Algumas semanas se passaram.
Cristiane se recuperou, mas as lembranças permaneceram. Tinha medo do que
pudesse acontecer ao entrar na nova casa. E por mais que tenha tentado alertar
seus pais, sabia que eles nunca acreditariam no tal “moço do vento”.
Cometeu-se, então, o segundo
erro.
Jonas e Carla estavam ansiosos
e não viam a hora de habitar o novo imóvel da família, no qual gozariam das
merecidas férias. Afinal, tudo era novidade. Mas para a menina apenas mais um
tormento se iniciava.
Próximo do casarão, Cristiane
arrepiou-se ao ver pelo vidro do carro a mansão e toda sua extensão. Lembrou-se
das palavras do espectro e começou a imaginar as cenas horríveis que
aconteceram naquele lugar. Sangue, dor, sofrimento e morte habitavam seus mais
recentes pesadelos. E, por mais que fechasse os olhos, eles continuavam lá,
atormentando-a. Foi aí que percebeu que a única saída era conviver com aquilo.
O carro parou diante da
escadaria que dava em direção ao casarão. Estava cedo e Jonas ansioso. Então,
todos saíram do carro e observaram a mansão. Porém, Cristiane não podia dizer o
mesmo, pois tentava inutilmente desviar o olhar das almas atormentadas que,
agora, começavam a rodeá-la. Eram figuras horrendas que só ela podia ver.
Assustada, Cristiane abraça a
mãe com força.
Carla diz:
—Oh, que bom que você gostou,
querida! Sabia que ia mudar de ideia.
Enquanto Carla acreditava na
felicidade da filha, esta, por sua vez, continuava abraçando fortemente a mãe
com esperança de que aquelas figuras horríveis fossem embora. Mas parece que
não era isso que elas queriam, pois se aproximavam cada vez mais do rosto da
menina, com suas faces horrendas e tenebrosas.
Jonas pegou as malas e disse:
—Vamos, meninas, senão vai
ficar muito tarde e não aproveitaremos nosso primeiro dia de férias!
Nesse instante Cristiane pôde
ver as criaturas desaparecer lentamente, ao mesmo instante em que ouvia
longinquamente:
“—Ajude-nos, por favor!”
Olhou para todos os lados e
viu que, agora, estava rodeada apenas por seus pais. Não havia mais o que
temer. Em seguida os três entraram para a mansão.
Cometeu-se, então, o terceiro
erro.
As horas se passaram e a
família, após acomodar-se adequadamente, conversou por alguns minutos na sala
antes de saírem para visitar o imenso jardim.
—Estou tão feliz, querido!
—disse Carla sorridente.
—Eu também! Agora vamos nos
apressar antes que escureça.
Seguiram em direção à porta.
Quando Cristiane passou por ela sentiu um imenso calafrio, acompanhado de um
vento quente e sussurrante na nuca. Estava assustada e tudo era motivo de
desconfiança. Segurou fortemente as mãos dos pais e saiu.
Mesmo estando um pouco
abandonada a propriedade ainda tinha seus encantos. Um belo chafariz ao centro
rodeado por várias árvores frutíferas, alguns canteiros de flores e rosas,
bancos de pedra estrategicamente colocados embaixo de algumas árvores, um lago
artificial e um velho galpão onde se encontrava a maioria das ferramentas
utilizadas para a manutenção de toda a casa.
Já era possível ver o sol se
pôr, com sua cor amarelada e coberto por algumas nuvens. O vento soprava
lentamente enquanto o canto dos pássaros, grilos e cigarras anunciavam o
entardecer.
—Olha, querido, que lindo!
Nunca imaginei poder ver o sol assim!
—Com certeza veremos muitas
outras vezes, querida. Fico feliz por você e por nossa filha. Acho que as
coisas estão começando a se ajeitar, agora.
Enquanto os pais se deliciavam
com cada momento, Cristiane brincava com uma borboleta colorida e companheira
que insistia em permanecer sempre próxima dela.
Fim da parte 2 - Continua...
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