz permaneceu em baixo tom, seus cabelos balançaram ao entrar em contato com a suave brisa que circulava no interior do cômodo, sua face permaneceu iluminada diante da branca névoa à sua frente e sua alma encheu-se de esperança, dominando sua mente e seu coração, acalentando-a confortavelmente diante de toda aquela situação especial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando Cristina chegou a um metro daquele fenômeno, tentou tocar o rosto de Atos, mas em vão. Suas mãos espalharam a densa névoa, tornando a visualização difícil. Decepcionada, ela aguarda alguns segundos e tenta novamente, pois estava confiante que, após aqueles acontecimentos sobrenaturais, poderia tocar o rosto de seu tataravô. Uma forma de agradecimento à chance que ele havia lhe dado para fechar aquele quebra-cabeça, onde ela era o único descendente da família que foi reservado, protegido e fortalecido por Deus ao longo dos anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Inesperadamente, mãos invisíveis elevaram seu corpo e deixaram-na face a face com Atos. Ela, apesar de assustar-se, não se intimidou. Aproveitou a chance e começou um longo diálogo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Por que demorou tanto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Como assim? — interrogou Atos com voz cavernosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—O senhor poderia ter vindo a mais tempo, evitando que eu sofresse todos esses anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olhando no fundo dos olhos de Cristina, ele respondeu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Já ouviu falar em Livre Arbítrio?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Pois bem! Eu também tenho esse conhecimento, mas joguei-o no lixo no exato momento em que decidi ir pelo caminho mais fácil para aliviar meus sofrimentos. Hoje vejo que, se tivesse me entregado de corpo e alma a uma vida mais simples, todo esse sofrimento não existiria. Todas essas almas atormentadas, assim como a minha, poderiam estar, agora, nos braços de Deus. O Criador de Todas as Coisas e a Luz que Não se Apaga. — Algumas almas materializaram-se ao redor de Cristina e por toda a biblioteca. Elas também clamavam silenciosamente pela sua ajuda, enquanto iam observando o desenrolar daquele longo diálogo. — Por isso arrependo-me até hoje das escolhas que fiz, assim como você também as fez. — Uma pausa, um silêncio e o som de um único coração pôde-se ouvir no enorme cômodo; era o de Cristina, que, agora, aguardava pelo desfecho daquele diálogo sincero e revelador. —Por isso eu lhe suplico: Liberte-nos, por favor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curiosa, ela interroga mais uma vez:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—O senhor disse “liberte-nos”, e não “liberte-me”. Há mais alguém que eu não conheça que precise de ajuda?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim! Muitas. — respondeu Atos firmemente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—E quem são essas pessoas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olhando no fundo dos olhos de Cristina, e aproximando-se de sua face, ele disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Vou contar-lhe uma pequena história e você compreenderá. Durante todos esses anos, várias pessoas participaram dos rituais secretos que eu financiei. Entre elas estavam presentes nossos familiares, empregados, parceiros comerciais, alguns curiosos e todas as prostitutas existentes ao nosso redor. — Cristina assustou-se, mas Atos prosseguiu — Parece estranho, não é? Mas você já vai entender. As prostitutas nunca poderiam faltar aos rituais, pois elas eram as únicas que estavam habilitadas a ser sacrificadas e ter seu sangue derramado para ser oferecido como licor a todas as pessoas presentes no momento. E, por estarem completamente possuídas, não conseguiam distinguir o gosto do líquido, mas podiam sentir sua energia. Além disso, tudo aconteceu de acordo com as Leis do Maligno, que decidiu esse desfecho como forma de insulto a Deus, pois ele acredita fielmente ser uma das maneiras mais baixas para mostrar seu domínio sobre as Criaturas Divinas. Ou seja, sobre os filhos do Criador, que foram criados à Imagem e Semelhança do Pai. — Atos deu uma pequena pausa e concluiu — Compreendeu agora?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todas aquelas ásperas e sinceras palavras dominaram a mente de Cristina como um filme de terror, do qual sentiu-se um dos protagonistas. Queria que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo de criança, onde ela poderia acordar e buscar auxílio no colo de sua mãe. Porém, estava sozinha, assustada e cheia de feridas que a acompanham desde sua escolha. Então, no momento em que ela ia falar, sentiu um aperto em seu ombro. Percebeu que uma das mãos invisíveis materializou-se e a tocava com carinho. Aos poucos seus olhos moveram-se até chegar ao rosto de quem a tocou, que se apresentou ao lado dela com um belo sorriso nos lábios. Era uma menina linda que, agora, a observava com ternura; e, antes que a curiosidade de Cristina ecoasse pelo cômodo, surpreendeu-se com a afirmação que saiu dos lábios dela:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Oi, netinha! Não tenha medo. Estamos aqui para protege-la. Vai dar tudo certo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com o coração palpitante e um sentimento de saudade, Cristina chorou. Seus olhos não puderam conter a emoção daquele momento, pois ela sabia que sua avó também havia sofrido como ela. Então, começaram a ser projetadas ao lado da face de Atos os belos momentos em que elas passaram juntas. Viu o momento em que foi acalentada por sua avó após seu primeiro choro, pois ela havia sido a parteira de sua mãe e a responsável por trazê-la com segurança a este mundo. Um nascimento incomum em famílias de boa condição financeira naquela época. Porém, nesse mesmo dia, a parteira e empregada de confiança da família havia acabado de falecer. Não conseguiu resistir à horrível e sangrenta tuberculose, esvaindo pela boca e narinas todo o sangue que, naquele momento, decretou sua sentença de morte, ceifando sua vida e impedindo-a de realizar seu último parto na geração da família para a qual trabalhou com tanto amor e dedicação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num gesto de carinho, Cristina toca o rosto espectral da avó. Suas mãos, agora suadas pela ansiedade de toda aquela emoção, não puderam conter o seu tremor. Ela queria que aquele momento não cessasse e a mantivesse absorvida pelas alegrias de seu passado de menina, onde sua inocência podia respirar aliviada e de forma inviolável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diante de suas mãos trêmulas e do ar de felicidade que brotou de seus lábios, Cristina perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Vovó, é você mesma?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim! Com todo meu amor, respeito e admiração por você e por sua coragem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Não consigo entender por que papai e mamãe fizeram isso comigo... — disse ela soluçante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Com todas nós, as mulheres da família, não foi diferente, minha querida. E mesmo que seu tataravô tenha sido o causador de todo esse sofrimento que nós passamos, não podemos condená-lo, pois sei que ele agiu desesperadamente por amor à sua família. E ele nunca conseguiria imaginar que chegaríamos até aqui, atormentadas e com tantas histórias para contar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim! — confirmou Cristina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Por isso, mesmo que você não tenha vivido na mesma época, Atos espera ansiosamente por este momento. O momento do seu perdão. — Cristina olhou para o tataravô, sem fúria, no fundo dos olhos espectrais enquanto aguardava pelo desfecho daquela súplica. — Você pode perdoá-lo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste momento Cristina sentiu, mais uma vez, que o peso do destino havia caído novamente sobre suas costas. Estava com medo; e, agora, começava a ficar com frio. Um frio que a acompanharia até a lápide de seu túmulo, mas que não podia dominá-la ainda, pois o futuro de todas aquelas almas dependia de uma única resposta: o seu sim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Corajosamente Cristina tocou a face de Atos, que se materializou enquanto ela profeticamente respondeu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Eu te perdôo por tudo e por todos nós. Te perdôo por suas fraquezas, pois também fui fraca. Te perdôo por não ter acreditado ser possível salvar sua família com o suor de seu rosto e levando uma vida mais simples. Te perdôo por ter acreditado no caminho mais fácil e desprezado o mais difícil. Te perdôo por não ter acreditado na força de Deus no momento de seu desespero. E, finalmente, eu te perdôo por ter sido o causador de tudo o que nós sofremos até agora. Porém, me alegro com uma coisa: — deu uma pausa e olhou no fundo dos olhos de Atos, dizendo — Obrigada por ser meu tataravô. Sem o senhor eu não existiria e não estaria, neste momento, exercitando e demonstrando todo o amor que eu não tive de meus pais. Um vazio que sempre me consumiu, mas que, agora, começa a ser preenchida pelo seu arrependimento e carinho para comigo. Um carinho que eles me privaram de conhecer ao me apresentarem somente o valor material da vida, mas que passo a sentir, no fundo de minha alma, o seu verdadeiro valor a partir de agora. A partir do senhor. — Cristina abraça Atos, agora completamente materializado, e conclui — Obrigada! Muito obrigada, mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gentilmente, ele diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Pode me fazer um favor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Chame-me apenas de você. O Senhor está no Céu. Por isso estou aqui, humildemente, clamando por sua ajuda para que eu chegue até os braços d’Ele. Assim como você e todas as almas que se encontram nesta biblioteca também chegarão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como dois personagens carentes e apaixonados provindos de um livro, eles permanecem abraçados, com seus corpos flutuantes e ausentes do chão, por longos minutos, pois o tempo não importava naquele momento. Era apenas um aliado amigo que, agora, aproximava aquelas duas almas de forma eterna. Então, como o sopro para uma nova vida, a Morte apresentou-se a Cristina de forma silenciosa, enquanto ela sussurrou suas últimas palavras:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Deus abençoe nossas almas! Amém!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, então, ela fechou seus olhos para nunca mais acordar. Foi abraçada fortemente, com muita emoção, por Atos. Em seguida, todas as almas, que antes estavam aprisionadas no velho casarão, apresentaram-se de forma flutuante e alegre. Todas queriam agradecer aquela senhora especial e corajosa. E ninguém mais poderia machucá-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num gesto de sabedoria, Atos aproximou-se do livro que ele mesmo começou a escrever, pegou-o em suas mãos e lançou-o em direção à vela que estava cravada num castiçal e apoiada sobre a mesa, tombando-a sobre o grosso volume e incendiando completamente seu conteúdo maligno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após alguns segundos, foi possível ouvir o eco desesperado de todas as vozes infernais invadindo o interior da biblioteca. Elas gritavam de ódio perante mais uma derrota, abalando as estruturas do cômodo escuro e anunciando sua ruína.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste momento todas as mãos invisíveis e seus donos que antes tocavam o corpo de Cristina materializaram-se. Eram as crianças da família que, agora, flutuavam para a Paz Eterna levando o corpo da velha senhora. Seus rostos sorridentes alegraram-se ao ouvir as lamentações dos “seres infernais” derrotados, pois estes nunca mais poderiam machucá-los, mas clamavam a Deus para que eles também fossem libertados, pois só assim iriam conhecer o Verdadeiro Amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após saírem pela janela principal, puderam ver o casarão ruir e a propriedade desaparecer pouco a pouco. Um momento de tristeza para Atos, que teve que presenciar sua derrota carnal diante de tudo o que ele construiu aqui na Terra, mas um alívio para sua alma ao perceber que conseguiu construir sua chegada até os braços do Criador, levando consigo o maior presente que Deus espera de todos nós: Seus Filhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto carregava o corpo de Cristina nos braços, uma lágrima de alívio e felicidade brotou dos olhos de Atos, anunciando seu arrependimento e o prazer de ter conseguido consertar o mal que havia feito a tantas pessoas no passado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, então, toda a vegetação se renovou, dando lugar a um enorme campo de flores de todos os tipos e cores, anunciando o fim daquela loucura para todo o sempre e libertando as almas de todas as gerações que, agora, estavam salvas e livres, diante da Luz de Deus, para toda a eternidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Fernando Magaldi</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Data da conclusão dos manuscritos:</div>
<div style="text-align: right;">
28/12/2013 - 02:24h AM</div>
<div style="text-align: right;">
Madrugada de sábado</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Data do texto final digitado:</div>
<div style="text-align: right;">
22/11/2014 - 22:32h PM</div>
<div style="text-align: right;">
Uma noite feliz</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Data do texto final digitado, corrigido e ampliado:</div>
<div style="text-align: right;">
26/12/2014 - 01:25h AM</div>
<div style="text-align: right;">
Uma madrugada ausente de dor</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Data da correção final e ampliação:</div>
<div style="text-align: right;">
20/09/2015 – 15:36h PM</div>
<div style="text-align: right;">
Um sonho realizado</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Data da correção final definitiva:</div>
<div style="text-align: right;">
26/03/2016 – 00:50h AM</div>
<div style="text-align: right;">
Deus nos abençoe</div>
</span>FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-32877833609523077082013-12-16T01:03:00.001-02:002013-12-18T14:26:10.850-02:00A MENINA E A LUZ<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG-yUuddiRu3C06y-sVGqMKBkylxK-zf5QHm4-pCtIF95i45OeUTgXDQ8zpk-YTmBXZ_Z-yKt6nDeXRT5fOrxpLJLGpklnARs0vbVhX4w4RtA6elSfKyVWw_A-9Tu2tFcliO9MiIod3Pwo/s1600/P02-07-04_00.59.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG-yUuddiRu3C06y-sVGqMKBkylxK-zf5QHm4-pCtIF95i45OeUTgXDQ8zpk-YTmBXZ_Z-yKt6nDeXRT5fOrxpLJLGpklnARs0vbVhX4w4RtA6elSfKyVWw_A-9Tu2tFcliO9MiIod3Pwo/s400/P02-07-04_00.59.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Diante de todo aquele desespero, um forte cheiro
de fumaça, acompanhado de muita dor, sofrimento, angústia e arrependimento, se
espalhou lentamente pelo ar como que quisesse dizer ao Mundo: — “Ei! Olhe para
mim!” — de uma forma desesperada e sufocante. O acidente já havia acontecido e
parecia que o fim tinha chegado para todos os passageiros. Uma forma injusta de
morrer, mas compreensível de se entender aos olhares das pessoas que começavam
a passar naquele local escuro e isolado da longínqua e abandonada estrada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">No meio dos destroços alguns rapazes, entre eles o
motorista, feriram-se gravemente. Um deles não resistiu à dor da Morte, que
estava completamente disponível a qualquer alma que se sentisse infeliz naquela
estressante e humilhante situação de caos; e, entre os destroços, uma bela
menina conseguiu mover um dos dedos, mesmo que involuntariamente, dando seu
primeiro sinal de vida diante de toda aquela situação mortal; ela ainda não
sabia que estava viva, mas a Morte ficou ao seu lado aguardando o momento certo
para entrar <st1:personname productid="em a ̄o. Por←m" w:st="on">em ação. Porém</st1:personname>,
ela sabia que aquela vida à sua frente passava temporariamente por suas mãos como
uma obra de esperança que Deus reservara aos homens, e que tinha tanta
importância quanto o milagre de uma criança ao balbuciar suas primeiras
palavras. E foi neste momento que a menina se debateu enquanto caía em sono
profundo. O calor das ferragens atiçou sua memória explosivamente, conectando
seus neurônios e transmitindo uma inesperada mensagem no momento em que sentiu
sua alma afastar-se de seu corpo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Uma luz suave envolveu a jovem menina no instante
em que aquela situação sobrenatural começou a acontecer. Ventos fortes pareciam
querer apagar qualquer forma de possibilidade do veículo explodir, deixando o
local frio e tenebroso. Mesmo assim a Morte permaneceu calada, acompanhada de
sua foice e seu olhar fúnebre, enquanto aquele estranho fenômeno desenrolou-se
diante de seus olhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">A jovem menina sentiu uma enorme paz. Era como se
estivesse em um sono profundo e restaurador. Ela olhou para cima e viu uma
forte luz. Porém, em seu interior uma imagem começou a chamar sua atenção. Não
havia como descrever o que estava acontecendo, mas um momento de rara beleza
transformou completamente suas expectativas diante da possibilidade de se
encontrar pessoalmente com o Criador no Paraízo. Então, a jovem menina viu um
homem, com idade aproximada de 40 anos, observando-a ternamente. Era como se
aquela pessoa a conhecesse há vários anos, como um verdadeiro amigo do coração
que se aproxima em momentos de dor e sofrimento para demonstrar todo seu valor;
e, nesse exato instante, a alma da menina aproximou-se, dizendo:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Oi! Tudo bem?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Tudo bem! — disse o homem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Você é Jesus?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Não! Por quê? Você o procura?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Na verdade não sei. É que estou vendo minha vida
terrena se afastando de mim enquanto me aproximo de você. Também estou sentindo
uma paz muito grande em meu coração, agora. Por isso achei que estava chegando
no Céu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">O homem olhou para a menina sorridente e disse:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Você não está no Céu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Não? Então o que estou fazendo aqui?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Acalme-se, menina! Você está aqui apenas para
ouvir o que eu tenho a lhe dizer. Por isso afastou-se de seu corpo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Então isso quer dizer que eu não morri?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Sim! Exatamente! Você está aqui porque o Criador
permitiu que eu falasse diretamente com você neste momento de dor e sofrimento.
Ele sempre soube o que aconteceria. Por isso deixou-me vir até aqui para lhe
dizer toda a verdade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Verdade? Que verdade? Não estou entendendo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—A verdade é que eu vou precisar de você. Por isso
sua hora ainda não chegou. Portanto, volte em paz e viva com sabedoria. Mas
saiba que você irá sofrer muito e que, no fim, compreenderá o significado
dessas dores. Elas lhe trarão Vida. Uma Vida que você nunca irá esquecer e nem
se arrepender de ter vivido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">A jovem menina olhou para o homem decepcionada,
pois não queria sofrer. Mas sabia que, naquele momento singular e especial, não
era dona de seu destino. Porém, estava ciente de que seu futuro dependeria da
história que ela escreveria a partir daquele momento mágico e excitante. Então
o homem levou-a novamente ao seu corpo terreno, mesmo que frágil, soprando-a
para a luz da Vida, ao mesmo tempo em que a imagem ceifadora da Morte se
afastava, desintegrando-se como pó diante de toda fumaça e poeira do violento
acidente que havia acontecido naquela noite.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">A jovem menina suspirou sufocantemente para a
vida. Sentia dores por todo o corpo, um gosto de morte nos lábios, um ardor
salgado nos olhos, o chão áspero e duro, a poeira densa, um calor insuportável
e uma pulsação que se acelerava na medida em que ela começou a enxergar, mesmo
que turvamente, a cena que estava à sua volta. Isso foi o suficiente para a
menina perceber que havia escapado de um acidente terrível, mas não explicava a
razão de sua vida. Viu que, diante de seus poucos amigos, alguns mortos e
dilacerados, com suas carnes expostas, seus ossos brancos à vista, seu sangue,
ora coagulado, ora ressecado sobre o asfalto, as ferragens retorcidas e um
cheiro fortíssimo de gasolina que se alastrava a cada segundo, teria que
levantar-se com o próprio esforço. Ninguém estava consciente para ajudá-la e
nem forte o bastante para levantá-la. Teria que fazer tudo sozinha, mesmo
diante das dores no corpo e na cabeça, que parecia ter sido tocada mais
“violentamente” durante sua queda. Uma dor que não era comum, mas que latejava
como se alguém tivesse aberto e fechado-a novamente, sem anestesia ou qualquer
outro recurso da Medicina que a aliviasse daquele angustiante sofrimento; e foi
neste exato momento que a jovem menina se recordou da imagem que viu. Não sabia
se tinha sonhado ou se alguém tentou acudi-la no momento em que esteve
desacordada. Porém, lembrou-se perfeitamente das poucas palavras que ouviu e
que insistiam em se repetir à medida que ela recobrava sua consciência:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">“—...eu vou precisar de você. Por isso sua hora
ainda não chegou. Portanto, volte em paz e viva com sabedoria.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">E foi o que ela fez.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">(§:§)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Conscientemente, ano após ano depois do horrível
acidente, a jovem menina buscou diariamente os difíceis caminhos que a levariam
à tão sonhada e repetida frase que não saía de sua mente. Ela queria ser sábia.
Por isso estudou incansavelmente. Lutou contra tudo e todos. Sofreu
discriminações entre amigos e familiares, pois era filha de mãe solteira, e percebeu
as primeiras dores de ter sido abandonada por seu pai enquanto enxergou as dificuldades
que sua mãe passou para criá-la sozinha antes de se casar com o padrasto, que
diariamente acometia a jovem menina a dores e humilhações semeadas por ele e
por seus descendentes consangüíneos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">As torturas começaram quando veio à vida seu
primeiro irmão, fruto da união de sua mãe e seu padrasto. Ele foi o único homem
do casal e, talvez, o mais amado entre os filhos. Porém, essa incerteza
manteve-se por anos, pois a menina ganhou mais 3 irmãs que a ofuscaram. Então, insistentemente
e com a ajuda de Deus, ela foi vencendo as dificuldades com muita coragem ao
mesmo tempo em que sentia medo. Seu olhar triste, que ela demonstrava
disfarçadamente quando estava em alguma roda de amigos, não negava toda a
angústia e terror psicológico pelo qual passava diariamente. Inclusive alguns a
interrogavam sempre nos dias em que estava mais frágil e sensível a respeito do
horrível acidente. Ela disfarçava e falava que “...o que passou, passou”.
Porém, seu coração gritava de dor todas as vezes que se lembrava desse
“episódio” em sua vida. Algo como pequenos flashbacks que a atormentavam à
medida em que sentia-se sufocada pelos fantasmas do passado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Corajosamente ela foi se afastando de sua antiga
história enquanto ia escrevendo um novo presente, focado na felicidade que ela
tão sonhava para sua nova vida e seu futuro, de modo que a aliviasse das
tormentas familiares que diariamente a perseguiam; por isso se desdobrou entre
os estudos e o trabalho, tornando-se independente financeiramente e respeitada
diante de sua família e seus amigos que, em sua grande maioria, preferiam dar
desculpas sempre que lhes perguntavam por que não trabalhavam igual a menina.
Mas as desculpas, como sempre, era as mesmas que se ouvia há anos:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">“—Não preciso trabalhar! Meu pai me dá dinheiro.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Sempre que a jovem menina ouvia esta afirmação
caía em profunda tristeza, pois ela acreditava que eles tinham a vida que sempre
sonhou. Uma vida sem cobranças, sem julgamentos e sem brigas; brigas que se
estenderam em sua vida no dia em que seu filho nasceu, fruto de um amor puro e
simples onde os sonhos e a ansiedade se misturavam sempre que imaginava um
futuro mais feliz. Porém, o momento não foi propício a ela. Com isso se decepcionou
com o mundo por vários anos, que diariamente a massacrava, julgava e condenava,
machucando-a física e psicologicamente e empurrando sua estima para um abismo
sem fim e sem luz. Mas isso não foi o suficiente para abatê-la, pois, quando
pensou em desistir e se entregar, apareceu uma ajuda inesperada e milagrosa
durante todo o seu sufocante martírio que revirou sua vida de forma poderosa. Ela
teve a ajuda de um homem muito bondoso que percebeu sua situação solitária,
sempre a custeando em momentos importantes e tornando a criação de seu filho,
além de seus estudos na faculdade, um prazer indescritível.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Os anos se passaram e a menina, que agora se transformara
em mulher, priorizou a educação de seu filho na base da sabedoria e do diálogo,
tornando seu dia-a-dia cada vez mais espetacular. Os limites, o incentivo à
leitura e à Arte também passou a fazer parte do cotidiano daquela pequena
família, pois a jovem mulher percebeu que sua própria vida se transformou
completamente no instante em que começou a desenvolver seu intelecto, mesmo que
solitariamente ou com a ajuda de sua mãe nos momentos difíceis em que a afastou
dos conflitos familiares; conflitos estressantes que começaram a diminuir à
medida que o padrasto da jovem mulher foi se apaixonando pelo neto. O primeiro
de sua vida até então. Com isso, naturalmente, os momentos na casa foram se
iluminando aos poucos, ano após ano, e derrubando as barreiras das antigas
discussões familiares através daquela nova vida que iniciava. Aquele momento
novo para todos os moradores tornou-se uma inspiração diante das dificuldades
que surgiam, mas eram sempre amenizadas quando a criança sorria. Um sorriso
simples e sincero que o menino abria para todas as pessoas que, agora, faziam
parte de seu mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">A jovem mulher estava orgulhosa de seu filho. Às
vezes choravam em silêncio pelos cantos da casa, tanto de alegria como de
tristeza, mas nunca perdendo as esperanças.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">O menino cresceu e a mãe alegrou-se ao vê-lo em
seu primeiro emprego, seu primeiro namoro, seu primeiro noivado e, por fim, com
seu casamento. E foi neste momento feliz que ela sentiu como se algo estivesse
sendo arrancado de seu corpo e sua alma; então, uma forte solidão tomou conta
de seu coração, dominando seu ser e controlando sua vida de forma angustiante,
pois, em seu íntimo, acreditou ter “perdido” um filho, mesmo sabendo que havia
“ganhado” uma filha. Uma nora de ouro que sempre entrou em conflitos com ela
devido sua forma diferente de pensar e agir; e essa guerra psicológica
permaneceu por 13 anos. No fim, a jovem mulher, agora uma senhora idosa,
debilitou-se e precisou do amparo da nora e do filho. Ambos acolheram a preciosa
causa, cuidando, rezando e acalentando todas as tormentas daquela frágil serva
de Deus.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Em momentos de solidão a senhora permanecia em seu
quarto relembrando os bons momentos que teve quando seu filho ainda estava sob
sua proteção. Mas alegrava-se toda vez que ele lhe fazia uma visita. O filho,
angustiado, se preocupava diariamente com a depressão que estava consumindo
lentamente sua mãe. Porém, alguns anos depois a senhora decidiu visitar o
filho, agora pai de 3 lindas filhas adotivas; e essa inesperada experiência
trouxe a ela um imenso bem, pois, num dos dias em que fez sua visita,
deparou-se com outra senhora que, naquele momento, fazia a faxina e ajudava a
cuidar das crianças do casal. Além disso, ela possuía um forte poder de
intercessão. Foi aí que a mãe do filho, coincidentemente, perguntou à senhora
se ela sabia orar, pois estava disposta a encontrar nas palavras de Deus a cura
que os remédios não estavam fazendo; e foi assim que tudo mudou.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Uma forte oração de cura interior começou no
momento em que a senhora perguntou à mãe:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Você quer ser curada, minha filha?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Chorosamente, a senhora respondeu:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Quero!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Acredita no poder de Deus, Jesus e na intercessão
de Maria Santíssima e José?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Sim!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">—Então veja! — disse ela segurando a Bíblia com
uma das mãos — Assim, fechado, isso é um livro qualquer. Aberto, é a Palavra de
Deus Vivo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Neste momento, a senhora abriu a Bíblia, sem ver,
e colocou-a no colo da mãe. Então uma forte palavra de Deus apresentou-se a
ela. Era o Salmo 39, versículos 1 ao 4, que diz:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">“² Esperei no Senhor com toda a confiança,<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Ele se
inclinou para mim, ouviu meus brados.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">³ Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo,<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;"> Assentou-me
os pés numa rocha, firmou os meus passos.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;"> Pôs-me nos lábios um novo cântico,<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;"> Um
hino à glória de nosso Deus.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Muitos verão essas coisas e prestarão homenagem a
Deus,<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;"> E
confiarão no Senhor.”<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Depois deste episódio, a senhora nunca mais pensou
em doenças ou em buscar auxílio nos<st1:personname productid="em hospitais. Sua" w:st="on"> hospitais. Sua</st1:personname> vida tornou-se mais colorida e
seus olhos, os das meninas, do filho e da nora, brilharam diante da cura que
havia sido consumada. Ela passou a visitar a casa do filho e acostumou-se com a
alegria e o carinho das crianças, que fizeram com que seu coração voltasse ao
passado nos tempos de menina, transformando completamente seu tormento em
alegria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">A paz voltou ao lar da Jovem Menina, acalentando
seus familiares e permanecendo diante dela; e, num destes momentos felizes, a
senhora decidiu abrir seu coração e contar ao filho sobre o acidente de sua
adolescência, pois havia percebido como ele, agora com 40 anos, assemelhava-se
com a pessoa que disse, em sua semi-morte, que precisaria dela. E foi neste
momento que ela enxergou que precisava viver para dar à luz ao seu filho amado.
Filho este que, agora, lhe trazia mais 3 novas vidas inocentes e carentes,
também, de sua proteção.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Finalmente a senhora compreendeu que este foi o
início de uma nova vida, reservada a ela por Deus, que estava apenas começando.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></i>
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Fernando Magaldi</span></span></i><br />
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Data do texto original: 02/12 a 07/12/2013<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: Garamond;"><span style="font-size: large;">Data do texto final: 16/12/2013</span></span></i><i><span style="font-family: Garamond; font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-50491087653012411642013-12-10T00:37:00.001-02:002013-12-10T17:07:48.418-02:00Construindo o Conto "A MENINA E A LUZ" - Detalhes De Composição<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Enquanto o conto de terror e suspense baseado no livro de Padre Jonas Abib (Sim, sim! Não, não!), entre outras fontes que estou estudando, não fica pronto, me inspirei diante de algumas situações que presenciei e construí um novo conto que se chamará "<b>A Menina e a Luz</b>".</span></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Este será mais um daqueles contos cotidianos em que incluo fantasias e situações sobrenaturais, onde a base é o <b>Amor</b>. Por isso prefiro usar a palavra "<b>cotidiano</b>" ao invés de "<b>drama</b>", pois acho mais adequado ao tipo de textos que produzo.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Abaixo você poderá ver algumas partes de meus <b>manuscritos</b>, onde mostrarei parte da construção do conto, que sempre é lapidado à medida em que vou finalizando o texto no <b>Word</b>.</span></div>
</div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdYWTFsRl7XWb-KAaxPjGPgsif-qreLKwGnPn5ACoG7vaDSvjYPVVHWzfRehwDxaBcK3X4d5sqBTzO46qbBu4UtphRETZYNTm9nPrVWRS5v5691ePuoyUMIF8YIumLl9KfVip_-X9nTcKX/s640/blogger-image-155656669.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdYWTFsRl7XWb-KAaxPjGPgsif-qreLKwGnPn5ACoG7vaDSvjYPVVHWzfRehwDxaBcK3X4d5sqBTzO46qbBu4UtphRETZYNTm9nPrVWRS5v5691ePuoyUMIF8YIumLl9KfVip_-X9nTcKX/s400/blogger-image-155656669.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<span style="font-family: inherit;">Como você pode ver, usei uma caderneta para escrever o conto. Ela me deu mais liberdade porque eu podia levá-la a qualquer lugar e registrar minhas ideias à medida em que surgiam.</span></div>
</div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYk-6zZYpoLZw56jLJ_sgLrj53VqMDIo-QCFgVSSpqX7rKPLFEitzAaiavgVKN4smAWyeacpDGO0jJuOc8E3gPmWslqziR-tLoyIAX6c8wvgJEMI7Egdlvo9Y3NjYwrwmPqK3YJYZBv4Ep/s640/blogger-image-1511646820.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYk-6zZYpoLZw56jLJ_sgLrj53VqMDIo-QCFgVSSpqX7rKPLFEitzAaiavgVKN4smAWyeacpDGO0jJuOc8E3gPmWslqziR-tLoyIAX6c8wvgJEMI7Egdlvo9Y3NjYwrwmPqK3YJYZBv4Ep/s400/blogger-image-1511646820.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O conto foi todo construído de modo que o leitor não pare de ler, onde empreguei em muitas partes o recurso do ponto-e-vírgula para manter o assunto do parágrafo interessante e, em alguns momentos, sufocante.</span></div>
</div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2RR2DL7z-TN15ls3nIPHB3EVtFwLJXjRRGttSbCYWbT-bIK39OjTZRXGrjNAhOk-3_qDy37AkaUqsXNhzxv4Y0oOezO1hngSyYDFdVnUILTrACr02r7gHFYChXC30tZW51KnfFYfCHy_x/s640/blogger-image-1756972373.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2RR2DL7z-TN15ls3nIPHB3EVtFwLJXjRRGttSbCYWbT-bIK39OjTZRXGrjNAhOk-3_qDy37AkaUqsXNhzxv4Y0oOezO1hngSyYDFdVnUILTrACr02r7gHFYChXC30tZW51KnfFYfCHy_x/s400/blogger-image-1756972373.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">As alterações de parágrafos, rasuras e pontuações foram pensadas minuciosamente para tornar o texto linear, simples, direto e, ao mesmo tempo, detalhado sem ser complicado.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHQSUYsBqWu8pG8CfK9jAghylLpHqiHEXbNiiDbj567Wx5Vt4cmfM2nvAURxRs9A6CJcz4hMSFbma0LWTfT28rhcXzGLmvd6m43tgkGJxN85RhXH7PETfRcu1aVcfdU9Bu8QqdeBEa9QLu/s640/blogger-image--1906239094.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHQSUYsBqWu8pG8CfK9jAghylLpHqiHEXbNiiDbj567Wx5Vt4cmfM2nvAURxRs9A6CJcz4hMSFbma0LWTfT28rhcXzGLmvd6m43tgkGJxN85RhXH7PETfRcu1aVcfdU9Bu8QqdeBEa9QLu/s400/blogger-image--1906239094.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Por fim, na foto acima você pode ver que rasurei o título duas vezes. E, em todos os meus contos, sempre me preocupo com essa parte (às vezes mais que o conto em si) pois considero os títulos a alma de meus trabalhos devido seu significado profundo com o tema central de cada obra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Na próxima postagem publicarei essa história emocionante, e tenho certeza que amolecerá seu coração.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
Bem, por enquanto é isso!<br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Um abraço a todos!</span></div>
</div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
</div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-3741563519188966232013-11-13T08:38:00.001-02:002013-11-13T11:19:38.198-02:00Lançamento de Meu 2º Livro - "Organizando Sua Produtora De Vídeo"<div style="text-align: justify;">
Enquanto o livro "<b>CONTOS FANTÁSTICOS - Terror, Amor e Suspense</b>", que intitula este blog, não fica pronto, pois há muitas histórias por vir antes da publicação de minha primeira obra literária, decidi apresentar a vocês mais este projeto pessoal, que se chama "<b>Organizando Sua Produtora De Vídeo</b>".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyAoTNNWX4RXdvVspT3Ob1FUaIaN1kM6cXYQd5RjN6gxWwvHbRElGbxq33fcHvBvc7T76DBgFTLlJbDrx7bVcleQJ-OqFeeC-KEGxB4HuY1mL9AapgAGPhvKpNV1q_Zb5LlO08c8y0FBlP/s1600/capa-livro_Organizando_Sua_Produtora_De_Video_-_14x21cm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyAoTNNWX4RXdvVspT3Ob1FUaIaN1kM6cXYQd5RjN6gxWwvHbRElGbxq33fcHvBvc7T76DBgFTLlJbDrx7bVcleQJ-OqFeeC-KEGxB4HuY1mL9AapgAGPhvKpNV1q_Zb5LlO08c8y0FBlP/s400/capa-livro_Organizando_Sua_Produtora_De_Video_-_14x21cm.jpg" width="266" /></a></div>
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<br /></div>
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Este é um trabalho voltado para o mercado audiovisual. Porém, nesta obra eu faço um "passeio" psicológico e prático sobre como se encontra o mercado nos dias de hoje e o que precisamos fazer para ajudar no gerenciamento de nossa carreira ou emprego no ramo audiovisual.</div>
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<br /></div>
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Acredito que minhas opiniões, que são apresentadas neste livro e foram escritas baseadas em minha carreira profissional, irão ajudar muitas pessoas, independente da profissão que elas tenham, pois eu abordo o lado "humano", deixando o lado "técnico" como uma opção que o próprio profissional fará, mas que, para haver sucesso, ele deve entender que um não vive sem o outro. Ou seja: Demonstro neste livro a importância de se usar a RAZÃO e o CORAÇÃO na produção de suas obras audiovisuais.</div>
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<br /></div>
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Abaixo segue o link para a aquisição de seu exemplar:</div>
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<a href="https://clubedeautores.com.br/book/154594--Organizando_Sua_Produtora_De_Video#.UoNREXDryHQ"><b>https://clubedeautores.com.br/book/154594--Organizando_Sua_Produtora_De_Video#.UoNREXDryHQ</b></a></div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Obrigado às pessoas que têm compreendido e me apoiado nestas obras, pois são trabalhos que foram feitos com muito carinho e dedicação.</div>
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<br /></div>
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Um abraço a todos e até a próxima postagem!</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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DIREITOS AUTORAIS DA OBRA</div>
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<br /></div>
<a href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR" rel="license"><img alt="Licença Creative Commons" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/3.0/88x31.png" style="border-width: 0;" /></a><br />
<span href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dct:title" rel="dct:type" xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/">Organizando Sua Produtora De Vídeo</span> de <a href="https://www.clubedeautores.com.br/book/154594--Organizando_Sua_Produtora_De_Video#.UoN2wnDryHR" property="cc:attributionName" rel="cc:attributionURL" xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#">Fernando Magaldi</a> é licenciado sob uma <a href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR" rel="license">Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada</a>.<br />
Baseado no trabalho em <a href="https://www.clubedeautores.com.br/book/154594--Organizando_Sua_Produtora_De_Video#.UoN2wnDryHR" rel="dct:source" xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/">https://www.clubedeautores.com.br/book/154594--Organizando_Sua_Produtora_De_Video#.UoN2wnDryHR</a>.<br />
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em <a href="http://www.blogger.com/fermagaldi@ig.com.br" rel="cc:morePermissions" xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#">fermagaldi@ig.com.br</a>.<br />
<br />FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-8643441945949290232013-10-07T01:32:00.001-03:002013-10-31T11:45:45.065-02:00Novo Conto No Forno - Pesquisa, Inspiração, Dedicação<div class="separator" style="clear: both;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4f6MXr8un_Z9dJ8AVFOShDgglS8Fg9XhozO5q51ikIxKcPV2m2qB1QLBQBWy_0NBq582CrCmvZbaWefC2zVjowkWrK8m5t3kHRMnWcEL1-aYQ23OUjlbcA6ZLxQ9Vk6jAI13qi3-40JzO/s1600/IMG_1017.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4f6MXr8un_Z9dJ8AVFOShDgglS8Fg9XhozO5q51ikIxKcPV2m2qB1QLBQBWy_0NBq582CrCmvZbaWefC2zVjowkWrK8m5t3kHRMnWcEL1-aYQ23OUjlbcA6ZLxQ9Vk6jAI13qi3-40JzO/s400/IMG_1017.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Após alguns meses de descanso, comecei a produzir mais um conto de terror/suspense conforme você pode ver na foto acima.</div>
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<br /></div>
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Usando um pouco de técnica, imaginação e dedicação, resolvi usar o famoso e renomado livro de Padre Jonas Abib (Fundador da Comunidade Canção Nova, e do qual sou admirador há mais de 14 anos) e atual Monsenhor da Igreja Católica Apostólica Romana, como fonte de consulta para me integrar sobre o espiritismo e seus males. Se você tem interesse em conhecer profundamente este assunto, adquira seu exemplar neste link: <a href="http://www.estantevirtual.com.br/q/pe-jonas-abib-sim-sim-nao-nao">http://www.estantevirtual.com.br/q/pe-jonas-abib-sim-sim-nao-nao</a>. O livro foi proibido em 2008 por acusação de intolerância religiosa. Para mim, essa é a volta da CENSURA, como no regime militar. Uma decisão judicial que não tem cabimento nos dias de hoje. E eu duvido que o livro fosse proibido se não tivesse vendido tanto. Afinal, foram mais de 400.000 exemplares.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Voltando ao assunto, neste conto não estou poupando detalhes, de forma que o leitor irá se sentir obrigado a ler toda a história até o fim.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Não é uma continuação do "Moço Do Vento", mas a semelhança com uma das personagens irá dar essa impressão para as pessoas que leram o conto atentamente. Aparentemente, um relato de como tudo começou e como terminou.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Será mesmo?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Você terá que aguardar para ler e tirar suas próprias conclusões.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Um abraço a todos e até a próxima postagem!</div>
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<br /></div>
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<b>Fernando Magaldi</b></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-10761745141650078792013-10-03T12:04:00.000-03:002013-10-03T12:04:55.021-03:00Micro-Conto: ILUMINADA PELA LUA<br /><br /><div style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXFYaNY7fKycxbt2XcaiFWDujGL7MbLDAEzkE-eWyNFcW_GsjMPafwycmQ6vo3rciZ6H8ix9mtywVKNO_LsqYnmk8m1xJIJSq6GPbN5aG3jMgm6KGui7vhPdFR6IepSV4sk0Y43z1w0TnW/s1600/Iluminada_Pela_Lua.jpg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXFYaNY7fKycxbt2XcaiFWDujGL7MbLDAEzkE-eWyNFcW_GsjMPafwycmQ6vo3rciZ6H8ix9mtywVKNO_LsqYnmk8m1xJIJSq6GPbN5aG3jMgm6KGui7vhPdFR6IepSV4sk0Y43z1w0TnW/s400/Iluminada_Pela_Lua.jpg" /></a></div>
<br /><div style="text-align: justify;">
A luz era fraca naquele quarto. Uma brisa entrava pela janela, acompanhada pela luz da lua, como se abençoasse aquele momento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Joana —disse Luis Carlos— eu te amo muito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Sim! Eu sei disso! —disse Joana— Você sempre diz isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Mas eu quero só reforçar pra que fique registrado na sua memória e no seu coração o amor que sinto por você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Nunca duvidei disso. Você sempre me falou, desde a primeira vez que me viu, que queria se casar comigo. Fiquei tão impressionada ao ouvir aquilo de um menino tão novo como você que me apaixonei à primeira vista. Sei que eu poderia ter sido uma companheira melhor! Mesmo assim eu tento todos os dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
—Joana, você é a mulher de minha vida. E se você tem alguma dúvida, lembre-se sempre de que estarei aqui, te esperando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Luis Carlos permaneceu sentado na beira de sua cama, com um toco de fumo de rolo nas mãos, ao mesmo tempo em que olhava para a cadeira vazia à sua frente, iluminada pela lua e por seus pensamentos puros e simples gerados pela esquizofrenia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*************************************************************</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
PS.: Luis Carlos Bonandi Barreto é meu cunhado e portador de esquizofrenia.</div>
<div style="text-align: justify;">
A história acima representa muitas conversas que tive com ele até hoje, demonstrando como uma mente pode ser fértil até na doença.</div>
<div style="text-align: justify;">
Deixar de contar uma história por preguiça não é desculpa. Um exemplo disso é que há 5 anos incentivo Luis Carlos a escrever um diário de memórias para aliviar tudo o que se passa em sua mente e seu coração. Com esta atitude, hoje reúno quase 6 cadernos escritos por ele. Ele continua escrevendo. Futuramente lançaremos um livro. E essa será sua primeira obra literária e uma resposta àqueles que não acreditam ou discriminam portadores de esquizofrenia. Uma verdadeira vitória contra uma doença que pode trazer luz até mesmo na escuridão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fernando Magaldi / 12 de Outubro de 2012/2013</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-64641328715021659072013-04-23T09:31:00.001-03:002013-11-14T09:31:15.227-02:00Lançamento do Meu 1º Livro "Curso de Edição de Vídeo + Adobe Premiere Pro"<div style="text-align: justify;">
Adiantando alguns trabalhos literários, venho divulgar aqui meu primeiro livro técnico: "Curso de Edição de Vídeo + Adobe Premiere Pro / básico - intermediário - avançado".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Abaixo uma descrição detalhada da obra!</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWnqOXYGGVfLs_x2_hY6tjSzjypYnFP1EFrZUQOfK-Wgzz62S-av8XaC_9LdFf78GzMOcN0iEHCJP9cWzjU8nvz73OgtGADPzEoXhg5pS7Z7SKVV-ENQFGm2Otn4gUfRGL7niwOy1o7Cu2/s1600/cover_front_big.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWnqOXYGGVfLs_x2_hY6tjSzjypYnFP1EFrZUQOfK-Wgzz62S-av8XaC_9LdFf78GzMOcN0iEHCJP9cWzjU8nvz73OgtGADPzEoXhg5pS7Z7SKVV-ENQFGm2Otn4gUfRGL7niwOy1o7Cu2/s400/cover_front_big.jpg" width="282" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="text-align: justify;">Já se encontra disponível para todos os interessados na Arte da Edição de Vídeo o meu livro "Curso de Edição de Vídeo + Adobe Premiere Pro". Uma obra simples e direta que tem o objetivo de levar o aluno desde a história, passando pela edição linear e não-linear, e finalizando com dicas profissionais, além de mostrar alguns segredos que só são percebidos ao longo da carreira do profissional de vídeo, como a PSICOLOGIA NA EDIÇÃO DE VÍDEO, por exemplo.</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com textos longos ou curtos, inseri algumas DICAS PROFISSIONAIS em quase todos os capítulos. Muitas delas onde apresento minha própria experiência como profissional do vídeo, de acordo com cada tópico abordado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além de tudo isso, esse livro é ilustrado. O que facilitará o aprendizado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma obra ideal para estudantes, profissionais, amadores ou simpatizantes por essa arte tão antiga, porém tão pouco conhecida a fundo pelas pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para adquirir o seu exemplar, entre no link abaixo. Você será direcionado para o site Clube de Autores:</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.clubedeautores.com.br/book/142888--Curso_de_Edicao_de_Video__Adobe_Premiere_Pro">http://www.clubedeautores.com.br/book/142888--Curso_de_Edicao_de_Video__Adobe_Premiere_Pro</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um abraço a todos e bom estudo!<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR" rel="license"><img alt="Licença Creative Commons" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/3.0/88x31.png" style="border-width: 0;" /></a><br />
<span href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dct:title" rel="dct:type" xmlns:dct="http://purl.org/dc/terms/">Curso de Edição de Vídeo + Adobe Premiere Pro</span> de <a href="http://consultoriaetutoriais.blogspot.com.br/2013/04/curso-de-edicao-de-video-adobe-premiere.html" property="cc:attributionName" rel="cc:attributionURL" xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#">Fernando Magaldi</a> é licenciado sob uma <a href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt_BR" rel="license">Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada</a>.<br />
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em <a href="http://www.blogger.com/fermagaldi@ig.com.br" rel="cc:morePermissions" xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#">fermagaldi@ig.com.br</a>.<br />
<br />
<br />FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-25712116273509487702012-11-25T17:25:00.001-02:002012-11-25T17:25:13.495-02:00O MOÇO DO VENTO - parte 4 - final<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando o dia amanheceu, Jonas
e Carla abriram os olhos anunciado um delicioso despertar. Ao mesmo tempo a luz
matinal tocava seus rostos com suavidade. O calorzinho daquele momento era tão
bom que os “obrigou” a permanecer mais alguns minutos na cama. Porém o estômago
deles começou a reclamar do vazio. E um bom banho iria ajuda-los a despertar e
jogar a preguiça de lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla adiantou-se e, após o
banho, preparou um delicioso café da manhã. Fez torradas, enfeitou a mesa com
vários tipos de geleias, frutas, sucos e outras delícias. Em seguida ela e
Jonas se reuniram diante da mesa. Estavam tão felizes com a nova casa que não
queriam estragar aquela manhã mágica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla, novamente, adiantou-se
e disse em voz alta:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Cristiane, o café está na
mesa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Silêncio total.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla tentou novamente;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Filha, acorde! Deixe de
preguiça e desça dessa cama!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Silêncio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla sentiu que alguma coisa
estava errada, pois sempre ouviu a resposta da filha pela manhã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Preocupada ela diz;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Que estranho! Por que será
que ela não está respondendo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Ora, querida! —disse Jonas
sorridente— Ela só deve estar num sono profundo! Nada mais! Daqui a pouco ela
desce.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não! Ela sempre me respondeu!
—disse Carla com um ar de ansiedade e nervosismo na voz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Querida, por favor, vamos
comer...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Desculpe, Jonas, mas vou lá
em cima para ver o que está acontecendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conformado ele diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Tudo bem! Tudo bem! Vou lá
com você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Subiram as escadas rapidamente
com a iniciativa de acordar a filha logo para que ela pudesse aproveitar os
primeiros dias de férias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao abrir a porta eles têm uma
surpresa. A cama estava feita e não havia nenhum vestígio de que a menina
tivesse dormido ali naquela noite.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Jonas, agora, começava a ficar
preocupado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Ué! Cadê Cristiane?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não sei! —disse Carla
começando a se desesperar— Eu disse que estava tudo muito estranho. Agora vamos
procurar por ela pela casa, senão não terei sossego.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Vamos olhar os outros
quartos! Talvez ela tenha dormido em outro...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Correram por todos os cômodos
do imenso casarão. Alguns ainda com algumas teias de aranha pelas paredes e
objetos antigos que decoravam o ambiente. Procuraram, então, na cozinha, na
sala, na biblioteca, no porão, no sótão, pelo jardim e em toda a extensão da
propriedade que puderam vasculhar. Aquela situação havia se tornado muito
estranha para eles, deixando-os com um desespero incontrolável, acompanhados da
respiração ofegante, que demonstrava todo o remorso ao se lembrarem de
Cristiane caindo pelas escadas e sussurrando sobre a mudança de sua decisão em
não ir para a mansão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cansados, desesperados e
tristes, decidiram voltar para o quarto e usar o telefone para ligar para a
polícia. Naquele local não pegava sinal de celular ou qualquer outra frequência
que não fosse por meio de fios. Era como se a energia dali bloqueasse o mundo
externo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao abrirem a porta do quarto
eles têm uma surpresa: Cristiane encontrava-se de pé e virada para a janela do
quarto, como se os estivesse observando o tempo todo em que a procuravam. Ela
estava imóvel e não demonstrava nenhuma surpresa com a chegada dos pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Filhinha —disse Carla— que
susto você nos deu! Onde estava enquanto te chamamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nenhuma resposta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Filha —disse Jonas— sua mãe
está falando com você!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Silêncio total. Nenhum
movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla decidiu se aproximar da
filha. O nervosismo voltava a tomar conta dela ao mesmo tempo em que suas mãos
começavam a suar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Menina, estou falando com
você! —gritou Carla já nervosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tocou o ombro de Cristiane,
virando-a para si. Então uma expressão de horror dominou seu rosto. A menina
não parecia humana. Esta, por sua vez, fixou seu olhar branco e gélido para a
mãe e o pai. Nos olhos não havia mais íris e pareciam ter a profundidade de um
universo sem fim, obscuro e terrível. Então Carla percebeu que sua linda
filhinha não existia mais. Os demônios a haviam transformado em mais uma escrava
sexual da tenebrosa e isolada mansão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Fernando Magaldi<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Data do texto original:
11/08 a 01/09/2008<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Data do texto final:
25/11/2012<o:p></o:p></span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-80593227588729180622012-11-25T17:22:00.001-02:002012-11-25T17:22:14.386-02:00O MOÇO DO VENTO - parte 3<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após o jantar cada um seguiu
para seu quarto, pois haviam ficado cansados depois toda aquela maratona
turística pelo jardim do velho casarão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto Carla e Jonas
“estreavam” a cama de casal, a pequena Cristiane, assustada e desconfiada até da
própria sombra, recolheu-se embaixo dos lençóis, enquanto mantinha as luzes
acesas, pois não queria sentir medo naquela noite.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O antigo relógio cuco de
madeira, com idade já centenária, marcava 12:30h. Já havia passado da hora de
Cristiane se deitar. Mas o disparo do coração, acompanhado do suor ansioso nas
mãos e nos pés, além da respiração ofegante, tornaram-se propícios para a
repetição de uma cena que já não acontecia há muito tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A névoa densa e gélida começou
a penetrar pela janela, que se abriu com extrema violência à medida que o vento
penetrava fortemente no quarto. Cristiane mantinha-se agarrada ao travesseiro.
Assustou-se com o barulho da madeira ao bater estrondosamente na parede do seu
quarto. E ela sabia que aquele sinal não era uma coisa boa. Por isso decidiu se
conformar e aceitar o que o destino lhe aguardava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No meio do quarto uma figura
nada amistosa foi se formando. Sua aparência era completamente demoníaca e
assustadora. Possuía longos chifres, pele escamosa, olhos vermelhos e um cheiro
horrível. Seus pés e mãos, completamente peludos, eram ossudos e possuíam
longas unhas negras. A criatura fixou seus olhos fumegantes e tenebrosos na
menina. Ao mesmo tempo, Cristiane olhou para a porta e pensou em fugir. Mas
Cristiane foi impedida pelas grotescas e bizarras criaturas da mansão, que se
materializaram diante de seus olhos. Lágrimas de desespero começaram a brotas
de seus olhos. Estava apavorada e percebeu que não conseguia gritar. Sua garganta
havia ressecado e as suas cordas vocais congelado. O frio aumentou e suas
pernas deixaram de obedecê-la. Seu corpo, como se estivesse hipnotizado,
levantou-se da cama e parou no meio do quarto, diante da demoníaca figura.
Parecia um ser vegetativo que ouvia e não tinha vontade própria. A criatura
diabólica queria que a menina sentisse todos os medos e pavores daquele
momento. E esse havia se tornado o maior de seus pesadelos naquela tenebrosa
noite.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lentamente o espectro
demoníaco envolveu Cristiane com sua névoa gélida. Aos poucos a imagem dos dois
foi se desmaterializando aos olhos dos tenebrosos expectadores da antiga
mansão. Seus rostos, em adiantado estado de decomposição, observavam com
curiosidade cada segundo. Alguns, com suas risadas além-túmulo, ecoavam pelo
quarto toda sua alegria em acompanhar toda aquela cena, pois o mesmo já havia
acontecido com eles. E, como estavam, agora, como meros espectadores, ao invés
de sofridos protagonistas, podiam sentir a alegria que outras almas da
escuridão sentiram no instante em que perderam suas vidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como que por milagre, um
último suspiro surgiu da boca de Cristiane antes que seu corpo desaparecesse
por completo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mamãe! Papai! Me ajudem, pelo
amor de Deus!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O espectro, enfurecido, olha
no fundo dos olhos da menina e diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Infelizmente Deus não pode te
ajudar agora, menina. Mas se você realmente acredita nele, por quê será que ele
te deixou comigo para sofrer?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assustada, Cristiane pergunta:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—O quê você vai fazer comigo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cinicamente, e acompanhado de
uma gargalhada infernal, o espectro responde:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Você não recebeu uma visita
ontem à noite do seu amiguinho na outra casa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cristiane pensa, franze a
testa e diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—O “moço do vento”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Sim! Esse mesmo! Mas parece
que aquele traidor não conseguiu impedir que você chegasse até mim. Então tenho
o prazer de lhe dizer que, a partir de agora, você será minha escrava e
satisfará todos os meus desejos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não! —gritou Cristiane,
inutilmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em seguida os dois
desapareceram deixando um rastro de névoa no ar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dentro do quarto as almas,
tenebrosas e sem esperança de voltar para a luz de Deus, mantinham-se paradas
no mesmo instante em que observaram o que havia restado de mais uma vida que
desaparecia lentamente no ar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto as almas agonizavam
no inferno, pôde-se ouvir, durante toda a noite, a presença de uma coruja
negra. Esse era o sinal de que mais uma missão havia sido cumprida perante as
leis da amaldiçoada mansão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fim da parte 3 - Continua...</span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-56414786378960345232012-11-25T17:18:00.000-02:002012-11-25T17:18:07.690-02:00O MOÇO DO VENTO - parte 2<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Algumas semanas se passaram.
Cristiane se recuperou, mas as lembranças permaneceram. Tinha medo do que
pudesse acontecer ao entrar na nova casa. E por mais que tenha tentado alertar
seus pais, sabia que eles nunca acreditariam no tal “moço do vento”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cometeu-se, então, o segundo
erro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Jonas e Carla estavam ansiosos
e não viam a hora de habitar o novo imóvel da família, no qual gozariam das
merecidas férias. Afinal, tudo era novidade. Mas para a menina apenas mais um
tormento se iniciava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Próximo do casarão, Cristiane
arrepiou-se ao ver pelo vidro do carro a mansão e toda sua extensão. Lembrou-se
das palavras do espectro e começou a imaginar as cenas horríveis que
aconteceram naquele lugar. Sangue, dor, sofrimento e morte habitavam seus mais
recentes pesadelos. E, por mais que fechasse os olhos, eles continuavam lá,
atormentando-a. Foi aí que percebeu que a única saída era conviver com aquilo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O carro parou diante da
escadaria que dava em direção ao casarão. Estava cedo e Jonas ansioso. Então,
todos saíram do carro e observaram a mansão. Porém, Cristiane não podia dizer o
mesmo, pois tentava inutilmente desviar o olhar das almas atormentadas que,
agora, começavam a rodeá-la. Eram figuras horrendas que só ela podia ver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assustada, Cristiane abraça a
mãe com força.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Oh, que bom que você gostou,
querida! Sabia que ia mudar de ideia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto Carla acreditava na
felicidade da filha, esta, por sua vez, continuava abraçando fortemente a mãe
com esperança de que aquelas figuras horríveis fossem embora. Mas parece que
não era isso que elas queriam, pois se aproximavam cada vez mais do rosto da
menina, com suas faces horrendas e tenebrosas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Jonas pegou as malas e disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Vamos, meninas, senão vai
ficar muito tarde e não aproveitaremos nosso primeiro dia de férias!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nesse instante Cristiane pôde
ver as criaturas desaparecer lentamente, ao mesmo instante em que ouvia
longinquamente:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“—Ajude-nos, por favor!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Olhou para todos os lados e
viu que, agora, estava rodeada apenas por seus pais. Não havia mais o que
temer. Em seguida os três entraram para a mansão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cometeu-se, então, o terceiro
erro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As horas se passaram e a
família, após acomodar-se adequadamente, conversou por alguns minutos na sala
antes de saírem para visitar o imenso jardim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Estou tão feliz, querido!
—disse Carla sorridente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Eu também! Agora vamos nos
apressar antes que escureça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seguiram em direção à porta.
Quando Cristiane passou por ela sentiu um imenso calafrio, acompanhado de um
vento quente e sussurrante na nuca. Estava assustada e tudo era motivo de
desconfiança. Segurou fortemente as mãos dos pais e saiu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mesmo estando um pouco
abandonada a propriedade ainda tinha seus encantos. Um belo chafariz ao centro
rodeado por várias árvores frutíferas, alguns canteiros de flores e rosas,
bancos de pedra estrategicamente colocados embaixo de algumas árvores, um lago
artificial e um velho galpão onde se encontrava a maioria das ferramentas
utilizadas para a manutenção de toda a casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Já era possível ver o sol se
pôr, com sua cor amarelada e coberto por algumas nuvens. O vento soprava
lentamente enquanto o canto dos pássaros, grilos e cigarras anunciavam o
entardecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Olha, querido, que lindo!
Nunca imaginei poder ver o sol assim!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Com certeza veremos muitas
outras vezes, querida. Fico feliz por você e por nossa filha. Acho que as
coisas estão começando a se ajeitar, agora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto os pais se deliciavam
com cada momento, Cristiane brincava com uma borboleta colorida e companheira
que insistia em permanecer sempre próxima dela.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fim da parte 2 - Continua...</span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-3032105622580968392012-11-25T17:08:00.000-02:002012-11-25T17:13:05.631-02:00O MOÇO DO VENTO - parte 1<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlNyHHOmD7USLkLAy8wtHgXIlnVES4kHEL2nK-2_7Hs0i5cJhnERus4R_RcA2CDjr3X9zKfDxGodOA5ImEeclb5C9rbMFYoeuLENSNX5TUsFIIy6_BymgpfySo8zmdZGJ2d8r2ScqAoxKN/s1600/casa1.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O vento soprava lentamente.
Folhas e plantas balançavam perante a brisa que atingia a janela do casarão.
Uma residência grande e conservada. Nele vivia felizmente a família Souza. Sempre
tiveram de tudo. Mesmo assim o patriarca sentiu que era hora de atingir novos
horizontes. Por isso decidiu comprar uma bela mansão, que seria o novo endereço
para descansar nos fins de semana e aproveitar as férias que se aproximava. O
imóvel se localizava em uma bela região montanhosa, rodeada por muito verde,
riachos e cachoeiras. No entardecer era possível ver o por do sol em toda sua
beleza, com seu tom amarelado e grandioso.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ali viviam Carla, a mãe,
Jonas, o pai e a filha de nove anos Cristiane, que neste momento levantou-se do
sofá e perguntou:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mamãe, quando nós vamos mudar
para a casa nova?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Interrompendo sua leitura a
mãe diz:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não se preocupe, filhinha!
Daqui a alguns dias estaremos lá. Você vai adorar!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Houve um silêncio neste
momento. A menina pensou por alguns segundos, olhou para a janela da enorme
sala e virou-se para sua mãe, dizendo:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Espero que isso aconteça
logo! Já estou enjoada e não vejo a hora de mudar daqui.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla olhou para a filha com
estranheza, pois percebeu que a fisionomia e o tom de voz da menina haviam
mudado. Sentiu que a meiguice dela tinha desaparecido. Ou estava oculta por
algum motivo. O tom de voz estava mais agressivo e a testa franzida da filha
começava a preocupa-la.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cristiane sempre estudou nas
melhores escolas, teve muito amor e carinho dos pais e familiares, fez muitos
amigos e, agora, apresentava um comportamento que não se justificava. Com isso,
Carla começou a se perguntar:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“—Por que minha filha está tão
mudada?”.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Neste instante entra pela
porta o patriarca da família, Jonas. Seu rosto cansado não abalava a felicidade
em saber que, após mais alguns dias, estaria de férias e poderia desfrutar do
novo imóvel com sua filha e esposa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Jonas nunca teve medo do
trabalho. Por isso se dedicava tanto. Com isso conseguiu um cargo de gerência
geral que diariamente consumia dele atenção redobrada, desgaste físico e
mental. Tudo isso era fruto das enormes exigências de seus superiores devido
aos rígidos controles de qualidades da empresa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mesmo assim, Jonas aproxima-se
das “mulheres de sua vida” e diz com um belo sorriso no rosto:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Como vão minhas garotas?
—disse ele em tom brincalhão.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Oi, querido! —disse Carla
beijando o marido apaixonadamente— Como foi seu dia hoje?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Muito bom! Cansativo, mas
bom! Estamos quase terminando de pôr tudo em ordem. E daqui a alguns dias...
férias!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Que bom!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Que bom? Que maravilhoso! Já
pensou? Sairmos daqui e partir para nossa mansão nas montanhas? Não vejo a
hora!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ansiosamente Cristiane entra
na conversa:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Quando é que nós vamos sair
daqui, papai?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Olá, meu amor! —disse Jonas
todo alegre, abraçando sua filha e beijando-a no rosto— Como foi seu dia?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Irritada a menina diz:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não interessa meu dia! Só
quero saber quando é que vamos sair daqui. Não vejo a hora de sumir deste
lugar. Nunca gostei daqui, mesmo!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Jonas franziu a testa com
estranheza. Não estava reconhecendo sua pequenininha. Era como se estivesse
falando com outra pessoa. Mesmo assim estava disposto a dialogar com a filha,
pois não queria que nada acabasse com sua felicidade naquele momento.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Respirou profundamente, apoiou
as mãos nos ombros da filha e disse:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Olha só, filhinha! O papai
está terminando de organizar tudo. Daqui a alguns dias eu, você e mamãe
estaremos na casa nova. Está bem? Pode ficar tranquila que vai dar tudo certo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Friamente, Cristiane olha no
fundo dos olhos do pai e diz:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mais ou menos! O que eu
queria, mesmo, é sair daqui agora.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Calma, filhinha! Por que você
está tão ansiosa? O papai não cumpre sempre o que diz?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ela afirma com a cabeça.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Então não há motivo para esse
nervosismo todo, querida. Agora me diga uma coisa: o quê está te incomodando?
Por que você quer ir embora?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cristiane manteve-se calada,
sem responder. Olhou profundamente nos olhos do pai, virou-se para a mãe
encarando-a com o mesmo olhar gélido. Em seguida correu até a escada e subiu em
direção ao seu quarto.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—O quê aconteceu com ela? Está
estranha! Nem parece a mesma pessoa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Eu também não entendi nada.
Ela está estranha desde o dia que fomos comprar a mansão. Mesmo não dizendo
nada, vi quando ela trouxe uma pedrinha que estava no quintal de lá. Eu achava
que era apenas uma brincadeira de criança. Mas depois disso percebi que ela tem
estado mais quieta. Será que tem alguma ligação com esse comportamento dela?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Acho que não! Mas acredito
que isso só tenha aumentado a ansiedade dela. Depois que descansarmos vou
tentar pegar essa pedra dela para ver o que acontece. Ela não pode continuar
assim. Está muito estranha.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto os pais discutiam
sobre o comportamento da filha, a madeira do assoalho rangia a cada passo da
menina enquanto penetrava nos tímpanos de Cristiane na medida em que se
aproximava da porta do seu quarto. Um vento frio passou diante dela no instante
em que ia tocar a maçaneta. Porém, esta virou sozinha, abrindo a porta daquele
“cantinho inocente”.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Paralisada, Cristiane sentiu
seu coração disparar. Estava assustada por causa do desconhecido e surpresa com
aquele fenômeno estranho. Mesmo assim ela ainda era uma criança. E isso
mantinha sua mente livre de certos medos e superstições. Por esse motivo ela
decidiu entrar no quarto tranquilamente, enquanto a brisa que vinha pela janela
aberta tocava seu rosto.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No instante seguinte,
Cristiane começou a brincar com sua boneca como se nada tivesse acontecido.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ela estava sentada em sua
cama. Conversava tão inocentemente com a boneca que não percebeu o forte vento,
acompanhado de uma gélida neblina, penetrando seu quarto através da porta. E,
na medida em que aumentava, ela ficava cada vez mais densa e branca. A janela
também serviu como porta de entrada para aquele estranho fenômeno, no mesmo
instante em que ia abrindo-se lentamente o pouco que ainda estava fechada.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando percebeu o que estava
acontecendo, Cristiane abraçou fortemente sua boneca e recolheu-se no meio da
cama. O barulho das molas do colchão tornava aquela situação ainda mais
assustadora. O tecido do lençol começou a se enrugar sobre seus pés, misturando-se
com o desenho de seu vestido. Seus olhos brilhavam diante da luz da lua que
penetrava pela janela. Seu coração palpitava mais velozmente. Sua respiração
ficou ofegante. Com isso, uma gota de suor brotou de sua testa, demonstrando
que, agora, a menina começava a ficar com medo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma forte luz arredondada
formou-se no interior do quarto, enquanto a densa névoa ia modelando algo
assustador diante dos olhos inocentes de Cristiane. Aos poucos uma forma quase
humana começou a se materializar, dando lugar a braços, pernas, mãos, pés e um
rosto tão desfigurado quanto uma foto antiga, amarelada, suja e desbotada. Um
odor forte atingiu as narinas de Cristiane no mesmo instante em que começou a
lhe dar náuseas. Era fétido e insuportável! Seus olhos se irritaram e ela
recolheu-se ainda mais entre o lençol, apertando-o com força ao mesmo tempo em
que suas mãos começavam a suar. E, enquanto o odor desagradável ia se
dissipando pelo ar, a figura grotesca e fúnebre do espectro começava a ganhar
“vida”. Tinha uma aparência tranquila! Mas seu rosto assustava. A pele era
pálida e enrugada, demonstrando a idade avançada e incalculável, apresentada em
suas linhas de expressão. O cabelo “desbotado” tinha dificuldade em manter um
penteado decente. Dentes podres e fétidos ajudavam a compor o rosto. Sua
respiração era ofegantemente angustiante. Finalmente, no interior de seus olhos
era possível perceber a eterna marca da morte. Eram brancos e não possuíam
íris.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cristiane, completamente
assustada e sem palavras, agarrou-se em seu travesseiro. No instante seguinte
conseguiu dizer baixinho, com voz trêmula e suspirante:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Ô moço! Por favor! Não me
machuque!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não houve resposta. O
tenebroso espectro manteve-se parado no meio do quarto, imóvel, ao mesmo tempo
em que olhava para a inocente criança. Ele a analisava meticulosamente,
observando suas mãos, seus olhos, seu cabelo, sua pele suada, sua respiração
ofegante, ao mesmo tempo em que sentia um cheiro suave do perfume infantil.
Algo que já não sentia há anos.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cristiane, percebendo um
silêncio cada vez mais assustador, olhou novamente para aquele ser frio e
imóvel. Queria ter a certeza de que nenhum mal lhe aconteceria.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após materializar sua mão, o
espectro encosta no ombro da menina e diz baixinho:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não tenha medo!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após ouvir essas palavras a
menina saiu da posição defensiva. Ficou completamente desarmada. Com isso
percebeu que aquela doce frase tinha mais representações do que podia imaginar.
Então, Cristiane largou o travesseiro ao mesmo tempo em que começou a se
aproximar da estranha criatura, curiosamente.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em seguida ela adiantou-se
dizendo:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—V-você fala? — gaguejou ela.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mas é claro que sim, minha
querida! E não se preocupe, pois não vou te machucar.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto Cristiane ia se
acalmando, decidiu fixar o olhar no fundo daquele globo ocular branco como a
neve. Queria adivinhar os pensamentos da estranha criatura.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas esta se adiantou dizendo:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Eu só vim aqui para
adverti-la de uma coisa. — disse o espectro.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Do que você está falando? —
perguntou a menina curiosamente.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não vá para aquela casa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Surpresa e já sem sentir medo
ela interroga:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Por quê?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Não gostará de saber. Esse é
apenas um conselho que lhe dou.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Curiosa, a menina insiste:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Então me explique moço! Como
é que eu vou entender se você não me disser?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O espectro admirado com a
maturidade e interesse da menina decide falar. Então, aproximou-se da cama,
acompanhado da gélida névoa que o envolvia, e se sentou na lateral, próximo de
Cristiane que, mesmo sem sentir medo, começou a admirar a horrível aparência de
seu visitante. Enquanto isso a suave luz da lua penetrava pela janela no mesmo
instante em que tocava o rosto de Cristiane, iluminando-o.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Toda aquela situação mórbida
fez com que Cristiane suspeitasse do que viria pela frente. Mas, infelizmente,
ela precisava ouvir.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lentamente a face cadavérica
do tenebroso espectro vira-se para a menina, encarando-a profundamente. Sua
face horrenda impressionaria qualquer mortal. Mas, naquele momento, serviu de
base para uma terrível história que estava apenas começando.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com uma voz rouca e
arrepiante, o espectro começou a falar!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Há muitos anos morou naquela
casa um homem muito rico e poderoso. Ele possuía uma fortuna incalculável.
Porém, todos sabiam a origem de tanto dinheiro. Durante muitos anos ele
sacrificou e escravizou muitos empregados. Eram forçados a atender todos os
seus caprichos. E um deles era capturar meninas virgens para satisfazer suas
bizarras orgias sexuais. Sua esposa fingia não saber de nada, pois preferia
sofrer calada ao invés de se submeter às constantes torturas que aconteciam no
porão da mansão toda vez que não atendia aos caprichos do marido. Com isso o
tempo passou e ele não mudou. Pelo contrário! Tornava-se cada vez mais
sangrento, arrogante e impiedoso. Tinha conseguido dominar a cidade com suas
ameaças às famílias humildes que não cediam parte de seus bens materiais, além
das filhas. Mas, num dia oportuno e insatisfeito com o que já havia
conquistado, ele decidiu ser mais ambicioso. Fez um pacto com o diabo exigindo
a vida eterna e que não deixasse de ter prazeres. Porém, num momento de sua
maldita vida, tropeçou no pacto e deixou de cumprir uma exigência de seu
“mestre”. Como estava cheio de si e muito mal acostumado com as mordomias,
achou que poderia enfrentar o demônio. E esse foi seu maior erro. Então, no
mesmo instante foi levado de corpo e alma para o inferno. Lá, quando tudo
parecia terminado, veio a grande surpresa! Mesmo sofrendo o homem não desistiu.
Conseguiu falar diretamente com o “mestre das sombras”. Disse-lhe que poderia
se redimir trazendo-lhe almas para o inferno. Em troca continuaria habitando a
Terra e sua casa. Como bom negociador, o Diabo aceitou a oferta. Percebeu que
dentro daquele coração cheio de ódio e rancor estavam todos os ingredientes
necessários para continuar sua luta em habitar a Terra. Foi aí que tudo piorou.
O homem foi enviado novamente à Terra, mais precisamente a casa que habitava, e
começou seu eterno e trabalho. Tomou a providência de amaldiçoar todos os
objetos da mansão, além das terras de suas propriedades, de modo que, dessa
forma, pudesse levar as almas daqueles que ali pisassem ou levassem algo que
não lhe pertencesse. Os anos passaram e, finalmente, depois de muito tempo,
ninguém mais pisou lá. Eu fui o último que habitou aquela casa e posso afirmar
com toda a certeza: CUIDADO! Não vá ou traga nada de lá. Caso contrário ficará
como eu, vagando sem rumo e sem paz. Isso é o pior tormento que uma alma pode
ter. Uma vida eterna sem luz.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após ouvir as tenebrosas
palavras, Cristiane se lembrou do que havia feito. Sabia da pedra que guardava
daquele local. Começava, agora, a sentir medo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Todas aquelas palavras duras e
sombrias penetraram em seus tímpanos como uma verdadeira maldição. Então,
desesperadamente, ela aproximou-se do espectro e tentou tocá-lo, ao mesmo tempo
em que perguntou:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Moço, o quê eu tenho que
fazer? Tô ficando com medo!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com isso, sua mão passou pelo
corpo sem vida e sem forma, atingindo o ar. Não era possível tocá-lo. Em
seguida, a névoa e o corpo do espectro começaram a se dissipar lentamente, no
mesmo instante em que uma cavernosa voz fez-se ouvir:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Tomem cuidado!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A menina, completamente
desolada, sem saber o que fazer e no que pensar, levantou-se da cama e saiu
desesperadamente de seu quarto. Sua expressão de medo não a deixou pensar.
Então, num piscar de olhos, tropeçou no degrau e rolou pelas escadas, batendo a
cabeça várias vezes na madeira dura enquanto via o mundo girar. Por sorte seus
pais ainda estavam na sala para acudi-la.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla, desesperadamente,
levantou-se do sofá gritando:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Cristiane! Meu Deus! Me
ajude!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Correu em direção à filha,
acompanhada de Jonas. Pensou que o pior tinha acontecido. Mas esse tinha sido
apenas o primeiro aviso.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Batendo no rosto ensanguentado
da filha, Carla e Jonas tentam reanimá-la. Estava quase inconsciente. Mas, após
alguns segundos, Cristiane conseguiu abrir os olhos. Sua expressão era de
espanto. Estava branca, gélida e com a boca completamente seca. Mesmo assim,
conseguiu retirar forças para segurar a mão da mãe, e dizer com muita
dificuldade:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mãe... por favor! Eu não
quero mais ir embora...<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Calma filhinha! Não faça
esforço!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Mãe! “Me ouve!” —gritou a
menina— Eu não quero ir pra lá.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Carla e Jonas, assustados com
o comportamento da filha e com a situação naquele momento, esquecem-se por uns
instantes da queda e do sangue no rosto de Cristiane, que escorria cada vez
mais vivo, ao mesmo tempo em que ia coagulando e criando cascas em determinadas
partes da pele.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Filha, —disse Jonas— o quê
está acontecendo com você? Eu e sua mãe estamos preocupados!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">—Pai, “me ouve”! Por favor,
não quero mais ir embora! Por favor! Por favor... O “moço do vento” falou para
eu não ir. “O moço do vento”... “o moço... do...”<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sua voz foi ficando cada vez
mais fraca, até o momento em que desmaiou.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fim da parte 1 - Continua...</span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-84351548287259388192012-05-13T17:13:00.000-03:002013-10-31T14:41:00.253-02:00Prévia do Conto O MOÇO DO VENTO - Ainda em Produção<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_TEQFHLsp6ybe3E2NCVb5KdNBpe_RZ4JRGVEcj5eaQcKVAT3dT9tXI_Gaa0dkI6dz-iZKMUnMvT9JXyguY9P0aWVizUkr993swJRcx0c3BLhbu0e0Jg87gAH_f0dSPGOs2SUq7zg2P4x1/s1600/IMG_1290.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_TEQFHLsp6ybe3E2NCVb5KdNBpe_RZ4JRGVEcj5eaQcKVAT3dT9tXI_Gaa0dkI6dz-iZKMUnMvT9JXyguY9P0aWVizUkr993swJRcx0c3BLhbu0e0Jg87gAH_f0dSPGOs2SUq7zg2P4x1/s400/IMG_1290.JPG" width="400" /></a></div>
<br />
A ansiedade foi maior do que eu! Por isso decidir compartilhar com vocês uma prévia do conto O MOÇO DO VENTO.</div>
<div style="text-align: justify;">
Espero que gostem! Em breve publicarei a história completa, dividida em capítulos.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Paralisada, Cristiane sentiu seu coração disparar. Estava assustada por causa do desconhecido e surpresa com aquele fenômeno estranho. Mesmo assim ela ainda era uma criança. E isso mantinha sua mente livre de certos medos e superstições. Por esse motivo ela decidiu entrar no quarto tranquilamente, enquanto a brisa que vinha pela janela aberta tocava seu rosto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No instante seguinte, Cristiane começou a brincar com sua boneca como se nada tivesse acontecido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela estava sentada em sua cama. Conversava tão inocentemente com a boneca que não percebeu o forte vento, acompanhado de uma gélida neblina, penetrando seu quarto através da porta. E, na medida em que aumentava, ela ficava cada vez mais densa e branca. A janela também serviu como porta de entrada para aquele estranho fenômeno, no mesmo instante em que ia abrindo-se lentamente o pouco que ainda estava fechada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando percebeu o que estava acontecendo, Cristiane abraçou fortemente sua boneca e recolheu-se no meio da cama. O barulho das molas do colchão tornava aquela situação ainda mais assustadora. O tecido do lençol começou a se enrugar sobre seus pés, misturando-se com o desenho de seu vestido. Seus olhos brilhavam diante da luz da lua que penetrava pela janela. Seu coração palpitava mais velozmente. Sua respiração ficou ofegante. Com isso, uma gota de suor brotou de sua testa, demonstrando que, agora, a menina começava a ficar com medo."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Autor: Fernando Magaldi</div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-50380424307485958242010-04-11T14:26:00.002-03:002013-10-31T12:15:52.819-02:00Novo Conto No "Forno"<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjIJZLP40ng8GI7qXW4G79GBZT5XOqUiwLteIR-H7aOFPccL3EMIFL4P5s6Cm6Lh_bOFwoLSev2xCKj1ML6J97V1Ih5A7inyg2l_XBl3WfeCQiEo2rgxnfF9sPfSHDbrUDKp8Hd5cv_bFW/s1600/IMG_1292.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjIJZLP40ng8GI7qXW4G79GBZT5XOqUiwLteIR-H7aOFPccL3EMIFL4P5s6Cm6Lh_bOFwoLSev2xCKj1ML6J97V1Ih5A7inyg2l_XBl3WfeCQiEo2rgxnfF9sPfSHDbrUDKp8Hd5cv_bFW/s400/IMG_1292.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Já estou preparando o novo conto que publicarei no blog. Esse conto se chama "O MOÇO DO VENTO" e está enorme. Até o momento foi o maior conto que já escrevi. Só de manuscrito, feito em folha de caderno pautado A4, escrevi umas 18 páginas. Mas obviamente vou filtrando o texto na hora de finalizá-lo. Por isso demoro tanto a publicar. Afinal, esse blog é o preview de meu primeiro livro que pretendo publicar em breve.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinopse: O MOÇO DO VENTO conta a história de uma família que, após comprar uma casa de campo, decide passar as férias lá. Porém uma inesperada maldição ronda a casa. Com isso coisas estranhas começam a acontecer, partindo pela inocente filha do casal que começa a sentir todas as consequências daquele clima pesado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aparentemente parece um texto que você já leu. Mas, ao entrar na história, você verá que o conteúdo é diferente de tudo o que imaginou. Uma surpresa em cada parágrafo e também muito suspense e assuntos polêmicos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Postarei o conto em partes assim que estiver concluído.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com certeza será um dos contos mais "pesados" que já escrevi. Não pelas cenas, pois já escrevi texto assim como A MÃO DE VELUDO, mas pelas palavras em si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Só por curiosidade: Eu escrevi este conto originalmente há 23 anos atrás e ele só tinha 4 páginas que eu pretendia transformar em HQ. O projeto ficou engavetado e depois de vários anos retomei-o com a finalidade de reescreve-lo. O resultado de todo esse processo de produção você vão conferir na próxima postagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibiZMa_6iORHLuvZF75hJEQOOaxjEkzGn0CfHOURaWLlfQppjhEOJk_RnmCxCAlLJ3SWEyyS6b7BrV_C77_Wc3jXRNVYl_ulLLDX_2T1hBssdfeQJPsrMkhhiRo0pBdrJz2VsHQDL40P7g/s1600/IMG_1288.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibiZMa_6iORHLuvZF75hJEQOOaxjEkzGn0CfHOURaWLlfQppjhEOJk_RnmCxCAlLJ3SWEyyS6b7BrV_C77_Wc3jXRNVYl_ulLLDX_2T1hBssdfeQJPsrMkhhiRo0pBdrJz2VsHQDL40P7g/s400/IMG_1288.JPG" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acreditem, para aqueles que são amantes do gênero de terror/suspense, o conto promete cumprir a sua finalidade que é nada mais do que assustar e chocar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Até a próxima postagem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-38030650195894656952009-06-29T11:17:00.006-03:002013-10-27T17:53:27.369-02:00O Choro Da Vela<div style="font-family: verdana; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNMs0vZkWp9mjsNxoOGF0B0D3CrlH4FVGBgCp1EeCWOBgWqsjt5-Pisk62_3stk_U9SSWrvwqoUswaty3E1tO0imo5L78oj1irBZh1h_k4kyPJ1IYR2VIq1EOoKx-pzTm77h57x-qfjVt-/s1600/m%C3%A3os-e-vela-1359291451_86.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNMs0vZkWp9mjsNxoOGF0B0D3CrlH4FVGBgCp1EeCWOBgWqsjt5-Pisk62_3stk_U9SSWrvwqoUswaty3E1tO0imo5L78oj1irBZh1h_k4kyPJ1IYR2VIq1EOoKx-pzTm77h57x-qfjVt-/s400/m%C3%A3os-e-vela-1359291451_86.jpg" width="313" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: 100%;">Enquanto o relógio tilintava pela casa o vento permanecia forte e constante do lado de fora no mesmo instante em que balançava as folhas das árvores que caíam com mais freqüência naquela época de outono.<br /><br />O tempo estava frio e as nuvens começavam a fechar o céu, encobrindo as estrelas.<br /><br />Alguns carros e pedestres ainda transitavam pelas ruas do bairro. Muitos estavam voltando da noitada enquanto que outros chegavam em casa após um longo e estressante dia de trabalho.<br /><br />Cães e gatos disputavam as sobras de comida em algumas latas de lixo. Era a fome! E nessas horas qualquer coisa mastigável tornava-se um belo banquete.<br /><br />Um dos animais rosnou. Estava com um pequeno osso de galinha entre os dentes. Seu corpo era magro e esquelético devido aos maus tratos que a vida lhe reservou. Coisa comum em animais órfãos.<br /><br />De repente um mendigo aproximou-se. Ele também estava faminto e suas pernas já tinham dificuldades para sustentar o peso do próprio corpo. Tinha uma aparência sofrida, onde a expressão centenária prevalecia estampada no rosto enrugado e na longa barba branca. Com um galho de árvore seco, ele improvisou uma bengala.<br /><br />—Ai, meu Deus! Que fome! —disse o homem já sem forças.<br /><br />Aproximou-se do lixo e procurou algo que o ajudasse a tapar o estômago.<br /><br />Um cachorro rosnou.<br /><br />Apesar do medo, sua fome falava mais alto no mesmo instante em que seu corpo ignorava o perigo.<br /><br />—Calma, amiguinho! Eu também estou com fome. —disse o mendigo ao animal enfurecido.<br /><br />Tentou pegar novamente a sobra de comida. Dessa vez aproximou-se mais lentamente. Virou-se para o lado, disfarçou o olhar e, num gesto rápido, pegou o pedaço de carne apodrecida, rasgando-a com seus dentes fracos em seguida. Não importava se os vermes se mexiam. Com certeza, para ele, era até mais nutritivo, pois fortaleceria seu cardápio que há muito tempo carecia de proteínas. Além disso, a falta de higiene havia se tornado apenas um detalhe naquela vida miserável e sem futuro.<br /><br />As horas passaram!<br /><br />Algum tempo depois o senhor centenário percebeu que havia feito amizade com os animais. Cães e gatos, ratos e baratas, acompanhados de vários outros seres asquerosos rondavam, agora, seus pés. O mau-cheiro era insuportável. Mas como seu olfato já não funcionava como antigamente, ele não conseguia perceber o nível de miséria em que se encontrava.<br /><br />Alguns passos à frente ele encontra uma casa abandonada. No seu interior, habitado por ratos, pombos, pulgas, aranhas e baratas, ele planejava encontrar o tão desejado descanso e paz. Então, aproximou-se e entrou pela porta da frente, completamente podre de cupins.<br /><br />O ruído das dobradiças ecoou como música para seus ouvidos. Sentiu que havia encontrado um lar e estava disposto a permanecer naquele local o maior tempo possível. Afinal, ele não tinha moradia, mas sim o céu como teto, o chão como colchão e o meio-fio da calçada como travesseiro.<br /><br />As sombras criadas pelos raios do luar que penetravam pelas janelas não o assustava. Pelo contrário! Transmitiam-lhe a paz que faltava em seu coração já tão massacrado pelo mundo.<br /><br />Alguns passos à frente ele vê uma mesa. Sobre ela estava um copo de café frio. Aproximou-se, então, acompanhado pelos ruídos do assoalho.<br /><br />—Será que tem alguém morando aqui? —interrogou ele a si mesmo.<br /><br />De repente algo lhe chamou a atenção!<br /><br />—Não é possível! Como alguém iria fazer café se aqui não tem nem um fogão?<br /><br />—Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh!!! —um grito desesperado de dor ecoou pela casa.<br /><br />Seu coração disparou. Arregalou os olhos, preocupado. Virou para os lados e tentou encontrar a porta de saída. Ela havia desaparecido. Então começou a correr pelos cômodos desesperadamente, acompanhado de gritos cada vez mais alto, forte e agonizante, além de ruídos estranhos e assustadores. Então um forte vento soprou perto do mendigo levando consigo todo aquele terror. O silêncio agora era total, acompanhado de uma enorme escuridão.<br /><br />O coração palpitante do mendigo acelerou cada vez mais. Desesperado, como não sabia o que estava acontecendo, começou a rezar.<br /><br />De repente surgiu uma forte luz no teto. Sua intensidade ofuscou os olhos do velho senhor que, nesse momento, começava a ficar curioso. No instante seguinte percebeu um vento gelado passar por seu pescoço e seus ombros. Quando fixou os olhos novamente na luz viu que essa se tornou uma inofensiva vela que, agora, flutuava em sua frente. Apesar de assustado ele tentou compreender o que estava acontecendo, pois era a primeira vez que presenciava um fenômeno sobrenatural. Obviamente isso fez com que sua curiosidade aumentasse cada vez mais.<br /><br />Num movimento suave, a vela aproximou-se da mesa onde estava o café frio. No instante seguinte o velho senhor percebeu que a xícara começou a exalar um perfume delicioso. Era o café que, agora, havia ficado gostoso e quentinho. Parecia um milagre que, por mais estranho que fosse, agradava cada vez mais ao velho senhor. Ele havia ficado maravilhado ao ver as coisas se materializando em sua frente: o café, o pão, uma cesta de frutas, a toalha bordada como as nuvens e um radinho sobre a mesa que começava a tocar músicas suaves. Então se sentou na cadeira diante daquele belo banquete e serviu-se com fartura.<br /><br />Olhou para os lados e disse:<br /><br />—Quem está aí? Apareça, por favor!<br /><br />Nenhum som. Os gritos haviam desaparecido. E, no seu lugar, apenas o vento e os objetos podiam interagir com ele agora. Como estava muito cansado decidiu parar de falar e saboreou o belo banquete e a boa música. Tudo era novidade e, como qualquer criança, sua felicidade estava completa.<br /><br />Na medida em que recuperava as forças, seus pés começaram a acompanhar a música. Mexiam-se para cima e para baixo, seguindo o compasso. O ritmo era lento, mas o agradava. Depois uma música mais agitada começou a tocar. Era um jazz moderno. Então, como num passe de mágica, um belo sorriso estampou seus lábios. Os dentes apodrecidos e cheios de tártaro não diminuíam sua alegria. Seu coração palpitava, a respiração acelerava, o corpo ganhava forças e tudo isso no mesmo instante em que ele se levantou e começou a dançar. Era como se estivesse revivendo o que havia sido no passado.<br /><br />Naquela época tudo havia sido mais fácil. Como foi herdeiro de uma bela fortuna nunca precisou trabalhar. Sempre teve quem fizesse tudo por ele. E esse foi seu grande problema, pois nunca aprendeu a se virar sozinho devido aos mimos errados na infância, adolescência e até na vida adulta. Talvez por esse motivo nunca tenha se casado. Tentou alguns relacionamentos que nunca deram certo devido a sua prepotência, resultando no afastamento das pessoas dele.<br /><br />O tempo passou, a fortuna cessou e vieram as dificuldades. Foi aí que ele percebeu que estava sozinho no mundo e não teria mais ninguém para acudi-lo.<br /><br />Inesperadamente o velho homem viu quando a vela flutuou da mesa e veio ao seu encontro. Parou diante dos seus olhos e, em seguida, flutuou pela sala mofada. Percebendo o que queria ele seguiu a luz, sem medo.<br /><br />Na medida em que a vela flutuava pelos cômodos, ele pôde ver os detalhes das paredes, das maçanetas, do tapete velho, do lustre no corredor e dos quadros.<br /><br />De repente a vela parou diante de uma das pinturas. Parecia que queria dizer alguma coisa ao velho senhor. Então, quando ele olhou para a obra, reconheceu imediatamente a imagem. Era o quadro de sua mãe. Isso fez com que uma enorme emoção tomasse seu coração, deixando-o sem palavras. Tocou o objeto no mesmo instante em que se desfaziam a poeira e as teias de aranha que encobriam a moldura. Uma lágrima solitária brotou dos seus olhos. Não teve como contê-la. Então percebeu que toda sua vida de luxúria e mordomias havia ficado no passado. Porém cabia a ele reconstruir seu presente e aproveitar o pouco que ainda lhe restava.<br /><br />Olhando para os lados percebeu que aquela havia sido sua antiga casa. E o tempo, por mais moroso que fosse, não conseguiu apagar suas belas lembranças. Andando pelos cômodos ele começou a visualizar as pessoas que por ali passaram, os empregados, os animais, os antigos objetos e tantas outras coisas da qual nem sequer recordava.<br /><br />A vela aproximou-se de uma porta próxima da escada de madeira que dava direção aos quartos. Ela era a passagem para o antigo porão. Lá seu pai gostava de guardar todas as ferramentas que eram usadas na manutenção da casa. Felizmente, pelo menos disso ele conseguia se recordar.<br /><br />No instante seguinte a porta se abriu. Em seguida a vela entrou no cômodo escuro, úmido e fétido. Sem esperar mais o velho senhor seguiu-a sem medo. Percebeu o ruído dos degraus que rangiam sem cessar.<br /><br />Era terrível ver em que estado se encontrava o que antes havia sido conservado com tanto amor e zelo.<br /><br />Com passos minuciosos o senhor chegou ao final do porão. Lá reconheceu as velhas ferramentas do seu pai. Porém algo lhe chamou a atenção entre as sombras. Então decidiu, pela primeira vez, pegar a vela em suas mãos e iluminar o ambiente. Quando se aproximou um aperto no coração dominou seu interior, pois havia encontrado o cadáver de sua mãe. Sentiu um enorme desespero, acompanhado da tristeza que começou a iluminar sua memória. Afinal, depois de todos esses anos ele finalmente conseguiu reencontra-la, pois juraram para ele que ela havia viajado para o exterior em busca da cura de uma doença muito rara e da qual nunca soube do que se tratava.<br /><br />Nas mãos do cadáver ele viu um pedaço de papel amassado preso entre os dedos. Esse foi o último gesto de coragem que sua mãe fez pelo filho. Então, não resistindo mais à sua curiosidade, pegou o manuscrito em suas mãos e começou a lê-lo.<br /><br />“—Meu filho!<br />Se você está lendo isso agora é porque estou morta. Morta pela arrogância e ganância do seu pai em querer ficar com toda a fortuna da família. Mas sei que tudo deve ter dado errado para ele e você deve estar perto de mim agora. Então eu te peço, com todo o amor de minha alma, que me enterre dignamente no quintal de nossa casa, ao lado do corpo do seu avô e sua avó.<br />Não tenha medo, pois sempre amarei você.<br />Um beijo!<br />De sua eterna mãe,</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 100%;">Luzia.”</span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br />A partir daquele momento ele conseguiu compreender o porquê de tanta desgraça. Então, num gesto de amor, pegou cuidadosamente o corpo decomposto e mumificado e carregou-o pelos cômodos. Seguiu em direção ao quintal acompanhado pela vela flutuante que, nesse momento, aparecia erguida pela imagem de sua mãe, que estava feliz em ter reencontrado o verdadeiro e único amor de sua vida. O velho senhor não podia vê-la, mas sabia de sua presença. Por isso acalmou seu coração e se entregou de corpo e alma àquela que seria sua última obediência a sua matriarca. Uma obediência repleta de amor, respeito e admiração por alguém que sempre zelou por ele, mas que agora pedia um simples favor que lhe seria pago por toda a eternidade.</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 100%;">Fernando Magaldi<br />28/11 a 11/12/2008</span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-51750342330713342552009-04-02T20:28:00.004-03:002013-10-31T14:54:14.083-02:00A Mente Que Germinava<div style="font-family: verdana; font-family: verdana; text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: 100%;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjijHtcYsXtxOFw-qGZGcUcqdO5GA-2QW4-PRHW-o8u-JhZYBSM-deY53CQDBSwX1UW_sW9rA1eCdcLJKQkIDlTHCoRT9EKHpJKx1WD1Qb0uVpKKObtP1BPICDp_JcxFLyhm-i1MzE4mIst/s640/blogger-image-235211761.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjijHtcYsXtxOFw-qGZGcUcqdO5GA-2QW4-PRHW-o8u-JhZYBSM-deY53CQDBSwX1UW_sW9rA1eCdcLJKQkIDlTHCoRT9EKHpJKx1WD1Qb0uVpKKObtP1BPICDp_JcxFLyhm-i1MzE4mIst/s400/blogger-image-235211761.jpg" width="400" /></a></span></div>
</div>
<div style="font-family: verdana; font-family: verdana; text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;"><br /></span></div>
<div style="font-family: verdana; font-family: verdana; text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Aquele quintal era lindo! Todas as pessoas que passavam pela rua admiravam o pequeno pedaço de verde no meio daquele barulhento e poluído bairro da cidade grande. Muitos se sentiam no meio da natureza, principalmente o homem do correio que quase sempre trazia correspondências dos filhos do senhor que morava na humilde, porém conservada casa. Ele gostava de sentir o cheiro das folhas, das flores, das frutas... Sim! Havia vários pés de fruta naquele quintal. Bananeiras, goiabeiras, parreira de uva rosada, amoreiras e uma cerejeira. Essa era especial, pois um dos netos do senhor da casa havia plantado a sementinha e, desde então, ele tem acompanhado o crescimento da planta e do garoto. Era curioso ver como que aqueles dois seres vivos cresciam depressa! Enquanto um floria antes de dar frutos o outro deixava o cabelo crescer e, o que antes era liso, agora começava a formar lindos cachos dourados.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">O pé de cereja no auge de sua beleza, que era quando maduravam os frutos, conseguia se destacar das demais plantas pelo simples fato de possuir cores mais fortes em seus galhos. O vermelho das frutas ofuscava o amarelo da bananeira, o roxo da parreira de uva, o verde da goiabeira e tantas outras plantas belas que, nem por isso, eram menos importantes do que ele.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Então, como de costume, o carteiro aproxima-se do portão e diz, em voz alta e firme:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Correio!</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Espera mais alguns segundos e tenta novamente:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Correio!</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">No instante seguinte surge o senhor da casa. Ele aproxima-se do portão e diz:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Bom dia, Jorge!</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Bom dia, seu Antônio! –diz o carteiro- Pensei que não tinha me ouvido.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Não, senhor! É que eu estava lavando a louça. Minha esposa está de cama e não pode fazer esforço, entende?</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Oh, sim! Desculpe! –disse o carteiro meio sem-graça- Eu não sabia...</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Não se preocupe! Não é nada grave. Só está com uma dorzinha na coluna. Mas depois passa.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Melhor assim! Bem... tenho mais essas surpresas pro senhor.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Seu Antônio pega as duas cartas e lê rapidamente. No instante seguinte revela com um sorriso nos lábios:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Nossa, que saudade! São cartas da minha filha e do meu filho. –deu uma pequena pausa e prosseguiu- Muito obrigado!</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-De nada, seu Antônio! Tenha um bom dia e até logo.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Obrigado!</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">O senhor olha para as cartas com emoção. E a emoção de reencontrar os filhos mais uma vez, mesmo que fosse apenas pelo contato com as palavras, dominou seu coração.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Exibindo um largo sorriso ele se vira, após fechar o portão de sua casa, e sobe as escadas alegremente. Estava ansioso para ler as cartas para sua esposa. Afinal, como ela não podia fazer muito esforço, umas belas palavras chegariam numa boa hora.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /> </span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-weight: bold;">**********</span></span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span><span style="font-size: 100%;">A tarde caía lentamente. Enquanto isso o menino brincava no quintal. Sua mente era tão fértil quanto a terra que germinava as plantas daquele pedaço de chão escondido no meio da cidade.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Tinha em suas mãos alguns frascos de remédios velhos que ele gostava de misturar seus conteúdos e brincar de cientista. Numa base de cimento ele improvisou a mesa do laboratório. Fez uma pequena fogueira com alguns gravetos que estavam apoiados abaixo de uma lata, da qual ele teve o cuidado de recortar as laterais fazendo surgir, assim, os pés do “fogão”. Em cima dessa base ele colocava alguns vidros e misturava os xaropes e outros remédios inofensivos e imunes a explosão. Sua mãe não gostava de “podar” suas fantasias. Por essa razão separava com cuidado o que era inofensivo para seu filho. Afinal, sentia-se orgulhosa da vontade de aprender e pela curiosidade do menino, ao mesmo tempo em que se deliciava com o sorriso inocente do garoto.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Ele pegou um frasco com um xarope vermelho e disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Agora eu vou criar a fórmula da juventude.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Misturou o líquido com o que já estava no vidro sobre o fogo e continuou:</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">-Depois disso ninguém mais vai ficar velho e nem vai morrer. Vou ser o maior cientista do mundo. –misturou um pouco os dois líquidos e, depois de alguns segundos, prosseguiu- Mamãe vai ficar orgulhosa de mim.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">E assim ele continuou com sua brincadeira até o anoitecer.<br /><br /> </span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-weight: bold;">**********</span></span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span><span style="font-size: 100%;">Depois de um refrescante banho e de um delicioso jantar preparado por seus avós o menino foi para seu quarto. Adorava seu mundo. Era ali que ele liberava sua imaginação, representada por vários textos, desenhos, esculturas em argila e algumas pinturas que ele criava sobre as camisas mais envelhecidas.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Com a pureza das palavras ele fazia alguns “livros” em folhas reaproveitadas. Algumas folhas eram papel de pão que, ao invés de revoltá-lo por não ter dinheiro para comprar cadernos pautados, usava a situação para imaginar que criava pergaminhos ou mapas do tesouro onde ele acreditava que, depois de alguns anos, seriam encontrados e estudados. Seu nome ficaria famoso e isso o agradava.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Nos desenhos ele imaginava universos diferentes. Criava monstros, pássaros, naves espaciais e seres de outros planetas. E era na simplicidade de seus traços que surgiam as belas imagens. Muitas delas admiradas pelas pessoas que visitavam sua casa e que sempre eram abordadas pelo menino ansioso em mostrar para o mundo suas idéias criativas e revolucionárias.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Quando chovia ele aproveitava o barro avermelhado de seu quintal para esculpir alguns bichinhos. Depois de secos ele os pintava com sobras de tintas usadas em recentes reformas de sua casa ou criava seu próprio material extraindo as cores das pétalas de rosa e das flores do jardim de sua avó, onde ele misturava com a água que fervia em seu “laboratório”, formando, assim, o líquido precioso usado para tingir suas criações.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Já nas caixas de papelão que ele ganhava quando ia ao mercado para seu avô, reaproveitava o verso, pois este estava limpo e livre de palavras e logomarcas de produtos. Cuidadosamente ele recortava em pedaços retangulares para simular as telas dos grandes mestres da pintura. Com muita criatividade pintava sobre aquele frágil derivado da celulose todas as suas idéias.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Enfim, depois de todas essas atividades, o menino encontrava um tempo para rezar e dormir. No dia seguinte começava tudo de novo.<br /><br /> </span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-weight: bold;">**********</span></span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span><span style="font-size: 100%;">Após uma bela noite de sono ele se levantou disposto. Tomou, então, um café ralo e comeu algumas torradas feitas com “pão dormido”. Preparava-se para ir à escola, pois não podia se atrasar. Afinal, sua mãe era sempre muito exigente e enérgica quando fosse preciso. Como não gostava de decepcioná-la fazia tudo direitinho, crendo sempre que, com isso, ganharia o sorriso e o apoio dela em todos os seus sonhos. Porém, naquela manhã, algo o deixou muito triste.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Seu Antônio descobriu que precisaria cortar algumas árvores por causa da proliferação das formigas que estavam começando a infestar a casa. Como já tinha uma idade avançada não possuía a mesma força de sua juventude. Com isso ficava cada vez mais difícil fazer a manutenção do quintal sozinho. Precisou pagar um homem forte e bem disposto para podar o quintal. Infelizmente o pé de cereja, plantado há tantos anos pelo menino, e com a ajuda do seu Antônio, estava nesses planos. Teria que ser cortado.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Quando o menino soube da notícia ficou revoltado. Não queria conversar com a mãe, com os avós e nem com os amigos. Estava terrivelmente magoado. Afinal, aquele pé de cereja o acompanhou durante toda a sua infância e era duro ver que agora ele iria embora tão de repente.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Depois de muito pensar o menino teve mais uma idéia brilhante: iria imortalizar o pé de cereja. Pensou em sua fórmula da juventude e viu que não tinha como dar para a planta porque ela não tinha “boca” para beber. Decidiu, então, pintá-lo sobre o papelão e, com suas tintas alternativas, teria que criar uma fórmula duradoura, pois sabia que a tinta sumia com o tempo. E isso o desanimava.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Tentou esfriar a cabeça encostando-se no pé de cereja. Abraçou-o como se fosse a última vez. Sentiu, então, uma imensa felicidade. Não queria mais sair dali.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Inesperadamente algo acontece. Uma cereja muito madura caiu sobre sua camisa branca. A fruta era consistente e tinha um caldo forte e vermelho que envolvia um caroço, protegido por uma película fina e transparente. Havia manchado sua roupa de tal maneira que ele não conseguiu mais tirar. Foi aí que veio-lhe mais uma idéia: faria uma tinta grossa com o caldo da cereja, misturada com suas outras fórmulas secretas. Anotou tudo numa folha para não esquecer e seguiu em frente com seu projeto.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Algum tempo depois parou diante do pé de cereja e escolheu o melhor ângulo para pintá-lo. Queria que ficasse lindo, de modo que, com o quadro em suas mãos, pudesse dizer a todo mundo que ele havia feito tudo aquilo. Desde a plantação do pé à imortalização de seu “amigo vegetal” naquele pedaço de papelão.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Depois disso o pé foi cortado, juntamente com as outras plantas. Diante disso o menino decidiu recolher-se em seu quarto. Ficava admirando sua pintura com saudade. Queria que seu amigo “pé de cereja” estivesse neste mundo.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">De repente parou para pensar e viu que não estava mais só. Percebeu que havia feito a pintura em cima de um derivado da celulose, que também um dia foi uma árvore, e que a tinta vermelha e forte tinha sido feita através da pigmentação das frutas do seu amado pé de cereja. Sentiu um imenso alívio ao perceber que havia imortalizado seu amigo vegetal por acaso. Teria sido uma coincidência ou será que Deus havia lhe dado a inteligência e a chance de imortalizar o pé de cereja de modo que esse ficasse sempre próximo do menino?</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Verdade ou coincidência o garoto espalhou para todo mundo que havia criado a fórmula da juventude porque tinha ajudado seu grande amigo e que esse nunca mais morreria. Evidentemente todos riram e duvidaram. Mas ele sabia que a verdade estaria sempre à sua frente, pendurada na parede do seu quarto e com uma coloração eternamente vermelha.</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 100%;">FERNANDO MAGALDI</span><br />
<span style="font-size: 100%;"><br /></span>
<span style="font-size: 100%;">Data do texto original: </span><span style="font-size: 100%;">11, 12 e 13/02/2008</span><br />
<span style="font-size: 100%;">Data do texto final: 29/06/2008</span></div>
<span style="font-size: 100%;"><br /></span></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-8828115008332624412009-03-09T18:54:00.004-03:002013-10-31T12:14:03.292-02:00A Mão De Veludo<div>
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Adm7OFyVDeaB9SSFohvLQiFJfCN_DxCt8OpB1jd-SkzEk3WugI6qaCcMOsl260RslJKk4CaxajjNqjTNj_GJW3nJnvQ4rwCO_-ba2TfvN_1SXuVDyA8T8c-l-8G5-W-BC_SAE653zD5T/s640/blogger-image--1868985818.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Adm7OFyVDeaB9SSFohvLQiFJfCN_DxCt8OpB1jd-SkzEk3WugI6qaCcMOsl260RslJKk4CaxajjNqjTNj_GJW3nJnvQ4rwCO_-ba2TfvN_1SXuVDyA8T8c-l-8G5-W-BC_SAE653zD5T/s400/blogger-image--1868985818.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both;">
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Enquanto as ondas do mar estouravam na praia o sol ia fazendo sombra entre as pedras, árvores e montanhas. O vento continuava soprando e trazendo a maresia constante que tocava o rosto do menino. A praia era um ótimo lugar para brincar, mas ele achava mais legal observar a natureza e toda sua beleza. Tentava entender como as ondas se formavam, como o vento soprava, como as cores existiam... A natureza é simples, mas ele, em toda sua inocência, queria sempre saber mais, porque tudo o fascinava.</span></div>
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">No momento seguinte o menino se levanta e começa a caminhar lentamente pela praia. Estava descalço e gostava de sentir o pé afundar na areia. Às vezes fazia cócegas, principalmente quando era grossa. Mas ele gostava. Outras vezes caçava tatuí na areia, onde estouravam as ondas, junto com seus amigos. Porém, quando estava mais afastado da água do mar, principalmente onde as dunas de areia se formavam, gostava de ficar só. Sentia uma imensa liberdade e esse era um momento só seu, pois era nesse instante que ele se desligava do mundo em que vivia.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Tudo em sua vida poderia ter sido diferente, mas os anos não foram tão generosos com ele. Tentava manter sua mente sempre vazia, através de brincadeiras e atividades escolares e domésticas. Porém, mesmo assim, não conseguia. Era muito difícil esquecer todas aquelas mágoas. Imagens se formavam em sua cabeça como um velho filme em preto e branco, com cenas distorcidas e perturbantes. Verdadeiros fantasmas, onde a única coisa que o aliviava eram suas constantes caminhadas a só na praia.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Muitas vezes a solidão é bem-vinda. Nos acalma. Mas no caso daquele menino era muito mais que isso. Era como se lavasse sua alma.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Há exatamente um ano o menino presenciou sua mãe ser violentamente espancada até a morte e, após isso, viu o estupro do cadáver esticado no chão. Porém, aquelas cenas teriam sido menos horrendas se os autores de toda aquela atrocidade não tivessem sido seu pai e seu irmão mais velho. Por mais estranho que seja o que será que levaria um marido e um filho a cometer tamanha insanidade contra a “Rainha do Lar”? Bem... em cidades pequenas sempre prevaleceram a lei do mais forte e do machismo. E, infelizmente para aquela mulher, essa lei acabou batendo na porta de sua casa como um trem desgovernado, destruindo tudo à sua frente.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Voltando no tempo poderemos compreender melhor como tudo aconteceu!</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Já era tarde quando a mãe do menino saiu para comprar os ingredientes para fazer o jantar. Seu irmão e seu pai trabalhavam juntos na lavoura, embaixo de um imenso sol escaldante. E, como de costume, picadas de formigas e cobras eram comuns. Mas uma traição... imperdoável. E foi exatamente nesse dia que algo inesperado aconteceu.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">O marido e o filho, já dominados pelo álcool que tomavam entre os intervalos do serviço, viram a mulher numa situação que acharam desagradável: A mãe do menino estava conversando com um amigo. Ele era o marido de sua melhor amiga, porém desconhecido por seu marido e seu filho mais velho devido às constantes presenças de embriagues que os impedia de memorizar a fisionomia daqueles que freqüentavam sua casa.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Num ataque de ciúme os dois separaram violentamente a mulher do homem que, imediatamente, ficou sem ação. Os dois eram grandes e fortes. Então, sabiamente, ele decidiu abaixar a cabeça e sair de mansinho.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Todas as pessoas que estavam à volta viram o momento em que a mulher foi arrastada pelos cabelos, acompanhada de muitos gritos de insulto, tapas, socos e chutes. Foi possível ver claramente o momento em que os dois homens covardemente quebraram a mandíbula da mulher para que ela não gritasse mais. Pode-se ouvir o barulho dos ossos se partindo ao meio, acompanhado de muita dor e sofrimento. Sua expressão foi ficando terrivelmente amarga, triste e desfigurada, no mesmo momento em que tentava entender o motivo de tamanha loucura. Sentia-se dentro de um pesadelo que parecia não ter fim.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Alguns passos à frente os dois homens decidem, em mais um momento de covardia, “lavar a sua honra”. Pegaram uma imensa pedra e, após mirar, entre um cambalear de pernas e outro, atingiram a coluna da mulher com uma violência indescritível. Como ela não conseguia gritar, gemeu, já sem forças para lutar. A partir daí ela nunca mais poderia andar. Havia rompido a medula.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Olhos desesperados choravam, principalmente das mulheres dos lavradores e crianças. Não havia o que fazer. Além disso, muitos tinham medo de piorar ainda mais a situação. Se é que havia como piorar...</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">A presença daquela violência foi ficando marcada pelo sangue inocente desde o chão de terra até a casa em que moravam. Era uma velha e humilde casa de pau-a-pique, devido à raridade de tijolos por aquela região.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Para se ter uma noção de tamanha pobreza bastava dizer que não havia água potável, energia elétrica e, tampouco, redes de esgoto. Fossas e poços artesianos eram mais comuns.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">As crianças que estavam na escola nunca presenciavam coisas desagradáveis de família. Mas naquele dia tudo havia sido diferente. O menino quis ver o pai e o irmão chegando do trabalho. Queria fazer-lhes uma surpresa com um presente que ele mesmo havia feito com as conchinhas que pegava na praia. Eram dois cordões muito bonitos, mas que não puderam ser entregues. Tudo havia acontecido muito rápido e o garoto tinha medo que acontecesse o mesmo com ele.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">A violência prosseguiu sem fim até o momento em que o pai decide bater a cabeça da esposa várias vezes no chão. O sangue começou a jorrar de sua nuca. Então, ela aos poucos foi desfalecendo, até o momento em que não pôde mais respirar. Seu corpo coberto de sangue e escoriações, além de hemorragias internas, já possuía o cheiro de morte.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Os dois “animais” da casa, ainda insatisfeitos com sua vingança, decidem rasgar o vestido do corpo já sem vida. No instante seguinte começaram a estuprá-la com violência. Suas risadas infernais penetraram nos tímpanos do menino que se encontrava escondido atrás da porta da cozinha. Apavorado ele decide fechar os olhos, pois não conseguia mais ver o corpo ensangüentado e o rosto desfigurado de sua mãe.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">O menino não compreendeu nada do que estava acontecendo porque não sabia o motivo da briga. Mas sabia que era uma coisa muito feia e errada, porque sua mãe sempre dizia que “em uma mulher não se bate nem com uma flor.”</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Terminada a insanidade o pai e o filho mais velho percebem a idiotice que haviam feito. Decidem, então, enterra-la na praia, pois sabiam que era deserta e ninguém aparecia por lá de noite.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">O garoto acompanhou os passos cambaleantes do pai e do irmão. Começou a sentir uma coisa ruim que ninguém nunca havia lhe explicado. Mesmo assim, entre um arbusto e uma árvore, ele foi acompanhando o secreto velório de sua mãe. Era triste, mas ele tinha que fazer aquilo.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">O vento da praia tocava seu rosto como uma seda no mesmo instante em que o acalmava naquela situação tão desagradável.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">As horas se passaram e tudo já havia terminado. Seu pai e o irmão foram para casa se embriagar mais, achando que toda aquela loucura acabaria nuns goles de cachaça. Já o garoto decidiu se aproximar da cova da mãe. Agora começava a sentir medo.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Então pensou sozinho:</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">“-Será que mamãe está conseguindo respirar embaixo dessa areia?”</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Incrivelmente uma forte luz se forma ao seu lado. Em seguida uma mão aveludada toca seu ombro. Quando se virou percebeu a presença de sua mãe. Ela estava linda e ninguém mais poderia machucá-la.</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Ingenuamente o menino perguntou:</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">-Mamãe, como você fez isso? Não vi você sair da areia...</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Ela olha o filho com ternura e diz:</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">-Vamos fazer uma coisa? Venha aqui toda a noite sozinho para passearmos na praia que um dia eu te conto, está bem?</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">-Tá bom mãe!</span><br />
<br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">Após esse dia, todas as noites os moradores da cidadezinha comentavam que viam um menino andar sozinho pela praia e não conseguiam entender porquê aquela criança não tinha medo do escuro.</span><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">FERNANDO MAGALDI</span><br />
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">07 a 15/02/2008</span></div>
<br /></div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-40036750540001413112008-12-31T08:06:00.007-02:002013-12-15T19:45:06.980-02:00Uma Gota de Esperança<div>
<span style="color: white; font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;"></span></span><br />
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</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Amnbk2Gq38tDleKG3V_xGywySPTm3QE5eXI5pwEGczO-L5LCLfIjeakgpB_ELvp-uFqOTd4Lc4wWBOSIwGVPSWfahYzjjjKnYafjPAC6fASfhP8rSeZSVOv9GwDz7yy7sH6sHr-4alPy/s1600/IMG_1270.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Amnbk2Gq38tDleKG3V_xGywySPTm3QE5eXI5pwEGczO-L5LCLfIjeakgpB_ELvp-uFqOTd4Lc4wWBOSIwGVPSWfahYzjjjKnYafjPAC6fASfhP8rSeZSVOv9GwDz7yy7sH6sHr-4alPy/s400/IMG_1270.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i>"A Riqueza da Luz" é o título original do conto "Uma Gota de Esperança"</i></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;"><br /></span></div>
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Há milhões de anos atrás nos encontramos com o primeiro ser vivo. Frágil, delicado e indefeso. Ao seu redor um imenso oceano onde águas geladas cobriam a Terra com toda a sua imensidão e pureza. Porém essa pureza também nos faz lembrar os primeiros minutos de nossa vida, onde, ao sentirmos a imensidão que está a nossa volta, nadamos como peixes no líquido amniótico. O Mundo a nossa volta era enorme, e acreditávamos ser tudo. Até que nascemos e percebemos o quanto dói crescer. Aquela luz forte, seres estranhos nos apalpando, frio, ruídos incompreensíveis... Enfim, informações demais para o início de uma vida como a de todos nós, seres vivos e humanos.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os anos se passam e tentamos encontrar a milagrosa fórmula da felicidade, sem que para isso sintamos dor. O cotidiano e o meio social que nos cerca treina-nos a buscar cada vez mais uma felicidade imediata. Em muitos casos através dos vícios, como se a pequena ilusão daqueles “goles” fosse o suficiente para transformar toda a realidade que está a nossa volta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Como de costume já era tarde. Altas horas da noite. Enquanto isso um corpo completamente inconsciente e alcoolizado vagava cambaleante pelas ruas imundas e becos escuros da periferia. Seu destino: O LAR! SUA CASA! E, como expectadores, sua mulher, seu filho e o cachorrinho de estimação aguardavam ansiosos mais uma vez durante quase toda a madrugada, por onde entraria através da porta o patriarca, marido e único exemplo conhecido pela criança até então de caráter, força de vontade e fé. Uma fé distorcida pelo humanismo moderno, onde o prazer do corpo se encontra sempre em primeiro lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A voz mole e rouca transpassa pela porta, chegando aos tímpanos daqueles que habitavam aquela casa como o sinal de mais um martírio. Conseqüentemente o barulho das chaves ecoava como uma tortura sem fim.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do lado de fora o pai resmunga:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Merda! Cadê o buraco da fechadura que tava aqui? – enquanto isso suas pernas iam sustentando com o resto de força que ainda lhes restavam todo o seu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mãe desesperada, tentando proteger o filho, diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Querido, vá para o seu quarto. Papai está cansado e precisa da mamãe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Mas eu quero “vê ele”, mãe! Tô “cum” saudade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhos dela se encheram de alegria e dor ao mesmo tempo, transformando-se em discretas lágrimas que escorrem pelo seu rosto sofrido atingindo o tecido de suas roupas e absorvendo como uma esponja toda aquela angustiante situação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Carinhosamente ela leva o filho para seu quarto usando palavras de conforto como só a maciez da voz de uma mãe sabe fazer. Em seguida segue em direção à porta. Toca-a fechando os olhos, faz um pequeno momento de oração e, após respirar fundo, abre-a lentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eis então que surge o “senhor do lar” em trajes lastimáveis com sua camisa desabotoada e um forte odor de álcool que exalava pela sua boca e seus poros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No abrir da porta o ser cambaleante resmunga mais uma vez, enquanto segue para o sofá. A mãe, submissa como sempre, sacrifica-se em aceitar toda aquela situação constrangedora, acreditando que com isso continuaria sustentando seu casamento e preservaria o próprio filho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Mulher! –resmungou o pai- Tire minhas calças que tô cansado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela obedece.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-O que tem pra comer? –perguntou ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Arroz, feijão e omelete. –respondeu ela com voz trêmula.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pai, percebendo a fraqueza da esposa, se aproveita maliciosamente da situação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levanta-se, puxa a esposa em direção à mesa da sala e começa a rasgar as roupas dela com extrema violência. Seu cérebro estava tão tomado pelo álcool que já havia esquecido da presença de seu filho, ignorando completamente os exemplos que deixaria para a nova geração de sua árvore genealógica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mãe tentou escapar, mas as mãos fortes do marido conseguiram dominar seu corpo e, no instante seguinte, começou a violentá-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curioso, o garotinho observava toda aquela situação através da porta entreaberta de seu quarto, enquanto, ao mesmo tempo, ia tentando entender se tudo aquilo era um lar feliz ou se havia uma outra forma de relação conjugal entre seus pais que pudesse ser digna de exemplo para seu futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O corpo da mãe balançava com violência perante o coito animal de seu marido, enquanto uma lágrima silenciosa brotava dos seus olhos, acompanhada de muita dor, sofrimento e um cheiro forte de bebida barata.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saciado e deixando sua esposa caída no chão o “demônio do lar” recolhe-se para a cama espaçosa de seu quarto, adormecendo em seguida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cachorrinho se aproxima da mulher estendida no chão e cheira seus cabelos carinhosamente. Ela percebe e consegue forças para virar seu rosto, recebendo uma deliciosa lambida na bochecha e em seus lábios, através daquele ser puro e peludo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As horas passam e termina, assim, mais uma noite que poderia ter sido perfeita para uma família feliz. Porém, dominada pela influência do vício e da fraqueza humana, vai se degradando lentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os anos se passam. O garoto cresce e consegue milagrosamente manter-se sem as influências do pai. Sua mãe nunca tinha perdido as esperanças em dar o melhor para ele. Com isso, ela conseguiu, através de muito diálogo e oração, criar o esplêndido caráter do filho, livrando-o daquela maldição social.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O rapaz, agora independente, passa a ajudar no lar com algum dinheiro. O suor de seu rosto, toda vez que chegava em casa, demonstrava seu esforço e perseverança na fé que o conduzia à, um dia, construir um lar feliz, mesmo que seus “alicerces” estivessem abalados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em meio a tantas loucuras, começam a surgir os primeiros sintomas daquele câncer familiar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num dos raros momentos de lucidez do pai, ele levanta da poltrona, onde se encontrava assistindo TV com a família, e diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Já está tarde. Acho que vou esticar um pouco as pernas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mãe e filho observam o “homem da casa” afastar-se lentamente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O rapaz diz:</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Bom descanso, pai!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Obrigado, filho. –respondeu ele sem olhar para trás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com passos vacilantes o pai decide mudar seu rumo. Estava ficando com fome e resolve ir para a cozinha. A iluminação fraca forçava-o a enxergar com dificuldade. O corredor estreito e frio, que separava a sala da cozinha, parecia aumentar de tamanho a cada passo, como um labirinto sem fim. Inesperadamente sente um forte calafrio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Surpreso com aquilo ele pensa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“-Acho que preciso de uns goles. Esse frio não é normal.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De repente as luzes se apagam. A visão se torna impossível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tomado pela situação ele diz alto:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Mulher, o que está acontecendo?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não houve resposta. Contudo ele insiste:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Cadê vocês? Filho! Respondam...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Algo gélido toca seu ombro. Ele dá um pulo assustado. Vira-se e tenta ver inutilmente pela escuridão o que seria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Quem está aí? –pergunta solitariamente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nenhuma resposta. Agora sentiu que estava sozinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um vento gélido passa pela sua nuca e, inesperadamente, algo fino e suave toca sua calça apertando delicadamente seu pênis, enquanto ia subindo lentamente pelo seu corpo, acariciando-o. Naquele instante uma sensação de prazer domina seu ser, acompanhada de um leve sorriso que, agora, aparecia iluminado por um facho de luz brotado do final do corredor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao abrir os olhos uma visão de terror o abala. À sua frente a sua esposa em adiantado estado de decomposição ia acariciando-o lentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seu coração dispara, acompanhado de um grito de desespero:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Aaaaaaiii! O quê é isso, Jesus?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele corre para a cozinha. O coração palpitava intensamente. Uma respiração ofegante exala de sua boca, enquanto começava a sentir uma enorme falta de ar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com mãos vacilantes ele tenta achar o fósforo e uma vela. Consegue acende-la com as mãos já trêmulas. A luz fraca começa a iluminar aquele local pequeno e tenebroso. Já não havia mais sinal do terror. Mas ele, para se garantir, segue em direção aos talheres, pegando uma faca afiada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um vento vindo do nada, acompanhado de vozes de lamentações, passa por ele. A luz da cozinha acende e nada se vê. O pai, ainda inseguro, mantém a vela acesa, aproximando-a de seu rosto. A luz da cozinha apaga-se novamente e eis que surge a mesma imagem de sua esposa. Porém, agora ela estava sentada no chão enquanto cantarolava no mesmo instante em que ninava seu filho de aparência cadavérica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-O quê você quer de mim, desgraçada? –gritou ele desesperadamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela olha para ele, abre os lábios e exala uma infinidade de vermes, líquidos pegajosos e vozes de desespero, como se estivesse no seu interior todas as angústias e sofrimentos da humanidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pai, desesperado, joga a faca tentando atingir aquela que não era mais sua esposa, pois não compreendia como toda essa situação assustadora poderia estar acontecendo. O instrumento cortante atinge o peito daquele ser. Um som de lamentação sai de sua boca, acompanhado do choro do filho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Inesperadamente a criança diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Papai, por que nos abandonou?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pai, não entendendo nada, vai aproximando-se daquela figura grotesca e frágil, enquanto ouve com atenção suas lamúrias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Se não fosse a bebida, hoje seríamos uma família feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pai engole a saliva a seco. Sua respiração já não importava mais. Muito menos o cheiro fétido da carne apodrecida que estava à sua frente. A carne de sua própria família, destruída por ele mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Lutei tanto, pai! – continuou a criança- Me afastei dos vícios. Mamãe, sempre forte e de muita fé, deu-me a base que não encontrei em você. Eu achava que você seria meu herói e, com isso, um exemplo para mim para que, quando chegasse na vida adulta, pudesse me orgulhar de ter tido um ícone em quem me espelhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um choro desesperador brota da boca da mãe, enquanto os vermes mexiam-se violentamente sobre a carne apodrecida. Era uma agonia tão forte que dava para atingir a alma, enquanto era finalizada na exaustão completa de suas forças. Nesse instante decide olhar para o marido. Ele, percebendo o significado da situação, ajoelha-se e começa a chorar. Percebeu que havia destruído sua vida e que suas lágrimas não seriam suficientes para cobrir todo o oceano de insanidades, crueldades, impurezas, vícios e traições que, durante anos, brotaram de suas mãos. Exausto, ele abaixa sua cabeça e toca o ombro putrefato de sua esposa. Essa, contudo, mesmo lembrando-se dos sofrimentos que passou nas mãos daquele homem, começa a acariciar os cabelos do marido. Choro, desespero e angústia dominam o ar daquele local, fazendo-se ecoar por toda a casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após alguns minutos de angústia ouve-se o som do corpo do pai desmoronar-se no chão. As luzes piscam intensamente, acompanhadas de ventos fortes e sons incompreensíveis vindos do além. Imagens se distorcem com violência e embaçam como que um espelho no vapor do chuveiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eis, então, que nesse momento surge o corpo do pai estirado no chão. Ao seu redor a mãe chorosa e o filho inconformado, eram, agora, rodeados por amigos e vizinhos. Havia sido um enfarto fulminante. O pobre homem era, nesse instante, abraçado fortemente pela família. A única que teve, pois era órfão. Choravam a perda do ente querido, mesmo sabendo que esse não tivesse sido digno de exemplo, e sim apenas mais uma vítima das impurezas do mundo terreno que conhecemos. Impurezas essas que começam pelo simples prazer da felicidade e acabam destruindo tudo de bom que a vida um dia lhe proporcionou: UMA SAGRADA FAMÍLIA FELIZ.</div>
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<br /></div>
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No dia seguinte seguiu-se o cortejo pondo um ponto final no momento triste que havia sido a história daquela família. O caixão, então, toca o solo da sepultura, onde esta, por sua vez, concretiza sua função como consoladora de almas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um ano depois o rapaz entra todo feliz na casa da mãe. Sua esposa tinha dado à luz. Nasce, agora, um novo membro da família. Era uma menina e chamava-se VITÓRIA, pois representava, após tantos anos de sofrimento, um consolo e uma nova esperança para aquela família. Já o jovem papai cresceu livre dos vícios e começava, após muita força de vontade, humildade, perseverança e fé, a construir um novo lar. Um lar livre do pecado e da dor desnecessária, confirmando uma verdadeira profecia da qual nunca poderemos esquecer e deixar de nos espelhar: ENQUANTO HOUVER VIDA, SEMPRE HAVERÁ UMA ESPERANÇA.</div>
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<br /></div>
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FERNANDO MAGALDI</div>
<div style="text-align: justify;">
05/05 a 13/05/2007</div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-59784795120417327252008-09-04T18:35:00.008-03:002013-10-31T12:13:18.154-02:00A Viagem do Algodão<div style="font-family: verdana; text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWBSJtw11iT6F13kUfTrnkJS8sCf8uVdRF48fb0RL-QQkuElUAQrfoUi8ke3kalMvbVzaH1cReXxGrQmx5hlyDZ3cOxeyvqubnYJ18mCqN5F7MAXv-6ciiR0F2J5ejzZi07QHka0r_sHfM/s1600/IMG_1284.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWBSJtw11iT6F13kUfTrnkJS8sCf8uVdRF48fb0RL-QQkuElUAQrfoUi8ke3kalMvbVzaH1cReXxGrQmx5hlyDZ3cOxeyvqubnYJ18mCqN5F7MAXv-6ciiR0F2J5ejzZi07QHka0r_sHfM/s400/IMG_1284.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
</div>
<div style="font-family: verdana; text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Enquanto o sol ia caindo lentamente no final da tarde uma brisa tranqüila e suave balançava levemente a plantação de algodão.<br /><br />Nesse mesmo momento um senhor de idade já avançada colhia os frutos de seu trabalho. O suor escorria pelo rosto queimando os olhos com seu teor salgado no mesmo tempo em que caía no solo, fertilizando-o com amor. Amor esse que se estendia também pela sua família. Um amor puro e fraterno, onde o respeito de um pelo outro estava sempre presente.<br /><br />A esposa e os quatro filhos haviam aprendido a gostar da profissão daquele humilde senhor. O que antes era uma obrigação com o tempo acabou transformando-se em paixão.<br /><br />No fim do dia vários fardos de algodão ocupavam o pequeno galpão daquele humilde sítio.<br /><br />Quando amanheceu um caminhão de uma indústria têxtil chegou para negociar mais um carregamento. Era o próprio dono da empresa que dirigia e negociava. Bastante cuidadoso, ele selecionava o material e, com a ajuda da família do dono do sítio, ia carregando o caminhão.<br /><br />Após terminar a transação comercial, despedem-se mais uma vez.<br /><br />-Foi um prazer negociar com o senhor, seu Zé. –disse o empresário.<br /><br />-Quê isso, seu moço! Eu que agradeço. Deus lhe pague por comprar “cum a gente”.<br /><br />O caminhão segue, então, para a indústria. Começaria agora uma nova etapa na “vida” daqueles “pedaços de nuvem” brancos como a luz e suaves como a paz. Máquinas incansáveis e mãos muito habilidosas se encarregavam de dar uma forma para aquele macio material. Dava gosto de ver a satisfação nos olhos dos funcionários da fábrica após terminarem a transformação do algodão num belo e resistente tecido, onde muitos deles eram, agora, coloridos.<br /><br />Ao fim da tecelagem uma empresa de confecção encomendou a primeira remessa de tecido. Já estava chegando o fim do ano, época em que a demanda aumentava devido às datas comemorativas, o que aquecia cada vez mais as vendas dos comerciantes, além das ofertas de emprego.<br /><br />O tempo passou, o tecido virou roupa e teve seu momento de beleza. Cobria o corpo de uma senhora muito rica, admirada pela sociedade e respeitada por todos, devido sua delicadeza, compaixão, humildade e caridade por todos os que não possuíam um teto para morar.<br /><br />Os anos passaram e o tecido, que por sinal era um belo vestido, perdeu sua utilidade. Com isso sua dona decidiu doa-lo para a caridade, pois o fim do ano estava chegando e, com ele, as campanhas de arrecadação de agasalhos e mantimentos também.<br /><br />Por coincidência ou sorte o desbotado vestido caiu nas mãos de uma senhora habilidosa. A moça da campanha de arrecadação iria dar-lhe apenas uma peça de roupa. Mas o olho da senhora tocou seu coração tão fortemente que não pôde negar. Além disso, aquela mulher lembrava tanto sua avó que quase chorou de emoção. Mas conteve suas lágrimas e agiu de forma profissional, afinal era preciso demonstrar confiança para aquela gente tão sofrida.<br /><br />A velha senhora ganhava a vida confeccionando tapetes com retalhos que ganhava de algumas costureiras e de suas patroas, pois também trabalhava como doméstica.<br /><br />Não podia descansar porque com os tapetes ela reforçava seu orçamento, do qual tirava parte do seu sustento, além de ajudar os filhos e netos.<br /><br />Todos os tapetes eram bonitos. Mas havia aquele em que ela tinha colocado toda sua “alma” na hora de confeccionar. Com isso o velho vestido havia encontrado uma nova forma de vida. Foi tingido com uma cor vibrante que acabou chamando a atenção da dona de uma loja de um shopping da cidade. Ela sempre procurava por novidades e justamente aquele belo tapete feito à mão parecia que havia caído do céu.<br /><br />Decidida ela se aproxima da velha senhora e diz:<br /><br />-Vou levar esse! Se vender bem encomendo outros com a senhora, está bem?<br /><br />-Deus lhe pague, moça! –disse a senhora após finalizar a venda em sua barraca na feira-livre.<br /><br />Algumas horas depois o tapete enfeitava a vitrine da loja. Como era uma peça única chamava bastante atenção.<br /><br />Minutos mais tarde uma senhora elegante pára diante da vitrine e se depara com a beleza daquela peça. Não resistindo à tentação entra na loja e compra o produto com satisfação e prazer, pois sabia que levava vida nova para embelezar a decoração de sua luxuosa casa. Porém ela nunca poderia imaginar que toda aquela beleza que hoje enfeitava um canto de sua sala já havia, um dia, enfeitado o seu corpo, mas que agora retornava ao seu velho lar completamente renovada e irreconhecível.</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 100%;">FERNANDO MAGALDI<br />Data original: 07/09/2007<br />Data do texto final: 29/01/2008</span></div>
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FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-14248357152799139202008-08-19T23:01:00.006-03:002013-10-31T12:13:04.107-02:00A Última ChanceO que fazemos quando o Mundo nos maltrata? Aprendemos a dar o troco com a mesma moeda, não é assim? Pois bem! Só que não nos damos conta das conseqüências que esse mal nos traz. Poderíamos até dar um exemplo através da lei da Física: AÇÃO/REAÇÃO. Ou seja: TOMA LÁ, DÁ CÁ. Ou ainda: AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA.<div>
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Sabemos que muitas dessas situações nos são passadas em nossa própria criação, mesmo que sem maldade, para que possamos nos defender. Ou também através do mundo exterior com amizades inadequadas e pelos meios de comunicação (TV, Cinema, Internet, etc.), onde encontramos um farto material apelativo e vingativo.<br /><br />O tempo vai passando e começam a surgir os filhos desse meio.<br /><br />Um rapaz que se encontrava desanimado, porém pensativo, caminhava lentamente em direção à sua casa. Ele tinha muitas dúvidas e medos. Medo do passado, presente e futuro. Insegurança nos estudos e em seu local de trabalho, onde sempre se sentia ameaçado por alguns colegas. Situação que o obrigava a se defender de uma forma que não concordava: ÁSPERA. Isso só aumentava seu remorso e uma terrível mágoa da humanidade.<br /><br />Havia situações em que ele culpava Deus. Brigava. Porém esquecia de fazer sua parte, achando que tudo cairia do Céu sem sacrifícios.<br /><br />Olhou para os lados sentindo a brisa do vento quente e poluído, os sons ruidosos dos automóveis e as vozes descompassadas das pessoas que beiravam as calçadas por onde ele andava. E era nesse ambiente urbano, influenciado por uns e outros, que ele ia escrevendo sua história.<br /><br />Alguns passos à frente, após virar a esquina, ele vê uma senhora segurando o filho no colo. Ela o avistou de longe e, imediatamente, estendeu uma das mãos como que suplicando por misericórdia, e pediu sem remorso:<br /><br />-Moço, você tem uns trocados pra eu “comprá” um leite pro meu filho? Já tem um mês que ele não bebe leite nem come direito...<br /><br />O rapaz revoltado, mesmo sem saber porquê, responde:<br /><br />-Sinto muito! Tô duro! Não recebi esse mês ainda.<br /><br />Ela insistia:<br /><br />-Pelo amor de Deus, moço. Dá uma ajudazinha...<br /><br />Ele pára, olha para a senhora se agacha e diz baixinho:<br /><br />-Deixe-me falar uma coisa! Se a senhora se esforçasse poderia arrumar um emprego e parar de ficar pedindo dinheiro aos outros. Isso é muito chato, sabia?<br /><br />Logo após ele levanta, se despede com um seco “tchau” e vai para casa.<br /><br />Enquanto se afastava uma lágrima começava a brotar dos olhos da senhora. Ela queria ter dado uma resposta, mas a baixa-estima, causada pela sua paralisia, a impediam de fazê-la levantar a voz e até mesmo seu próprio corpo.<br /><br />Já era fim de tarde quando o rapaz finalmente chega em casa. Cumprimenta os pais rapidamente. Em seguida pega roupas limpas e uma toalha no seu quarto, seguindo direto para o banheiro. O suor o incomodava. Mas no momento em que aquela água morna e relaxante tocou seu corpo, começa a sentir um alívio. Era como se todo o peso do mundo estivesse saindo de suas costas e caindo em direção ao ralo.<br /><br />Começou lavando a cabeça lentamente. Em seguida ensaboou seu rosto. O som das gotas de água em contato com o chão ecoava pelo banheiro, atingindo seu tímpanos como uma melodia. Mas, nesse instante, ele começa a sentir algo diferente. Uma sensação de calafrio tomou todo seu corpo. Ficou preocupado.<br /><br />“-Que sensação estranha.” –pensou ele- “Nunca havia sentido isso...”<br /><br />Continuou se ensaboando normalmente. Não devia ser nada de mais.<br /><br />Inesperadamente ele começa a ouvir uns sons estranhos ecoando pelo banheiro. Porém, não tinha idéia de onde estariam vindo. Em seguida um cheiro de lodo e uma sensação de aspereza dominou seu corpo. Sentiu suas pernas adormecerem. Algo o puxava para baixo. Estava ficando amedrontado. Porém, mesmo assim, decidiu olhar. Não acreditou no que viu. Uma imensa cobra havia saído pelo ralo e estava se enroscando em suas pernas. Ficou mudo. Por mais que se esforçasse, sua voz não saía. Tentava gritar em vão. Era como se seu corpo estivesse anestesiado. Conseqüentemente começa a entrar em desespero. Começou a imaginar as coisas que havia feito até então. Quanta pessoa ajudou. Porém, quantas pessoas ele também havia maltratado. Tantas coisas poderiam ter sido diferentes em sua vida. Tantos planos e sonhos para concretizar... até o momento em que ele decidiu fechar os olhos e aceitar seu destino.<br /><br />Um forte som de trovão ecoa pelo ar, acompanhado de um relâmpago. A luz do banheiro pisca. O rapaz assusta-se e decide abrir os olhos. Percebeu então que a enorme cobra e a sensação de calafrio havia desaparecido.<br /><br />Confuso e sem saber o que fazer ele pensa:<br /><br />“-Meu Deus! Que loucura! O que está acontecendo comigo?”<br /><br />Ele sentiu na pele uma sensação de morte inexplicável. Percebeu que para morrer bastava estar vivo. Mas para viver ele precisaria aumentar sua fé, esperança, esforço e compaixão pelos outros. Algo que não se encontrava dentro dele há muito tempo. Que de nada adiantava ter tantas coisas se você não externalizasse sua gratidão pelo simples fato de, milagrosamente, ainda estar vivo.<br /><br />Pena que ele percebeu isso tão tarde, pois, bem distante dali, jazia o corpo de uma senhora com uma criança chorando de fome e dor. A dor da vida e da perda de sua mãe desnutrida. Afinal, ela deixava de comer para dar ao filho, pois acreditava que pelo menos ele poderia encontrar uma alma caridosa que lhe estendesse a mão e desse o conforto que ela nunca havia tido: UMA CHANCE PARA VIVER.<br /><br /><br /><br /><br /><br />Publicado originalmente na ANTOLOGIA DE CONTOS FANTÁSTICOS / volume 3<br /><br />pela <a href="http://www.camarabrasileira.com/contosfantasticos3.htm">Câmara Brasileira de Jovens Escritores</a> / Maio de 2007</div>
FERNANDO MAGALDIhttp://www.blogger.com/profile/00824159629559764472noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8603359480470457332.post-75399886846567088482008-08-19T22:54:00.006-03:002013-10-31T12:11:18.586-02:00Noite Escura<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;"></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPe86injzUAm0UZQKox_Mre0HZQAT-2YJE7Xy-pOSMQD3tgG1TCl1HTP4r30eZj39ZNOf9NYn7_vo7CT1hHFnmh5cBTwM694IMb1mlwEZm6HnDZf_PsYIj_bss1admuaOF59GAZBFG0svK/s1600/IMG_1262.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPe86injzUAm0UZQKox_Mre0HZQAT-2YJE7Xy-pOSMQD3tgG1TCl1HTP4r30eZj39ZNOf9NYn7_vo7CT1hHFnmh5cBTwM694IMb1mlwEZm6HnDZf_PsYIj_bss1admuaOF59GAZBFG0svK/s400/IMG_1262.JPG" width="400" /></a></div>
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<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: verdana; font-size: 100%;">O tilintar do relógio ecoa por toda a casa. Percebo seu eco entre os cômodos escuros. A luz entra pela janela enquanto minhas pupilas, antes dilatadas, contraem-se vagarosamente perante a luz. Sinto uma pequena brisa vindo da janela acompanhada com o som da noite. Cachorros latem! Carros percorrem as ruas! Gatos passeiam pelos telhados, calçadas e folhagens de algumas árvores. No fim formava-se o “meu mundo noturno”, onde eu era o único protagonista e sobrevivente.</span></div>
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Sim! Gosto do silêncio da noite, mas nunca sinto medo.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Quando crescemos aprendemos no cotidiano através da sociedade que nos envolve e tenta nos moldar à sua maneira que tudo o que se encontra no escuro é sombrio e assustador. Nos fazem imaginar coisas.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Vemos uma casa velha e abandonada, acreditando que eu seu interior, cheio de histórias de vidas passadas, possam nos amedrontar. Curiosamente, desafiando o perigo em nossas mentes, avançamos e tentamos compreender os mistérios da escuridão.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Cada escada, cada espaço vazio, cada parede e qualquer luz nos chama a atenção para o mais íntimo pensamento encontrado dentro de nós mesmos, através de nosso subconsciente. Enquanto isso, madeiras rangem. Sapatos ecoam e os grilos cantam. A melodia da noite está em sua natureza e nós nunca prestamos atenção nela, mas sim no nosso íntimo através do nosso ego. Somos egoístas e medrosos.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">De repente sentimos o cheiro do mofo nas paredes e o reflexo de teias de aranha no teto. A mão transpira. O coração dispara. Mesmo assim, nada é capaz de matar nossa curiosidade a não ser que encontremos o que não existe nesse mundo, mas sim o que está em nossa própria mente.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Cadáveres, morcegos, ossos, almas de outro mundo... Por quê somos tão masoquistas e insistimos sempre em culpar a beleza da noite com nossos próprios delírios e neuroses? Será que Deus criou a escuridão para beneficiar o Demônio ou para fortalecer os homens a continuar sua luta contra o mal de todos os dias, criado por nós mesmos, e que nunca queremos reconhecer ser nossa culpa tudo o que sofremos?</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">É tão fácil culpar Deus.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">É tão fácil ver o Demônio aonde ele não existe que às vezes fica difícil e até impossível reconhecermos que “ele”, muitas vezes, somos nós mesmos, maltratando nossos semelhantes, julgando, apontando, gritando, empurrando, rejeitando, ofendendo e encontrando defeitos que não existem, mas que apenas nos diferem devido às nossas próprias criações e neuroses.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">A cabeça ecoa palavras, imagens, luzes, sombras, gestos e sinais incompreensíveis à nossa vida humana e pequena. O suor gélido desce pela face. Nossos olhos se fecham perante o medo. Medo de morrer, talvez ou, simplesmente, medo de enfrentar a vida e reconhecermos que o único mal que se encontra na escuridão está dentro de nós mesmos.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Um gatinho mia. Acho uma vida e acalmo meu coração. Agora percebo como a escuridão é bela. Como somos tolos em culpar Deus por tudo.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">O Demônio pode ser esperto, mas nunca irá abafar a superioridade do criador de tudo e de todos nós. Nunca conseguirá abalar sua bondade e capacidade de perdão, pois aquele que tudo pode consegue nos dar a luz e a paz. Paz até no mais íntimo e obscuro momento de nossa vida, pois sabemos que daqui nada levaremos de terreno a não ser as “boas obras”.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Acaricio o felino com ternura e levo-o para casa com todo meu amor, escrevendo mais uma linha de minha história no “Livro da Vida”.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Levanto-me e vou embora para, talvez, nunca mais voltar, mas com a certeza de que a beleza da noite nunca será abalada por pensamentos mórbidos e pequenos, e sim pela certeza de que a vida existe e pode ser bela... até mesmo na escuridão.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">O relógio tilinta, ecoando pela casa.</span></span><br />
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<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Finalmente encontrei a paz.</span></span><br />
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<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Fernando Magaldi</span></span><br />
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Data original do texto: 15 de maio de 2005</span></span><br />
<span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: verdana;">Data de hoje: 07 de outubro de 2007</span></span></div>
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